• Edição 185
  • 20 de agosto de 2009

Microscópio

Paternidade se exerce a dois

Larissa Rangel – AgN/PV

Estudos e pesquisas mostram que os homens estão se tornando cada vez mais cientes quanto à necessidade de se participar da criação dos seus filhos. Quando confrontados com valores, tanto homens como mulheres se mostram favoráveis à inserção feminina no mercado de trabalho e à divisão do serviço doméstico. No entanto, esses dados não são suficientes. As práticas continuam a ser antigas e as tarefas do lar ainda são concentradas nas esposas. Procurando discutir o assunto e mudar essa realidade, a Maternidade-Escola da UFRJ realiza, no dia 28 de agosto, o VI Fórum de Debates sobre Paternidade.

Marcus Renato de Carvalho, professor e pediatra da Maternidade e coordenador do evento, afirma que o objetivo é justamente colocar as questões da paternidade como uma Política Pública, possibilitando que esse tema seja objeto de estudo nas graduações de profissões da Saúde e da Educação.

A importância dos pais

O professor esclarece que esse projeto acontece desde 2002 e que as estatísticas são claras quanto à importância da participação paterna na vida de seus filhos. Segundo ele, garotas próximas à puberdade tornam-se sexualmente ativas mais cedo e são mais propensas a engravidar na adolescência caso seus pais sejam ausentes quando elas são mais jovens. Além disso, os filhos cujo pai é ausente exibem baixo poder de intimidade e de autoestima.

Cientistas vêm tentando explicar os motivos pelos quais as mães são mais ativas que os pais em suas famílias. A revista New Scientist publicou, recentemente, um estudo que sugere a relação entre níveis de hormônio e graus de afeição nos diferentes sexos. O nível de ocitocina seria o responsável por essa diferença. A pesquisa afirma, ainda, que esses níveis não seguem um padrão em homens e mulheres. Por isso, alguns pais são mais afetivos que outros e o mesmo pode acontecer com as mães.

Para Maria Luiza de Carvalho, psicóloga e professora-doutora da Maternidade, os motivos podem ser mais sociais e culturais. “As exigências sociais de que os homens sejam provedores principais dentro de casa fazem com que não privilegiem o tempo para os filhos. Muitos homens ainda se acomodam com o papel de dominadores dentro de casa e não se envolvem com os trabalhos domésticos, deixando para as mulheres a sobrecarga de cuidar dos filhos e trabalhar fora”, aponta.

Mais pais solteiros

Outro ponto a ser debatido no Fórum diz respeito à nova configuração das famílias de hoje. Há um número cada vez maior de pais separados e de consequentes pais solteiros. Maria Luiza desenvolveu, em 2006, uma pesquisa com o objetivo de conhecer a experiência de pais cuidadores, sem a presença das mães. Eles mostraram estilos diferentes ao conduzir a educação de seus filhos, não caracterizando uma forma masculina de cuidar – cumprindo também o papel de mãe em suas famílias. A psicóloga afirma ainda que “eles evidenciaram que a prática do cuidado facilitou seu exercício da afetividade, o aumento da sua autoestima e seu amadurecimento psicossocial”.

As Unidades de Saúde do município do Rio de Janeiro já pensam em algumas mudanças para garantir a maior participação dos pais desde a gestação de seus filhos. Os profissionais devem seguir estratégias simples, como incluir temas relacionados a eles nas atividades de grupo de pré-natal, aleitamento e pediatria; e até mesmo estimular a participação do pai no parto. “Todos precisam estar cientes de que o envolvimento dos homens com o cuidado dos filhos e de si mesmos é uma necessidade em nossa sociedade, para diminuirmos as vulnerabilidades das crianças, das mulheres e dos próprios homens”, defende a psicóloga.

O Fórum sobre Paternidade será realizado das 8h às 13h30, na própria Maternidade-Escola, localizada na rua das Laranjeiras, 180 – Laranjeiras. A programação do evento inclui palestras sobre a “Valorização social da paternidade” e “Paternidade após a separação”, além do lançamento da revista O Cuidador. Haverá, ainda, o Concurso de Fotografia sobre Paternidade na comunidade do morro Santa Marta.

Os interessados podem obter mais informações através do site www.aleitamento.com ou ligando para 2556-9747.