• Edição 240
  • 04 de novembro de 2010

Por uma boa causa

Como dosar corretamente o medicamento para cada criança?

Stephanie Tondo

Cuidar de uma criança não é uma tarefa fácil, mesmo para os pais mais experientes. Surgem sempre dúvidas com relação a quase tudo. Para tentar ajudar e procurar orientar esses pais, o Olhar Vital vai abordar nas edições desse mês sobre os perigos que rondam os pequenos. Destacando na primeira matéria a dúvida enfrentada por muitos pais e cuidadores, como dosar remédios para crianças. Segundo especialistas usar colheres de casa como medida pode significar uma overdose.

A prática da automedicação é outro problema que vem se tornado cada vez mais comum e é facilitada pela possibilidade de compra de remédios sem prescrição médica. No entanto, de acordo com Lucia Fontenelle, pediatra do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), é preciso ter muito cuidado ao administrar a medicação por conta própria.

“Qualquer medicação deve ser dada somente com orientação médica. No entanto, antitérmicos, anti-eméticos ou um analgésicos comuns ― já indicados pelo pediatra num problema anterior ― podem ser utilizados em uma emergência como, por exemplo, febre, vômitos ou dor de cabeça. É preciso orientar à mãe que, caso o sintoma não desapareça, ela deve voltar ao médico para melhor definição do que deve ser feito”, afirma a pediatra. 

Os pais devem estar atentos também à forma como as creches e escolas se posicionam com relação à questão. É importante que tais instituições peçam às famílias que informem, por escrito, quais medicamentos devem ser utilizados em casos de emergências e jamais mediquem sem autorização dos responsáveis pelo aluno. 

Estudo realizado em Lisboa aponta que crianças menores de cinco anos estão sob maior risco de overdose acidental. Foram testados 97 adultos. Destes, 53 eram mães, sete eram pais e os demais foram funcionários de creche. No universo da pesquisa, 61% dos entrevistados usavam medida com a dose errada;  17% medida com overdose e 44% não deu o remédio suficiente.   

Automedicação

“É importante acentuar que, na infância, a automedicação deve ser evitada porque, além das complicações que podem ocorrem diretamente relacionadas à droga, há dificuldades adicionais associadas à idade do paciente. As doses eficazes e a formulação da medicação variam muito de acordo com a faixa etária e, nas crianças pequenas, não contamos com informações fidedignas sobre alguns efeitos adversos que o remédio possa estar produzindo”, alerta Lucia Fontenelle. 

A dosagem do medicamento deve ser aplicada com base nas características da criança, como peso, altura e idade. “Não há como indicar uma dosagem única para cada medicamento, ela está sujeita a muitas variáveis”, explica a pediatra. O ideal, portanto, consultar médico para que os pais tenham certeza da dosagem correta para o organismo da criança. 

Um dos principais fatores de estímulo à prática da automedicação são as massivas propagandas de medicamentos em meios de comunicação como televisão e rádio. Segundo a pediatra Lucia Fontenelle, tais propagandas deveriam ser proibidas.  

“Muitas vezes, um indivíduo despreparado não tem condições de discernir se o sintoma apresentado representa uma doença que exige tratamento específico. A dor de cabeça é um exemplo. Na maioria das vezes não passa de uma queixa rotineira ligada a algum tipo de estresse, mas, eventualmente, pode ser o aviso de que há um tumor intracraniano. Neste caso, um analgésico, dado pela família sem orientação médica pode atenuar o sintoma, mas retardar um diagnóstico importante”, conclui Lucia Fontenelle.