• Edição 183
  • 06 de agosto de 2009

Saúde e Prevenção

Não basta ser pai, tem que participar

Thiago Etchatz

Variações de apetite, ganho de peso, enjoo, dores nas costas, desmaios e desejo por alimentos exóticos em ocasiões inusitadas mostram que, para alguns homens, durante a gravidez das esposas não basta ser pai, tem que participar. O quadro é conhecido como Síndrome de Couvade e, de acordo com o doutor Alberto D’Auria, renomado ginecologista e obstetra de São Paulo, estudos recentes indicam que 54% dos homens desenvolvem também outros sintomas como insônia, indigestão, diarreia, prisão de ventre, alterações de humor e ansiedade, próprios das gestantes.

Na Grã-Bretanha, pesquisa com 1.250 futuros pais registrou que, em média, durante a gestação das parceiras os homens ganham cinco centímetros de cintura e engordam até seis quilos. Os participantes do estudo alegaram que tais mudanças ocorreram em solidariedade ao aumento de peso das mulheres. Entretanto, o desenvolvimento da síndrome pode trazer problemas ao relacionamento do casal.

“Ainda há poucos estudos sobre a experiência paterna, mas pode se dizer que os homens vivem com empolgação, alegria e orgulho o fato de se tornarem pais, pois a experiência costuma valorizá-los como homens. Alguns se sentem mais emotivos, mas em menor escala encontramos homens sofrendo de sintomas parecidos com o que é chamado de Síndrome de Couvade”, analisa Maria Luiza Mello de Carvalho, psicóloga da Maternidade-Escola da UFRJ, doutora em psicossociologia de comunidades e ecologia social e psicoterapeuta corporal.

Segundo a psicóloga, a Síndrome de Couvade consiste em uma série de fenômenos que podem ser entendidos “como a corporificação das vivências emocionais masculinas relativas ao nascimento dos filhos. Após o parto a situação tende a se normalizar.

O termo “couvade” vem de estudos antropológicos sobre o conjunto de ritos desenvolvidos por pais durante a gestação e o parto em diferentes culturas. “No Brasil, o termo está associado à ideia de síndrome, um comportamento patológico, e essa me parece uma desvalorização da experiência masculina saudável de tornar-se pai”, avalia Maria Luiza.

A gravidez traz enormes preocupações para o casal, principalmente financeiras, e o desenvolvimento da síndrome abala emocionalmente o homem quando se espera que seja o suporte da mulher. De acordo com a psicóloga, “eles são treinados para serem duros e insensíveis. Dá-se pouca atenção aos difíceis desafios psicológicos dos homens durante a gestação, visto que não costumam receber nenhum apoio no pré-natal”.

Segundo ela, pesquisas mostram que na fase pré-natal costuma aumentar a ocorrência de violência sexual dos homens contra suas companheiras grávidas. “Trata-se de um período importantíssimo para a inserção dos homens nos serviços de atenção obstétrica e pediátrica, para atendermos às suas necessidades psicológicas e os valorizarmos como pais cuidadores”, esclarece a doutora em psicossociologia.

Para Maria Luiza, a inserção dos pais nos serviços de saúde ainda deve ser ampliada. Ainda é pouco conhecida a lei do acompanhante que prevê o direito de escolha da mulher sobre o seu acompanhante no parto. Ela conclui que “a participação do pai na hora do nascimento do filho é uma forma segura de facilitar a experiência emocional do casal, a qualidade do parto da mulher e a saúde da criança. Os homens podem ser excelentes cuidadores dos seus filhos e de suas companheiras”.