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Edição 198
19 de novembro de 2009

Por uma boa causa

Ministério da Saúde autoriza transplantes de intestino no país



Em fase experimental, primeiras cirurgias estão previstas para o início de 2010


Thiago Etchatz

Há duas semanas, a série Por uma boa causa sobre transplantes de órgãos teve início repercutindo o anúncio do investimento recorde de R$ 24,1 milhões pelo Ministério da Saúde para o incentivo de transplantes no país em 2009 e em 2010. Nesta edição, como consequência da política de valorização dos transplantes na saúde pública, destacamos a inédita medida do ministério de autorizar a realização de transplantes de intestino no Brasil, anunciada na última semana.

Atualmente, o procedimento não é realizado no país, nem mesmo na rede particular, devido ao alto valor e à complexidade. Nos EUA, a cirurgia é feita desde 2000 e o custo é de R$ 200 mil. De acordo com o Ministério da Saúde, o transplante de intestino custará aproximadamente R$ 150 mil, três vezes o valor do procedimento para fígado, que é, até então, o procedimento mais delicado. Essa quantia será financiada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a realização dos transplantes ocorrerá em centros especializados.

O intestino é responsável pela absorção, transporte e digestão de nutrientes. De acordo com o doutor Antônio José Carneiro, médico gastroenterologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), a perda das funções do órgão se dá por malformações congênitas, doenças que impedem a absorção de nutrientes pelo intestino, problemas circulatórios, câncer ou mesmo traumas e torções. O doutor ainda alerta que o estresse pode causar danos ao bom funcionamento do órgão. Assim, a única alternativa é a alimentação por meio de soluções de nutrientes injetados pelas veias, a nutrição parenteral.

O transplante resolveria o problema, inserindo novamente o paciente ao convívio social. No mundo, a literatura médica aponta que a necessidade do transplante intestinal é rara, tendo em vista o índice de um a três pacientes por milhão de habitantes a cada ano. Desses, 70% são crianças, que possuem maior dificuldade em encontrar doadores compatíveis em razão do tamanho do órgão.

Nos últimos anos, os medicamentos contra a rejeição do novo intestino evoluíram, assim como as técnicas de cirurgia. Especialistas estimam em 75% a taxa de sobrevida dos pacientes após um ano de cirurgia, considerando o universo de 500 transplantados em centros de referência mundial. Os resultados são equivalentes aos de transplante de pulmão. Em caso de complicações, o órgão pode ser retirado e o paciente retornará à nutrição parenteral.

Rosane Nothen, coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), afirmou que o transplante de intestino será implantado inicialmente em caráter experimental e as primeiras cirurgias devem acontecer no início de 2010. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo deve abrigar o projeto-piloto. O Ministério da Saúde ainda promete criar uma rede para atender às pessoas com problemas nas funções intestinais.

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