• Edição 186
  • 27 de agosto de 2009

Saúde e Prevenção

Estratégias para maior controle da tuberculose

Cília Monteiro


Há nove anos a Organização Mundial de Saúde (OMS) estipulou uma lista com os 22 países que possuem mais ocorrências de tuberculose no mundo. Juntas, essas nações concentram 80 por cento dos casos da doença. Atualmente o Brasil ocupa a décima quinta posição no ranking. “Esses países correspondem aos locais onde há maior empenho para o controle da tuberculose”, aponta Paulo Albuquerque da Costa, médico do Programa de Controle da Tuberculose Hospitalar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ.

Paulo, que também é pesquisador do Centro de Pesquisa em Tuberculose do HUCFF, explicou que dentro de cada país são necessárias avaliações regionais da incidência da doença. “Os índices têm caído no Brasil, mas regionalmente isso não é uma regra. No Rio de Janeiro, por exemplo, o número de novos casos por ano equivale ao dobro da média nacional”, informa o especialista.

Para um controle mais eficaz do problema, estratégias de prevenção e detecção da doença foram traçadas. “Em primeiro lugar é preciso que haja uma rápida identificação do contaminado e início de tratamento da tuberculose. Depois, é extremamente importante a boa retaguarda laboratorial. A terceira estratégia consiste no Tratamento Diretamente Observado (DOT)”, explica Paulo.

Segundo o médico, a bactéria que causa a tuberculose é transmitida pelo ar: “Quando inalada, o sistema imunológico tenta eliminá-la. Em 90 por cento dos casos, isso é possível. Nos dez por cento restantes, a bactéria se multiplica: parte desses indivíduos adoece em um período de no máximo dois anos; o restante conseguiu controlar, mas, em certo momento da vida, o sistema imunológico não segura mais a bactéria e a doença se manifesta”, observa.

Por isso, a primeira estratégia consiste em identificar logo o contaminado para que a transmissão não continue ocorrendo. “Um estudo constatou que uma pessoa com tuberculose é capaz de contaminar 15 em um ano. Daí o início do tratamento é tão importante: em 15 dias, já não há mais eliminação de bactérias”, constata Paulo.

De acordo com o especialista, a tuberculose está relacionada a aglomerações humanas, falta de saneamento básico e pobreza, fatores que contribuem para a transmissibilidade de bactérias. “Verificou-se que os programas de saúde da família e de agentes comunitários de saúde podem contribuir na identificação de infectados, antes de eles se sentirem doentes e pensarem em procurar ajuda médica. O agente de saúde é treinado para saber quando indicar exames. Essa é uma importante estratégia para se reconhecer o suspeito de tuberculose”, indica.

“O exame do escarro é o principal para a detecção de tuberculose. Necessita ser feito através de uma boa análise laboratorial. Os profissionais de saúde precisam ser competentes para localizar a bactéria e chamar os pacientes ao tratamento”, afirma Paulo. No entanto, o tratamento costuma ser difícil e gera muitas desistências. “Sabemos que os remédios causam enjoo e mal-estar. Algumas vezes isso não ocorre, mas o paciente se sente muito bem em um ou dois meses e para com a medicação. Só que o tratamento precisa ser de seis meses no mínimo”, relata.

Solucionando esse problema, surgiu a terceira estratégia: o DOT. “Trata-se de uma medida recomendada pela OMS para controlar a tuberculose nos 22 países em que é mais incidente. E funciona, mas a maneira como é aplicada varia: o agente de saúde pode ir à residência do paciente, ou o doente pode procurar a unidade de saúde para ser supervisionado quanto à administração dos remédios. Dependendo da situação (geografia, comunidade, condições do paciente), escolhe-se a melhor forma para o tratamento de determinado indivíduo”, explica o médico.

Agravantes

Segundo Paulo, com o surgimento do vírus HIV na década de 1980, houve um aumento do número de casos de tuberculose. O indivíduo contaminado pelo HIV fica 30 vezes mais propenso a ter a doença. Outro agravante foi o aparecimento da tuberculose resistente, que não é combatida pelos principais remédios. “No Rio de Janeiro temos os maiores índices de resistência aos antibióticos. Então precisamos de estratégias bem definidas para reconhecer este paciente e aplicar um tratamento mais eficaz”, aponta.

O exame do escarro, que identifica a tuberculose, não revela se o caso é do tipo resistente. “Para se descobrir é preciso colocar o escarro em cultivo e esperar a bactéria crescer, para desafiá-la com antibióticos. No HUCFF, por exemplo, fazemos exame de cultura de todos os pacientes. Nas unidades básicas, isso é pouco feito. Achamos que seria melhor implantar a cultura universal: todos os pacientes que fazem exame de escarro também fazem de cultura. Assim é possível avaliar de forma mais eficaz o perfil de resistência e ministrar o tratamento mais correto”, afirma o especialista.

Maior prevenção

“Quando interrompemos a transmissão, estamos tomando uma medida de saúde pública. Mas não basta: é importante avaliar se as pessoas do convívio do infectado foram contaminadas. Pode haver casos de manifestação da doença ou de infecção pela bactéria apenas. Quando há só a contaminação, é feito o tratamento preventivo, que consiste na receita de um remédio que mata a bactéria, antes que ela cause ferida. Chamamos isso de tratamento da infecção latente por tuberculose. A estratégia de controle se completa dessa forma”, expõe Paulo.

Ele ressaltou a importância da aplicação da vacina BCG, que representa uma forma de prevenção primária. “O saneamento também contribui para que a doença não se prolifere”, acrescenta. O médico considera a tuberculose um grande desafio. “Enquanto houver pobreza, ela existirá. Mas não se pode ficar esperando pela resolução disso, o combate à doença precisa ser permanente. As estratégias tem sido de efeito positivo e trazem resultados em diversas regiões do país”, conclui Paulo Albuquerque da Costa.