• Edição 178
  • 2 de julho de 2009

Saúde e Prevenção

Doença genética é responsável por complicações em cirurgias



Thiago Etchatz

No mundo, a cada 50 mil anestesias, é diagnosticado um caso de hipertermia maligna, doença provocada por mutações genéticas desencadeadas em reação a anestésicos. Ainda pouco conhecida e com elevada taxa de mortalidade, 75% dos casos, a doença genética possui significativa incidência, visto que somente no Brasil são realizadas 10 mil cirurgias com necessidade de anestesia diariamente.

Descoberta apenas em 1960, pelo médico Michel Denborough, até o final dos anos 70 ainda não havia tratamento para a hipertermia maligna. De acordo com Roberto Takashi Sudo, professor titular de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e pesquisador do Centro de Diagnóstico de Hipertermia Maligna da universidade, “é muito difícil prever que o indivíduo tenha a hipertermia maligna. Não há como diagnosticá-la apenas pelo exame físico”.

Os seus principais indicadores são a intensa rigidez muscular, o aumento de temperatura corporal e a instabilidade cardíaca. Geralmente, a suspeita é levantada pelos médicos quando o paciente apresenta tais sintomas ao ser submetido à anestesia. No entanto, os principais suspeitos são os que possuem casos de hipertermia maligna na família.

– Durante a anestesia os pacientes consomem grande quantidade de oxigênio e produzem bastante gás carbônico, é o hipermetabolismo respiratório. As células começam a ser destruídas pelo anestésico, a evolução é muito rápida. A temperatura do paciente sobe a uma velocidade de 1 grau a cada 5 minutos, podendo chegar a 44 graus antes de o paciente morrer – explica Roberto Sudo.

Diagnóstico

O Centro Diagnóstico de Hipertermia Maligna da UFRJ é referência nacional para o diagnóstico da doença. Desde fevereiro de 1993 o centro realizou 164 exames de hipertermia maligna, registrando em 54% dos casos a susceptibilidade à doença. Porém, o método do exame é desconfortável e caro.

– Para o diagnóstico o paciente é internado na véspera do exame. Ele é anestesiado sem as substâncias que desencadeiam a crise e é retirado um fragmento de 3 cm de comprimento por 2 cm de largura da região da coxa, para a biópsia. Depois o fragmento é trazido para o laboratório e dissecado em oito partes menores submetidas à contratura pelo halotano e cafeína – esclarece Roberto Sudo.

Tratamento

Para combater a hipertemia maligna, atualmente, há apenas uma substância com eficácia comprovada, o dantrolene sódico. Durante uma crise de hipertermia esse medicamento reduz de 75% para 8 ou 9% o índice de mortalidade. “O problema do dantrolene é a sua baixa solubilidade. É necessário grande volume de água para poder dissolvê-lo, e isso retarda o início do tratamento”, afirma o professor. O seu custo é elevado e dificulta o acesso de muitos hospitais ao medicamento.

Diante desse quadro, o Centro de Diagnóstico de Hipertermia Maligna da UFRJ trabalha, em parceria com a indústria farmacêutica, para produzir um novo medicamento com maior solubilidade. A base deste novo medicamento é o azumolene que é um equivalente ao dantrolene. Em fase avançada, a pesquisa – que testa a eficácia e potência da nova substância em animais, assim como, a segurança pré-clínica – está praticamente finalizada dentro da universidade. “Cabe à indústria realizar o estudo clínico, principalmente de segurança e farmocinética, para posteriormente submeter a nova substância a aprovação para registro”, esclarece o especialista.