• Edição 197
  • 12 de novembro de 2009

Ciência e Vida

Estudo investiga influência do diabetes no Alzheimer

Tássia Veríssimo

Grupos de pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro têm se dedicado a procurar os mecanismos que levam ao desenvolvimento da doença de Alzheimer, que atinge cerca de 20 milhões de pessoas no mundo e por volta de 1 milhão só no Brasil. Em um deles, pesquisadores descobriram que a insulina associada a outro medicamento para diabetes pode ser eficaz no combate à doença.

Lapsos na memória recente em contraste com a facilidade de recordar o passado são uns dos primeiros sintomas da doença de Alzheimer, mas com o decorrer do tempo esses esquecimentos, que no começo podem ser vistos como corriqueiros, se tornam mais frequentes e passam a prejudicar o dia a dia dos doentes. Além das dificuldades cognitivas, são comuns alterações no comportamento, como agressividade, depressão e tendência ao isolamento social. No estágio final, o que leva em média dez anos, a doença destrói várias áreas do cérebro e acarreta a morte.

Nos laboratórios de Doenças Neurodegenerativas e de Neurobiologia da Doença de Alzheimer do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadores descobriram que a administração de insulina em neurônios, associada à rosiglitazona, medicamento utilizado em pacientes com diabetes tipo 2, pode ser eficaz no combate ao Alzheimer, que hoje não tem cura.

Testes laboratoriais realizados pela bióloga e neurocientista Fernanda de Felice e pelo bioquímico e neurocientista Sérgio Teixeira Ferreira indicaram que a administração desses remédios impede a progressão da degeneração dos neurônios, causada pela doença de Alzheimer. O estudo é realizado há quase cinco anos, a partir da observação de que pacientes com diabetes tipo 2 têm mais tendência a apresentar Alzheimer, e vice-versa.

Descobriu-se ainda que os receptores do hormônio insulina são perdidos em pacientes com a doença. A partir de então foi possível realizar testes com administração de insulina e da rosiglitazona. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que o cérebro talvez não precisasse de insulina para funcionar, mas atualmente se sabe que, além de contribuir para o processo de obtenção de energia, a insulina desempenha importante papel na formação da memória.

Vale lembrar que, após os testes laboratoriais, será necessário passar para os testes em animais; somente depois disso é que será possível avaliar a possibilidade do uso dessa combinação terapêutica em humanos. No entanto, os resultados obtidos apontam a possibilidade ainda inédita do desenvolvimento de um medicamento que reverta os efeitos iniciais da doença. Segundo os pesquisadores, os resultados em cultura são animadores, mas ainda é cedo para se falar em tratamento efetivo.