Nos jogos Pan-americanos, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) larga na frente com o Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec) do Instituto de Química (IQ/UFRJ). Credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o Ladetec realiza os exames antidoping nos atletas do Pan Rio 2007, em julho.
Os exames são realizados nas instalações do Laboratório de Controle de Dopagem (LAB DOP/Ladetec) da UFRJ, o único do Brasil e o primeiro da América Latina a ser credenciado pelo COI. Sob tal responsabilidade, com o trabalho de funcionários, pesquisadores, técnicos e alunos de pós-graduação e de iniciação científica, o LAB DOP/Ladetec, fundado em 1989, já atendeu mais de quarenta Federações/Confederações esportivas, dando vistas à competência da universidade, que oferece um produto de qualidade e exclusivo.
O doping como prática esportiva
O conceito de doping
sempre esteve presente na vida do homem - na tentativa de aumentar seu rendimento
no trabalho e na guerra. Os povos andinos, por exemplo, utilizavam, para
tais fins, folhas de coca, cuja mastigação
evitava a sensação de fome, sede e fadiga. No entanto,
esta prática torna-se ilícita quando passa a fazer parte da
rotina de esportistas.
Devido a seu papel importante na sociedade - mais ainda quando passou de simples entretenimento à possibilidade de geração de recursos - o nível de exigência nas competições de esporte tornam-se cada vez maiores. Os atletas, então, começaram a usar substâncias naturais ou sintéticas em busca de melhor desempenho físico. O uso dessas substâncias antes de competições é conhecido como dopagem (doping).
As substâncias mais utilizadas para fins de doping são estimulantes, para aumentar o alerta e reduzir a fadiga; analgésicos narcóticos, para aliviar as dores; betabloqueadores, para reduzir os tremores na mão causados pelo stress; diuréticos, para redução de peso; entre outros. Porém, a moda entre os esportistas é recorrer aos esteróides anabolizantes, que aumentam a massa muscular e a agressividade, potencializando o desempenho.
No entanto, além dos efeitos desejados nas competições,
estes tipos de substâncias também podem prejudicar a integridade
física dos usuários. “As drogas estimulantes trazem como
efeitos colaterais o aumento da pressão arterial, dores de cabeça
e ansiedade, entre outros sintomas. Quanto aos anabolizantes, ao mesmo passo
em que eles aumentam a massa muscular e a agressividade, também aumentam
os riscos de infarto, acidente vascular cerebral, embolia pulmonar, psicose
e depressão”, afirma Francisco Radler Aquino Neto, coordenador
do Ladetec.
O primeiro registro de morte de atletas por doping, ocorreu em 1886, no ciclismo,
através do uso intensivo de speed balls, uma mistura de cocaína
com heroína. Por não corresponder à ética esportiva
e por prejudicar a moral e a saúde dos usuários de doping,
a prática foi proibida em 1967, quando o Comitê Olímpico
Internacional estabeleceu o controle de dopagem.
O exame
O exame para detecção de doping começa pela coleta
de material, que, em geral, trata-se da urina. De acordo com o professor
Radler, este fluido é o mais indicado para se realizar o exame antidoping,
porque concentra todas as moléculas representativas de todas as substâncias
presentes no organismo, sendo “um repositório daquilo
que a pessoa tomou. O sangue, ao contrário, retrai as moléculas
que estão circulando; porém, ele não as concentra”.
Os atletas selecionados para o exame são convocados, logo ao final das competições. No caso de esportes individuais, os vencedores de medalhas ou recordistas são submetidos aos testes, podendo haver mais convocados, por meio de sorteio. Em esportes individuais, em geral, são convocados dois membros de cada equipe aleatoriamente. Uma vez notificados, eles deverão comparecer ao local de realização do exame, em uma hora no máximo. A coleta é feita individualmente, pelo próprio esportista, na presença de um observador, para garantir a qualidade e coibir fraudes.
Os limites
Existem drogas terapêuticas – muitas vezes essenciais à saúde
do atleta - que produzem um efeito colateral estimulante, como os antiasmáticos,
por exemplo, de efeito anabolizante. Na mesma linha, há substâncias
proibidas em competições esportivas que têm efeito terapêutico; é o
caso dos anabolizantes, usados no tratamento da anemia. O atleta pode ter
a necessidade de ingerir essas drogas antes dos jogos ou rotineiramente.
Nisto consiste uma dificuldade para os parâmetros de avaliação:
como estabelecer o limite entre o que caracteriza ou não o doping?
Para solucionar tal questão, além das substâncias oficialmente proibidas, o COI também atua no controle de drogas terapêuticas que possam comprometer o avaliado, através de limitações das taxas de concentração no corpo, ou então através da exigência de formas de ingestão pré-determinadas. “Algumas substâncias são permitidas até um certo nível de concentração. Para outras, como os corticóides, dita-se o uso inalável, por exemplo. Ainda há a possibilidade de o atleta fazer uso de drogas proibidas, desde que ele apresente evidências médicas de que o uso da substância é indispensável”, esclarece Radler.