• Edição 195
  • 29 de outubro de 2009

Teses

Filhos de negras com brancos

Estudo revela o perfil genético do carioca e do paulistano

Thiago Etchatz

Caroline Assumpção Corrêa Lage, aluna do Programa de Pós-graduação em Biofísica do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) da UFRJ, defende a tese de doutorado “Contribuição europeia, ameríndia e africana na formação de linhagem materna e paterna dos grupos étnicos branco, amarelo, mulato e negro das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro”. Na tese ela aponta que a população carioca e paulistana é formada, preponderantemente, por descendetes de pais brancos e mães negras. A defesa acontece nesta sexta-feira, 30 de outubro, às 9h, na sala G1-022 do bloco G, no 1º andar do Centro de Ciências da Saúde, na Cidade Universitária.

De acordo com a doutoranda, em todo o mundo realizam-se diversos estudos utilizando marcadores moleculares para identificar associações genéticas entre populações humanas. E a população brasileira constitui uma das mais heterogêneas, formada por casamentos interétnicos, principalmente, entre brancos, negros e índios.

O estudo, sob orientação da professora do IBCCF Rosane Silva e do professor do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ Rodrigo Neto, teve por objetivo entender a extensão da contribuição da linhagem materna e paterna de europeus, africanos e nativos americanos para o material genético de grupos étnicos brasileiros. Para tal, foram utilizados marcadores do cromossomo Y e da região HVI do DNA mitocondrial, como o Short Tandem Repeats (STR).

Serviram de base para a pesquisa indivíduos não relacionados nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Na primeira, foram analisados 67 indivíduos de etnia amarela e a maioria dos grupos de genes alelos (haplogrupos) mitocondriais encontrados foram asiáticos, 90%. Os valores calculados demonstraram que tal grupo étnico apresenta grande contribuição genética de origem chinesa, japonesa e taiwanesa, apesar de quatro gerações desde a imigração asiática.

A pesquisadora ainda analisou a região HVI do DNA mitocondrial de 72 indivíduos da capital paulista, das etnias branca, mulata e negra e de 81 mulatos do Rio de janeiro. Os resultados evidenciam contribuições crescentes de grupos de genes alelos mitocondriais africanos, sendo de 33% para etnia branca, 53% para os mulatos e 69% para os negros de São Paulo, além de 66% para a etnia mulata do Rio.

Já a contribuição destes genes mitocondriais de origem nativa americana foi semelhante para os três grupos étnicos: 20% para brancos, 18% para mulatos e 28% para negros de São Paulo, além de 26% para os mulatos da antiga Guanabara.

O estudo das linhagens paternas indicou a contribuição europeia para 74,8% dos mulatos cariocas e, em relação aos paulistas, tal contribuição foi constatada em 61,2% dos negros, 69% dos mulatos e 82,6% dos brancos. Também se notou a contribuição da linhagem paterna de judeus e árabes, respectivamente, de 14 a 22% e 6 a 18% entre os pesquisados.

Os resultados vão ao encontro do processo de colonização do país. Primordialmente, constatou-se o predomínio da linhagem paterna de europeus e, exceto na etnia branca, a linhagem materna de africanas também foi preponderante entre os 220 indivíduos estudados. Assim, se conclui que a população carioca e paulista é composta em sua maioria por descendentes de pais brancos e mães negras.