• Edição 177
  • 25 de junho de 2009

Notícias da Semana

Colóquio traz Artes e Filosofia para o mundo da Ciência


Cília Monteiro

O Colóquio Escolas da Percepção, chancelado pelo Programa Avançado de Neurociências da UFRJ, aconteceu na última quarta (24/06), no auditório Hélio Fraga do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Entre os participantes do evento esteve Milton Machado, artista plástico, pesquisador e professor da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ.

Foi exibido o vídeo “Homem Muito Abrangente”, seguido de comentários de Milton. O trabalho está relacionado a uma exposição de mesmo título, realizada em 2005. “Trata-se de uma performance com dois atores principais: um atirador de facas de circo e um assistente, que sou eu mesmo. O vídeo, de nove minutos, é dirigido por Cacá Vicalvi, que documentou essa performance”, explica o artista.

Depois de ter feito o vídeo, Milton Machado participou em 2006 de um evento intitulado “Encontro entre amigos na casa de Mestre Jamelão”, na Escola Nacional de Circo. A partir do debate que aconteceu no encontro, em que foram colocadas questões sobre o corpo que é ocupado e por quê, o artista escreveu o texto “Este corpo é todo poros”. A platéia foi presentda com um exemplar do trabalho, lido pelo autor. “Para escrever esse texto, utilizei citações literárias”, observa Milton.

Também foi dada a definição do Homem Muito Abrangente: é tão abrangente que quase total, mas falta-lhe um quê de si mesmo. “Procura-se, mas sempre em vão. E no entanto, é sem volta. Sua perda é de origem, origem tão abrangente que nada nele é final. Como todo homem digno, tem algo de camaleão. Pode ser todas as coisas, fazendo tudo o que quer. Porém, lhe é vetada uma única ocupação: a própria. Sempre além dos limites, o Homem Muito Abrangente é o mais puro exterior”, concluiu.

Em seguida, Fernando Santoro, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, apresentou a palestra “Homeostesia e Enantiostesia: a percepção por símiles ou por contrários entre os pré-Socráticos”, na qual tratou da temática, citando passagens de diversos filósofos, como Empédocles, Demócrito, Heráclito e Anaxágoras.




O que o pediatra deve saber sobre ultrassonografia Obstétrica



Beatriz da Cruz

Jorge Luiz Pereira Barreto, Gineco-obstetra do ambulatório materno-infantil do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), ministrou na última terça-feira (23/06) a palestra “Ultrassonografia Obstétrica: o que o pediatra deve saber”. O evento fez parte de uma atividade do Centro de Estudos Professor José Martinho da Rocha e aconteceu no Anfiteatro Nobre do IPPMG.

O médico iniciou a palestra falando acerca das dificuldades no diagnóstico de problemas da gestação, como descolamento de placenta e gravidez abdominal, antes da utilização da ultrassonografia. Em seguida fez um breve relato histórico da utilização dessa tecnologia na obstetrícia desde o final dos anos 50 até os dias de hoje, com imagens ilustrativas dessa evolução.

— Mudou por completo o cuidado pré-natal e materno. Além disso, ainda permitiu aos pais a visualização do bebê e seu desenvolvimento e o conhecimento de como ele se comporta durante a vida intrauterina — apontou o professor. Por isso ele diz ser fundamental que o pediatra participe desse monitoramento, já que só ele vai poder informar como devem ser conduzidas gestações que apresentem patologias fetais.

Segundo Jorge Luiz, o primeiro caso registrado de ultrassonografia aplicada à obstetrícia foi em 1958. Em 1970 surge a ultrassonografia dinâmica, que permitiu a melhoria do diagnóstico por imagem, possível graças ao avanço da tecnologia biomédica. No Brasil a tecnologia chegou em 1974, na UFRJ. A imagem bidimensional surgiu no início dos anos 90 e, por fim, mais recentemente foi desenvolvida a ultrassonografia tridimensional.

— Com tudo isso foi criada uma nova subespecialidade chamada medicina fetal. Nós já temos, dentro do nosso departamento de obstetrícia, professores de medicina fetal. Algumas escolas médicas até pensam em separar a obstetrícia da medicina fetal — conta o gineco-obstetra.

Em seguida ele listou algumas aplicações obstétricas da ultrassonografia e suas finalidades. Citou a biometria, para avaliar o crescimento do feto, a morfologia, acompanhando os aspectos anatômicos e a frequência cardíaca fetal, possibilitando o diagnóstico de arritmias. O palestrante falou ainda dos focos de avaliação em cada trimestre da gravidez e das aplicações das variantes bidimensional e tridimensional da ultrassonografia.




