• Edição 231
  • 02 de setembro de 2010

Faces e Interfaces

Uso de BOTOX® evita o sentimento de emoções?

Michelly Rosa e Stephanie Tondo

Uma pesquisa realizada pelo psicólogo Joshua Davis, da Universidade de Barnard, nos Estados Unidos, revela que as aplicações de BOTOX® não apenas diminuem a capacidade de expressão facial como também diminuem a capacidade de sentir emoções.  

De acordo com o estudo, como o BOTOX® limitaria o movimento dos músculos que causam as rugas, o indivíduo deixa de expressar inteiramente as emoções sob a forma de movimentos faciais. Entende-se, portanto, que ao deixar de expressar suas emoções, o indivíduo deixa também de senti-las.  

Esta afirmação, junto a tantas outras discussões sobre BOTOX® e suas complicações, gera mais uma polêmica sobre o medicamento. 

Diante disso, o Olhar Vital convidou a cirurgiã plástica Talita Franco e a dermatologista Mônica Azulay para esclarecer o assunto e analisar os fundamentos do estudo.

Mônica Azulay

Dermatologista e professora da Faculdade de Medicina da UFRJ

“Já faço o procedimento do BOTOX® em meus pacientes há 15 anos e nunca vi ou ouvi coisa parecida. É necessário, antes de se acreditar num artigo como esse, que se avalie sua metodologia e o critério em que foi realizado.

Não há a possibilidade de o BOTOX® evitar que o indivíduo sinta emoções, o que pode acontecer é, num caso de exagero, a pessoa não transmitir essa emoção.

O que recomendo a meus pacientes é evitar o ar congelado que muitos usuários de BOTOX® fazem, para não comprometer a naturalidade das expressões faciais.

O BOTOX® já existe há mais de 20 anos na medicina, há 15 na dermatologia, e, hoje, é utilizado em várias outras especialidades médicas, como a oftalmologia.

Esse é um dos produtos mais estudados e se utilizado por um profissional treinado e conhecedor do assunto não há malefício algum. O BOTOX®, inclusive, auxilia outras áreas além de estética, retarda a formação de rugas e melhora a qualidade do envelhecimento da pessoa.

O problema do BOTOX® é que foi vulgarizado nos últimos anos pelo uso na área de estética. Porém esse é um tratamento sério e não há contra ponto. Até se houver um acidente ou um caso de exagero, não há problema, pois o produto tem o efeito de longa duração, cerca de três a quatro meses. Caso a pessoa se arrependa por algum motivo, logo irá recuperar a forma natural.

Esse estudo mostra um resultado subjetivo e não é a palavra final no assunto antes que seja estudado, analisado e aplicado para se comprovar a veracidade.”

Talita Franco

Cirurgiã plástica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ)

“Não há nenhum sentido nesta suposição. A ação do BOTOX® paralisa os músculos, não bloqueia emoções. Uma comparação que facilita a compreensão pode ser feita com pessoas que têm paralisia facial devido a tumores ou outras lesões que interrompem a função do nervo responsável pela movimentação da face.  

É claro que seus sentimentos não são bloqueados. Vimos, recentemente, entrevistas com a mulher francesa que recebeu um transplante de face, muito emocionada, apesar de ainda não ter recuperado os movimentos da face.  

A toxina botulínica, utilizada no BOTOX®, é um medicamento eficaz de comprovada segurança e amplo espectro de aplicação, desde que usada por pessoas habilitadas. Todos os malefícios com relação ao BOTOX® são decorrentes de técnica incorreta.

A ptose palpebral, ou seja, a queda da pálpebra, por exemplo, pode ocorrer se a injeção for feita no lugar errado. Problemas estéticos também são vistos nas aplicações excessivas em que o aspecto da face pode ficar ‘estranho’. 

O BOTOX® bem aplicado possui grandes vantagens e tem sido utilizado, inclusive, em especialidades não estéticas como oftalmologia, para bloquear espasmos palpebrais; dermatologia, no tratamento da sudorese excessiva; urologia, para o tratamento de alterações funcionais da bexiga; e outros.”