• Edição 150
  • 30 de outubro de 2008

Por uma boa causa

Saúde e alimentação andam juntas

Luana Freitas

Considerada um mal da vida moderna e, ao mesmo tempo, uma doença silenciosa, a hipertensão arterial, mais conhecida como “pressão alta”, mata 300 mil brasileiros a cada ano, segundo dados da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH). Para o tratamento de pacientes hipertensos, especialistas norte-americanos elaboraram um plano alimentar capaz de diminuir a pressão arterial e reduzir, assim, o risco de problemas de saúde mais sérios – a chamada dieta DASH, que encerra a série de reportagens “Dietas terapêuticas e preventivas” do mês de outubro.

A dieta empregada no combate à hipertensão surgiu a partir do estudo Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH), desenvolvido por centros universitários norte-americanos e financiado pelo National Institutes of Health (NIH). Para avaliar as implicações alimentares sobre a pressão arterial, indivíduos adultos com pressão sistólica menor do que 160 mmHg e pressão diastólica entre 80 e 95 mmHg seguiram, durante três semanas, um cardápio próprio e baseado nos hábitos alimentares americanos.

Após esse período, os participantes foram submetidos, por oito meses, a mais dois outros tipos de dieta: uma abundante em frutas e vegetais e outra com baixo teor de gordura saturada, embora rica nesses alimentos. Os resultados da pesquisa revelaram que a última dieta seria a mais eficaz na redução da pressão arterial.

O que é hipertensão?

Com cerca de 60 a 100 batimentos por minuto, o coração é capaz de fazer circular, aproximadamente, cinco litros de sangue por todo o corpo humano. A força que o órgão exerce sobre as paredes das artérias para bombear o líquido é denominada pressão arterial. Esta é expressa pela medida da pressão sistólica, que corresponde ao momento em que o músculo cardíaco se contrai, e da pressão diastólica, quando há o seu relaxamento.

Indivíduos hipertensos apresentam os valores da pressão arterial maiores que 140 mmHg para a pressão sistólica e 90 mmHg para a diastólica, índices estipulados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como normais. A doença está entre as que mais matam no mundo, desenvolvendo-se, muitas vezes, sem manifestar sintomas aparentes – cerca de 70% das pessoas que sofrem de hipertensão desconhecem ter o problema.

O cardiologista Ronaldo Franklin de Miranda, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ, destaca que a pressão alta é causada por diversos fatores. “A hipertensão tem relação direta com o consumo de álcool, a ingestão de sódio (lembrando que muitos alimentos possuem sódio na forma de conservantes, como, por exemplo, os enlatados e embutidos), a obesidade e o estresse. Vale enfatizar ainda, como uma outra causa, a herança genética”, observa.

O médico alerta ainda que a doença costuma acarretar problemas de saúde mais sérios, prejudicando órgãos como o coração, o cérebro e os rins. “A hipertensão arterial tem maior risco de desenvolver lesão no coração, causando hipertrofia e dilatação e podendo levar a pessoa à insuficiência cardíaca; no cérebro, ocasionando o acidente vascular encefálico; e no rim, podendo causar insuficiência renal”, explica o cardiologista, que chama a atenção também para a maior chance de hipertensos portadores de diabetes mellitus (nome científico para elevação de açúcar no sangue) apresentarem lesão vascular.

Cuidados com a alimentação

Segundo Ronaldo Franklin de Miranda, a alimentação de pacientes hipertensos deve ser pobre em gorduras de origem animal e com pouca quantidade de sal. Além disso, um cardápio saudável, que ajude a prevenir a obesidade, também reduz o risco de pressão alta. No caso da dieta DASH, o cardápio é composto por frutas, legumes e outros vegetais e, alimentos de origem láctea, com pouca quantidade de gordura saturada. “A dieta DASH surgiu após um estudo propondo uma estratégia simples e eficaz para diminuir a obesidade. É, portanto, uma dieta eficaz no controle da hipertensão devido a pouca quantidade de sódio, além da possibilidade de diminuição de peso do indivíduo. O ensaio clínico que descreveu esta dieta demonstrou uma queda de 11,4 mmHg na pressão sistólica e de 5,5 mmHg na pressão diastólica”, afirma.

Além dos cuidados com a alimentação, o cardiologista recomenda ainda a prática regular de atividades físicas e a revisão médica periódica, já que é necessário o acompanhamento de um especialista para verificar se a pressão arterial está controlada e examinar como o indivíduo reage ao tratamento.