• Edição 150
  • 30 de outubro de 2008

Argumento

Brincadeiras ajudam no tratamento infantil

Sidney Coutinho

A partir do desafio de implantar um projeto lúdico para as crianças em tratamento no setor de onco-hematologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), da UFRJ, surgiu há quase três anos o projeto Brincante e a reboque, uma prancha de atividades de usos múltiplos: a bandeja brincante. Não à toa, os chineses adotam o mesmo ideograma para crise e oportunidade, pois em meio a várias restrições em relação ao espaço físico, condições sanitárias e de locomoção dos pacientes em tratamento, surgiu um objeto que atenua a angústia e o sofrimento de centenas de crianças.

Quase ao acaso, o projeto Brincante migrou para as salas de espera do Instituto, ambiente gerador de tensão para a criança, já que, em 2005, o espaço para tratamento era mínimo, mal cabiam médicos, enfermeiras e pacientes. “A bandeja surgiu de uma demanda minha. Como fazer a criança, que passa até quatro horas sem se locomover, brincar, expressar suas fantasias naquelas situações difíceis que ela vive?”, conta Ruth Helena Pinto Cohen, coordenadora do Brincante. A designer Aline Cohen, filha e hoje colaboradora do projeto, acolheu a proposta.

Muito se evoluiu das primeiras unidades em papelão, que serviram para testar a ergonomia dos equipamentos. Hoje, a prancheta amarela em forma de ameba, com porta-copo, uma lousa magnética e espaço para guardar jogos e materiais de desenho nem parece que teve inspiração em simples bandejas hospitalares. “Ela é composta em materiais facilmente higienizáveis, pois devido à baixa imunidade de alguns pacientes, o brinquedo não poderia ter pêlos, reter poeira ou acumular qualquer outra sujeira. Além disso, tem formas arredondadas que também proporcionam mais segurança”, explica Ruth Cohen.

Segundo ela, as enfermeiras costumam chamar o brinquedo de “bandeja calmante”, pois as crianças às vezes nem se dão conta de realizar procedimentos, como a colocação do cateter, de tão entretidas que estão. “As bandejas servem para qualquer lugar, vão ao chão das salas de espera, para as cadeiras ou para os leitos da enfermaria. As crianças desenham, fantasiam com as peças imantadas ou misturam tudo em uma composição. Mas gostam muito da presença dos adultos. Como o importante é o lado humano e nem sempre a enfermeira pode dar exclusividade aos pacientes, os oficineiros (alunos da Escola de Educação Física e Desportos que atuam no projeto) estão sempre presentes”, revela.

Outros hospitais

A aceitação da bandeja foi tamanha que o brinquedo, feito inicialmente apenas para as crianças do IPPMG, tomou as salas de outros hospitais. Dezenas delas encontram-se espalhadas pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), Hospital dos Servidores e Hemorio. Sua produção ainda é em pequena escala e sob encomenda. O custo de cada uma é de R$ 245,00, kit completo (hidrocor, apagador, lousa magnética e 40 peças imantadas), ou de R$ 266,00, com o acréscimo de dois jogos de tabuleiro (Trilha e Jogo dos Bichos), bom para participação dos acompanhantes. Mesmo útil para qualquer unidade pediátrica, a produção só cresce graças à ação de doadores.

Difícil determinar o número de crianças que já entraram em contato com a bandeja, devido à rotatividade dos ambulatórios, enfermarias e salas de espera. Mas pesquisas realizadas com pais e profissionais de saúde apontam de forma unânime os benefícios da bandeja brincante e do projeto em si.