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Edição 181
23 de julho de 2009

Microscópio

Biociências para surdos

Thiago Etchatz

“Se eu não conseguisse ouvir ou entender explicações, a maneira mais fácil de aprender seria fazendo e vendo as coisas acontecerem à minha frente”, diz Vivian Rumjanek, professora titular do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ (IBqM). Em parceria com o Instituto Nacional de Educação para Surdos (INES), o Laboratório de Imunologia Tumoral do IBqM, coordenado pela professora Vivian, realiza a partir do dia 3 de agosto o primeiro curso de extensão em Biociências para Surdos a partir de um método completamente experimental.

Durante um ano, diariamente sete alunos que cursam o ensino médio no INES aprenderão biociências por uma metodologia pioneira até para alunos ouvintes. “Eles vão aprender sem palestras. Um experimento leva ao outro, e assim vão descobrindo os seus próprios questionamentos”, conta Vivian Rumjanek. A meta do IBqM é a partir dessa primeira experiência transformar o curso de extensão em um curso profissionalizante de nível médio que forme técnicos capacitados para atuarem nos laboratórios da universidade.

“O meu sonho é vê-los (os surdos) entrando na UFRJ. Estamos fazendo uma série de ações visando incluí-los na universidade. Falo de surdos profundos, eles leem lábios, mas não falam e precisam de atenção especial para aprender a língua escrita. Realmente estão excluídos do processo educacional. Então, a ideia é interessá-los pela ciência através de experimentos, com eles produzindo questionamentos”, esclarece a professora Vivian.

O projeto é inspirado nos cursos de férias para professores e alunos do ensino médio, organizado pelo professor emérito do IBqM Leopoldo de Méis, que busca despertar o interesse pela ciência através de atividades práticas. Professores e alunos da pós-graduação do IBqM auxiliam estudantes do ensino médio em experimentos desenvolvidos nos laboratórios da universidade.

Desde 2005, Vivian Rumjanek coordena cursos experimentais em biociências para surdos que seguem esse modelo e conta com a participação de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Com duração de uma semana, eles acontecem em maio e novembro. Em sete edições houve mais de 120 participantes e oito se tornaram estagiários dos laboratórios de pesquisa do IBqM.

“Essa experiência me levou a perceber que eles se interessam, gostam, aprendem e estão excluídos. Dentro da graduação eu penso que nós devemos mudar o sistema de ensino para atendê-los. E a maneira de mudar é tendo eles aqui para sabermos como reagir. O que eles querem e precisam? Mas esse é um processo longo, ainda vai levar algum tempo”, analisa Vivian.

A barreira da língua

Uma das maiores dificuldades encontradas para a inclusão dos deficientes auditivos no processo educacional é a troca de informações. De acordo com a pesquisadora do IBqM, “eles possuem poucas maneiras de adquirir informação através de conversas, televisão, meios de comunicação em geral e também não leem fluentemente. Estão excluídos do processo formal e informal de conhecimento”.

Em relação ao meio técnico-científico, a barreira da linguagem é ainda maior. “Nós (professores e monitores do IBqM) aprendemos superficialmente LIBRAS, mas os alunos chegaram aos laboratórios e não havia como nos comunicarmos. Os sinais que representam aspectos da ciência eram quase inexistentes na linguagem de sinais. Então eles começaram a criá-los e com isso fizemos um glossário de termos científicos que será divulgado por todo o Brasil”, afirma Rumjanek.

Abertura do curso e inauguração do laboratório

No dia 29 de julho acontece a cerimônia de abertura do curso de extensão em Biociências para Surdos no auditório Leopoldo de Meis, no Centro de Ciências da Saúde, Cidade Universitária. Das 9h às 15h15 a professora Vivian Rumjanek e colaboradores do curso ministram palestras sobre a inclusão social dos deficientes auditivos e apresentam o projeto do IBqM.

Às 12h15 ocorre a inauguração do Laboratório Didático de Ciências para Surdos (LaDiCS), localizado no 1º andar do bloco B do Centro de Ciências da Saúde, que abrigará a partir do dia 3 de agosto os sete participantes do curso. Também participam do evento a pró-reitora de extensão da UFRJ, Laura Tavares Ribeiro Soares, a diretora do IBqM, Débora Foguel, o diretor do Ines, Marcelo Ferreira De Vasconcelos Cavalcanti, e o vice-presidente da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), Paulo André Martins de Bulhões.

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