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Edição 073
22 de março de 2007
O Centro de Atenção e Reabilitação à Infância e Mocidade (CARIM) promoveu no dia 16 de março uma palestra sobre a Abordagem Clínica de Crianças com Transtornos Mentais Graves.
As palestrantes Maria Ester Delgado Leite e Natalia Armony, coordenadoras do CARIM, fizeram um pequeno recorte do que acontece no centro, uma das unidades do Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ.
Na maioria dos casos, a partir dos dois anos de idade, dificuldades de linguagem e preferência da criança por ficar sozinha são diagnosticados como autismo e elas são encaminhadas para o CARIM para tratamento.
Nesse caso, há necessidade de que o profissional seja muito cuidadoso ao dar a notícia do diagnóstico. Muitas famílias têm dificuldade de aceitá-lo, outras tomam a doença como crônica e procuram tratamento em mais de uma instituição, sem nem levar em conta que às vezes elas seguem diferentes teorias.
No IPUB, a clínica busca a reabilitação dessas crianças à linguagem. Também procura a readaptação do acesso da família à criança, e mantém diálogo permanente com a escola ou outros profissionais que a atendam, numa tentativa de romper o modelo de tratamento asilar para a clientela infanto-juvenil psicótica.
Maria Ester conta que, no início, o atendimento não era coordenado. A proposta era estar em contato com a família e a criança, utilizando o espaço aberto e material lúdico. As crianças eram acompanhadas, mas só se conversava sobre elas nas reuniões. Sem grandes pressões, os limites impostos pelos profissionais ao corpo e os provocados pelo próprio espaço surtiram mudanças gradativas.
Com o avanço do tratamento foi feita a proposta de que os pais passassem a esperar numa sala separada das crianças, processo que doloroso, principalmente para as mães, que muitas vezes não resistiam e corriam para perto dos filhos.
O primeiro grupo já entrava na puberdade e as freqüências começaram a rarear. Foi trabalhada com os pais a necessidade da manutenção do tratamento e depois de um período de férias, apesar de ter-se percebido um maior relacionamento entre as crianças, o tratamento coletivo foi suspenso e foram tomadas diferentes direções para cada indivíduo. Passado algum tempo notou-se que, quando rompidos os alicerces do dispositivo antigo: horário, espaço e proposta; o tratamento não funcionava.
Um espaço favorável é condição principal para a evolução. Se para a criança autista o outro é invasivo, o ambiente coletivo proporciona a possibilidade de aproximação e afastamento. Essa lógica também vale para o profissional, que deve saber quando investir num contato e quando parar.
Atualmente o tratamento está voltando a ser como antes, mas agora de casa nova, no subsolo do Instituto de Psiquiatria, que fica no campus da Praia Vermelha.