Cerimônia abre o II Simpósio da Faculdade de Farmácia da UFRJ



Thiago Etchatz

Após os minicursos pré-simpósio realizados na manhã da terça-feira, 23 de junho, à tarde aconteceu a cerimônia de abertura do II Simpósio Interno de Ensino, Pesquisa e Extensão da Faculdade de Farmácia da UFRJ. No auditório Professor Rodolpho Paulo Rocco ainda foi apresentada a palestra “A profissão farmacêutica: missões e desafios” e o livro Seis décadas de trajetória da Faculdade de Farmácia, editado pela Coordenadoria de Comunicação da UFRJ (CoordCom).

A solenidade contou com a participação de Ângela Uller, pró-reitora de Pós-Graduação da UFRJ; Almir Fraga, decano do Centro de Ciências da Saúde (CCS); Carlos Rangel, diretor da Faculdade de Farmácia (FF); Hélio Mattos, prefeito da UFRJ; Gisela Dellamora, coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências Farmacológicas da Faculdade de Farmácia e presidente da comissão organizadora do simpósio; Dulcineia Abdalla, coordenadora da área de Farmácia na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); e Suely Galdino, coordenadora-adjunta da área da Farmácia na CAPES.

O início da cerimônia foi marcado pelo minuto de silêncio em homenagem ao professor Octávio Augusto Ceva Antunes, farmacêutico e professor titular do Instituto de Química da UFRJ, vítima do acidente aéreo do voo 447 da Air France, em 31 de maio. Em seu discurso, Gisela Dellamora afirmou que o professor Octávio – que viajara para um período de pesquisas colaborativas na área de fármacos antirretrovirais na Universidade francesa Cergy-Pontoise –estaria muito satisfeito com a continuidade do projeto da Faculdade de Farmácia, que resultou na realização da segunda edição do simpósio.

Foi de comum acordo, no discurso dos participantes da mesa de apresentação do simpósio, a importância do evento no que diz respeito à integração entre os três pilares fundamentais da universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão. A presidente da comissão organizadora, Gisela Dellamora, ressaltou que “o simpósio possui o intuito de divulgar o trabalho da Faculdade de Farmácia da UFRJ e do profissional farmacêutico”. O diretor da FF, Carlos Rangel, mencionou o pioneirismo da faculdade e seu papel em “consolidar as ciências farmacêuticas, uma área estratégica para o Brasil”, desempenhado pelo simpósio.

Hélio Mattos, prefeito da UFRJ, abordou a importância da “oxigenação salutar da Faculdade de Farmácia”, que desempenhará papel fundamental com o crescimento da universidade. Até 2020, de acordo com o Plano Diretor da UFRJ, a comunidade acadêmica crescerá de 65 para 150 mil pessoas e a Cidade Universitária abrigará 10 mil habitantes.

Palestra

Na sequência, Dulcineia Abdalla, coordenadora da área de Farmácia na CAPES, ministrou a palestra “A profissão farmacêutica: missões e desafios”. Foi traçado o panorama histórico da Farmácia no Brasil, desde quando era apenas uma disciplina da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, atual UFRJ, até a reforma curricular de 2002, na qual o curso de graduação em Farmácia passou de três anos e meio para cinco.

A palestrante abordou a importância da articulação entre as ciências médicas e químicas e comparou a formação do profissional de Farmácia no Brasil e nos principais centros mundiais. Concluindo a apresentação, ela expôs a situação do ensino no país, a partir de vasto apanhado estatístico.

Segundo Dulcineia, em 10 anos os cursos de graduação em Farmácia cresceram 1000%, porém esse crescimento não foi acompanhado pelos cursos de pós-graduação. Outra constatação foi a concentração dos centros de ensino e pesquisa na região sudeste.

Memorabilia

O livro Seis décadas de trajetória da Faculdade de Farmácia foi apresentado pela professora Suzana Leitão, da FF. A publicação, que faz parte do projeto Memorabilia, editado pela Coordenadoria de Comunicação da UFRJ (CoordCom), teve exemplares disponibilizados para os participantes do simpósio.

O projeto tem como objetivo fazer um registro histórico das diversas unidades da UFRJ, a partir de textos veiculados em eventos acadêmicos para a difusão do conhecimento científico, não só dentro da comunidade universitária, como para toda a sociedade.

