• Edição 121
  • 10 de abril de 2008

Argumento

Empresa de cosméticos adquire tecnologia da UFRJ

Priscila Biancovilli

A pena de galinha, resíduo industrial de baixo aproveitamento na indústria avícola, transformou-se recentemente em matéria-prima nobre para a produção de cosméticos, conforme pesquisa publicada no Olhar Vital, edição nº 120.  No último dia 9 de abril, a empresa Barilon Cosméticos, em parceria com a Serraria União, ambas em São Paulo, adquiriram a licença para exploração de uma substância altamente aproveitável sob diversos aspectos, o hidrolisado de queratina. “Este é o primeiro licenciamento com exclusividade da UFRJ, desde o surgimento da Lei de Inovação, em 2005. A licença, precedida por um edital público para contratação de empresa, permite que a indústria tenha total liberdade para utilização desta tecnologia com exclusividade, por quatro anos”, explica Rogério Filgueiras, coordenador adjunto da Agência UFRJ de Inovação.

Tecnologia

O hidrolisado é matéria para a produção de diversos cosméticos, como cremes, xampus para cabelo e produtos para as unhas, entre outros. A vantagem deste produto está na sua cor (mais clara, em contraste com os que existem atualmente no mercado, de cor escura), o preço da matéria-prima (as penas de galinha muitas vezes podem ser adquiridas sem nenhum custo) e o processo de obtenção. A fabricação atual utiliza uma série de produtos químicos, enquanto esta queratina é sintetizada de forma biológica, enzimática. “Vamos montar uma indústria apenas para a produção destes hidrolisados. Este material será produzido em larga escala e servirá também para outras indústrias”, afirma Izabel Faidiga, proprietária da Barilon Cosméticos. “Na região próxima à minha indústria (Bariri, interior de São Paulo), já conseguimos diversos fornecedores de penas. Estamos no meio de um pólo avícola, uma das principais fontes de subsistência da região”, continua.

As indústrias avícolas sempre sofreram com o problema das penas. Alguns produtos já são fabricados a partir deste material, como por exemplo uma farinha que serve de alimento para as próprias aves. “Entretanto, este material não possui nenhum valor nutritivo significante, pois a queratina é muito difícil de ser digerida. Basicamente, este processo é feito para reciclar as penas, porque se considerarmos os termos nutricionais podemos ver que a contribuição é pequena”, esclarece Alane Vermelho, professora do Laboratório de Proteases de Microrganismos e uma das desenvolvedoras do hidrolisado.

- Estamos investindo alto nesta produção. Apesar de o custo da matéria-prima ser baixo, a queratina não é obtida em um processo simples e barato. Neste primeiro momento, está em prática a elaboração do projeto-piloto. Em aproximadamente dois anos, esperamos já ter começado a comercializar os produtos da queratina de pena em larga escala -, comemora Izabel. Lida-se, de certo modo, com um investimento de risco, mas se tudo der certo, o país ganha em tecnologia e competitividade. Não existirá outro produto semelhante no mercado mundial.

Izabel afirma que a criação de novos produtos e cosméticos não pode parar. “Do hidrolisado, já estamos partindo para a pesquisa de novos produtos que derivem da pena, como por exemplo as proteases.” Para quebrar a queratina da pena em pequenos pedaços (peptídeos), os microrganismos produzem uma enzima, que no caso é a queratinase. Após realizar seu “trabalho”, esta substância pode ser reaproveitada para outros fins. Os japoneses, por exemplo, lançaram recentemente um peeling dermatológico feito com este material.

- Os peptídeos da queratina serão utilizados para a produção de cosméticos pela nossa indústria, mas também venderemos este insumo para outras fábricas. Muitos já estão interessados -, comemora a empresária.