• Edição 201
  • 10 de dezembro de 2009

Argumento

Projeto conscientiza crianças acerca das drogas lícitas

Ana Zahner

Um estudo conjunto da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, divulgado em novembro, apontou números surpreendentes no consumo de tabaco e bebidas alcoólicas entre crianças na faixa etária de 11 anos. Entre os entrevistados, 74,4% das crianças espanholas e 43,8% das brasileiras já ingeriram bebidas alcoólicas. O consumo de tabaco tem percentual menor, de 21,9% na Espanha e 12,7% no Brasil.

Os resultados indicam ainda grande influência dos pais no comportamento, já que muitos deles fazem uso de álcool na presença dos filhos. Para se ter uma ideia, 36,6% das crianças brasileiras admitiram ter visto a mãe embriagada, enquanto 11,6% viram o pai.

Na luta contra esse cenário, o projeto Transformando Potencialidade em Futuro faz há quatro anos um trabalho com a Escola Municipal Tenente Antônio João, localizada na Cidade Universitária, para evitar que os alunos de 6 a 10 anos ingressem no mundo das drogas. O foco são o tabaco e o álcool, lícitos e considerados portas de entrada para outras drogas consideradas mais pesadas.

“A ideia inicial era fazer a prevenção do uso de drogas como um todo, mas fechamos o trabalho com o álcool e o tabaco, já que a pessoa que não fuma e não bebe dificilmente se envolverá com drogas ilegais, como a cocaína”, esclarece a professora Márcia Trotta, coordenadora do projeto, que também é fonoaudióloga e integrante do Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo (NETT).

Trotta acredita que a informação por si só não leva à mudança de comportamento. Assim, as dinâmicas realizadas tentam trazer as experiências de cada criança, deixando-as mais familiarizadas com o assunto. Depois, elas viram multiplicadoras e transpõem esse conhecimento no dia a dia ao convencer uma avó a parar de fumar ou o pai a não beber.

A coordenadora revelou que a iniciação à experimentação das drogas começa muito cedo e normalmente dentro da própria casa da criança. Segundo ela, há casos de pacientes que começaram a fumar com cinco anos de idade, pois acendiam o cigarro para os parentes, e acabaram se tornando dependentes.

“Temos que trabalhar a prevenção e a promoção de saúde com as crianças menores – não adianta falar de prevenção com adolescentes de 15 a 16 anos, porque nessa faixa etária esse uso já não é uma experimentação, é regular”, explica.

O projeto de extensão não traz vantagens apenas para as crianças da escola. Os estagiários, graduandos da UFRJ, também se beneficiam, podendo entrar em contato com a realidade brasileira. O Transformando Potencialidade em Futuro leva conhecimento para a comunidade e também traz dela algo que falta, segundo ela, na academia: “O contato com o verdadeiro Brasil, que não se vê nos planos particulares de saúde.”

Sem dados estatísticos para confirmar resultados positivos, a coordenadora do projeto acredita que a mensagem tem sido passada só pela vivência com os estudantes. Para ela, alunos que participaram do início do programa ainda procuram os coordenadores e estagiários em busca de outros tipos de aconselhamento, como sobre sexualidade.

Para Márcia Trotta, o laço de afetividade criado entre as partes tem importância, pois é observado que o uso de drogas tem início na falta de um projeto de vida. Muitas das crianças não têm perspectiva de vida futura, e o projeto trabalha também com o fortalecimento da consciência crítica e da autoestima.

Ao lado de outros dois programas do Centro de Ciências da Saúde (CCS), o projeto Transformando Potencialidade em Futuro será desenvolvido no município de Maricá, ampliando a troca entre universidade e comunidade. “A experiência fora dos muros da UFRJ traz a possibilidade de um aprendizado maior dos estagiários de extensão e também possibilita que o conhecimento acadêmico possa ser aproveitado na prática”, concluiu Márcia Trotta.