Ao final da tarde, os participantes da abertura do evento foram brindados com a apresentação do coral composto por professores, funcionários e alunos do Instituto de Química da UFRJ e da Decania do Centro de Tecnologia da UFRJ. Em seguida, ocorreu o coquetel de encerramento do primeiro dia do II Simpósio Interno de Ensino, Pesquisa e Extensão da Faculdade de Farmácia da UFRJ.




Serviço de Psiquiatria Médica discute a adesão ao tratamento

Igor Costa

No dia 24 de junho, o Centro de Estudo Lúcia Spitz, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), promoveu uma palestra sobre o tema “Má Adesão: o que fazer quando o paciente não segue o tratamento?”. Durante o evento, foram discutidos os fatores que podem causar a má adesão ao tratamento e o que pode ser feito para que esse quadro seja revertido.

Problemas de Adesão na Diabetes

A primeira palestrante, Lenita Zajdenverg, professora-adjunta e pesquisadora em diabetes, começou sua apresentação falando que “existe tratamento eficaz contra a diabetes, mas que apesar disso dados apontam que em torno de 75% dos pacientes têm mau controle da doença”. Segundo Lenita, essa má adesão se daria por diversos fatores, entre eles a frustração por não haver cura para a doença e a necessidade de se privar de alguns alimentos que seriam agradáveis ao paciente, para melhor controlar o problema.

— Outro fator importante para a redução da adesão na diabetes é o fato de a diabetes não doer. O que dói é o tratamento, que priva de alimentos, faz o sujeito ter que abandonar o sedentarismo, ter que se autoaplicar medicação injetável. E como muitas vezes o paciente não sente nada, ele não vai valorizar o tratamento — observou a doutora Lenita.

O alto custo do tratamento também foi apontado como barreira para a adesão do paciente. “Se o paciente fizer uso de análogos de insulina e a automonitoria quatro vezes ao dia, que seria o ideal, o custo mensal do tratamento não sairia por menos de 726 reais”, comentou a palestrante.

Para Lenita Zajdenverg é importante fazer com que o paciente compreenda o tratamento, saiba reconhecer algumas complicações e que esse tratamento tenha custo acessível e seja confortável para a pessoa. “Eu acredito que se o paciente vem à consulta médica, mesmo que não tenha feito adesão ao tratamento, existe uma representação do desejo de se tratar. O médico teria que encontrar um lugar onde ele se encaixe nesse desejo. Reconhecer e acolher as limitações do paciente é o primeiro passo para combatê-las.”

AIDS e a visão dos pacientes

A segunda palestrante foi Gisela Cardoso, professora do Serviço de Psiquiatria. Segundo ela, a adesão ao tratamento de AIDS é importante, pois muda completamente a evolução da doença. Mas vários fatores podem influenciar essa adesão, como o momento do diagnóstico, a forma como a doença evolui, os efeitos adversos do tratamento e o relacionamento criado entre o paciente e o profissional.

A doutora Gisela apontou que alguns estudos apresentam dois fatores influentes na adesão: a baixa escolaridade e a falta de renda. “A escolaridade baixa implica uma dificuldade de entender o que o médico fala, de ler a receita médica. E a falta de renda mostra como o indivíduo está inserido de maneira muito precária na sociedade”, explicou.

Segundo a palestrante, em um estudo feito com os pacientes do HUCFF, incluindo aderentes e não-aderentes, foi visto que a representação que os pacientes têm da doença depende da adesão ou não ao tratamento. “Os aderentes diziam que no começo tinha sido uma coisa muito difícil de aceitar, mas que agora já estavam mais adaptados, principalmente por haver um tratamento. Os não-aderentes ficavam sob o impacto do diagnóstico da doença”, informou.

esse estudo ainda foram apontadas pelos pacientes algumas razões para a não-adesão. Entre elas figuram o medo da discriminação decorrente do tratamento, a mudança de hábitos e o desânimo em relação ao tratamento que não oferece uma cura para a doença. “O mais curioso é que mais da metade dos pacientes considerados aderentes revelou já ter parado com o tratamento em algum momento porque estava cansado, por conta dos efeitos colaterais da medicação ou para fazer um teste”, comentou Gisela.

Por fim, a doutora ainda comentou que a adesão ao tratamento não é linear. “Em algumas situações de vulnerabilidade, o paciente pode parar com o tratamento. Geralmente em situações de separação, de perda, de discriminação ou quando é necessário trocar o esquema de tratamento. Até mesmo a mudança de médico”, concluiu.