• Edição 188
  • 10 de setembro de 2009

Faces e Interfaces

A eficácia do pedômetro na promoção da atividade física

Especialistas opinam sobre o uso do aparelho, avaliação médica e acompanhamento para prática esportiva


Thiago Etchatz

O pedômetro é um aparelho digital portátil que, acoplado à vestimenta, durante a atividade física mede a quantidade de passos, o tempo de exercício, a distância percorrida, o batimento cardíaco e o consumo de calorias, podendo, até mesmo, possuir um dispositivo para reprodução de áudio. No último mês de julho, pesquisadores da University of Queensland Herston, da Austrália, publicaram o estudo “Efetividade das intervenções para promover a atividade física: um modelo de estudo”, que indicou o pedômetro como agente efetivo para promoção da atividade física. Entretanto, não se constatou a eficácia do uso do aparelho a longo prazo.

Para discutir a validade do uso do pedômetro e suas implicações, diante da importância da atividade física e da necessidade de avaliação médica e acompanhamento especializado, o Olhar Vital convidou Tiago Figueiredo, professor da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, e Edison Migowski, chefe da Unidade Coronariana do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

Tiago Figueiredo

Professor da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ

“O pedômetro é eficiente para estimular a atividade física, principalmente para indivíduos sedentários, para programas aplicados em grandes populações e em programas de qualidade de vida nas empresas. Muitas empresas estimulam seus funcionários a saírem do sedentarismo, completando apenas mil passos diários. Parece pouco, mas o pedômetro permite o estímulo e controle da atividade física em grandes grupos, o que posteriormente pode levar essas pessoas a permanecerem ativas fisicamente e aumentarem gradativamente a quantidade de atividade realizada semanalmente.

O equipamento pode ser utilizado para quantificar a atividade física diária ou semanal; assim o indivíduo pode controlar a distância percorrida e adequá-la gradativamente ao seu condicionamento físico, principalmente no controle de programas que envolvem a caminhada e a corrida.

O controle da frequência cardíaca pode ser um bom instrumento de controle da intensidade do exercício, mas é importante que o indivíduo tenha o acompanhamento de um profissional de Educação Física para que possa fazer uma atividade adequada ao seu nível de condicionamento. O dispositivo de áudio pode ser utilizado para tornar a caminhada ou a corrida mais lúdica e prazerosa.

Não acredito que o pedômetro seja utilizado para substituir o profissional. Pelo contrário, ele serve de instrumento para ajudar o profissional e o praticante de exercício físico, principalmente os iniciantes. As pessoas devem procurar um médico e realizar uma avaliação física com profissional especializado para que a escolha da atividade esteja de acordo com as suas necessidades e objetivos.”

Edison Migowski

Chefe da Unidade Coronariana do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

“O pedômetro é um aparelho que mede a quantidade de passos de um indivíduo em um determinado tempo. O gasto calórico e a distância percorrida são inferidos a partir dessa informação associada à medida da frequência cardíaca. Fica, portanto, mais fácil seguir programas de condicionamento com exercícios progressivos, realizados durante tarefas cotidianas, sem a necessidade de dispensar uma hora específica para esse fim.

Em geral, não existe a obrigatoriedade de uma avaliação médica irrestrita previamente ao início da prática de exercícios físicos.

Se um indivíduo assintomático, sem história familiar de doença cardiovascular, não possui problema de saúde reconhecido, seja de natureza pulmonar, cardiológica ou ortopédica, estaria autorizado a iniciar exercícios corriqueiros sem a necessidade de liberação médica.

Recomenda-se sempre a caminhada, por ser um exercício barato que não exige acessórios ou equipamentos especiais, exceto roupas e calçados adequados. Quinze a trinta minutos de caminhada diariamente já seriam suficientes para reduzir complicações cardiovasculares.

A avaliação médica estaria reservada, portanto, para aqueles pacientes portadores de doença pulmonar, cardíaca ou ortopédica reconhecida, ou com sintomas possivelmente relacionados a tais doenças, como dor no peito, falta de ar, dor ou inchaço articular. Homens com mais de 45 anos e mulheres com mais de 55 anos, pela maior probabilidade de doença cardiovascular, deveriam também passar por uma avaliação mais criteriosa.

O exercício físico apresenta resultados bem documentados em vários órgãos. Reduz a ocorrência de osteoporose, principalmente em mulheres pós-menopausa; diminui o peso, com reflexos na redução de gorduras e glicose sanguínea; melhora a circulação sanguínea, diminuindo o aparecimento de varizes; além de reduzir a pressão arterial, diminuindo sensivelmente a ocorrência de eventos cardiovasculares, como infarto e derrame cerebral.

Ao facilitar a prática de exercícios, poderíamos então atingir um maior número de pessoas, democratizando as vantagens do exercício. Imagino que o uso desse aparelho seria benéfico, pois iria monitorar a quantidade de exercício realizada pelo paciente diariamente. Entretanto, considero que precisamos adotar medidas que alcancem o maior número possível de pacientes, e este aparelho poderia dificultar a democratização da atividade física.”