• Edição 241
  • 11 de novembro de 2010

Por uma boa causa

Escola e família devem se unir no combate ao bullying

Stephanie Tondo

Para dar continuidade à série sobre os perigos presentes na infância, o Olhar Vital aborda, esta semana, o tema Bullying, que apesar de ter ganhado a atenção da mídia há pouco tempo, não é um fenômeno recente. O termo, de origem inglesa, nomeia os comportamentos agressivos por parte de crianças, geralmente em âmbito escolar.  

A psicóloga Andreza Maia Pereira, mestranda de psicosociologia do Instituto de Psicologia da UFRJ, afirma que este tipo de comportamento sempre houve, apesar de não ser tão divulgado. “A escola é uma instituição baseada na universalização, na uniformização de hábitos, conhecimento, etc. Isso acaba produzindo uma tendência exclusiva por parte das crianças com relação àqueles que apresentam alguma diferença social, racial ou cultural, por exemplo,” explica a psicóloga. 

Em outubro deste ano o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou, com a autoria da médica psiquiatra Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, uma Cartilha sobre bullying, contendo informações muito úteis a pais, professores e profissionais escolares.  

De acordo com a Cartilha, existem diversas formas de bullying, dentre elas as formas verbal, sexual, física, psicólogica e virtual, também conhecida como cyberbullying. “Qualquer forma de exposição pejorativa é ruim, mas com a internet a exposição ganha limites muito maiores, que ultrapassam o âmbito escolar e expõe a criança à humilhação pública”, afirma Andreza Pereira. Além disso, os praticantes do bullying virtual possuem a vantagem do anonimato, o que faz com que seus ataques sejam ainda mais violentos e produzam, portanto, traumas ainda maiores nas crianças agredidas. 

A Cartilha indica, ainda, formas de perceber quando uma criança está sofrendo ou praticando bullying. Na escola, os agressores costumam ser populares, arrogantes e gostam de fazer brincadeiras de mau gosto, difamar e constranger outros alunos. Os agredidos, por outro lado, geralmente encontram-se isolados ou perto de algum adulto e mostram-se desanimados, tristes e desinteressados pelas atividades escolares. 

No ambiente doméstico, identifica-se o praticante de bullying por suas atitudes desafiadoras e agressivas em relação aos pais. São manipuladores, mentirosos e costumam voltar da escola com objetos ou dinheiro que não possuíam. Já as crianças que sofrem o bullying, apresentam sintomas como dor de cabeça, enjôo, insônia, perda de apetite e alterações freqüentes de humor. Em geral, não têm muitos amigos e participam pouco de eventos sociais, além de apresentarem diversas desculpas para faltar às aulas.  

Segundo a psicóloga Andreza Pereira, a terapia é um recurso que pode e deve ser utilizado tanto para as crianças que praticam o bullying quanto para aquelas que sofrem as agressões. “A criança é um reflexo dos pais e tende a se espelhar em suas atitudes. O ideal é uma terapia de família, para que o problema possa ser solucionado em sua origem. Pessoas que sofreram agressões quando eram crianças carregam este estigma para o resto da vida. Grande parte dos meus pacientes possui algum trauma deste tipo”, afirma.  

A Cartilha deixa bem clara também a responsabilidade das instituições escolares com relação ao bullying, uma vez que as agressões ocorrem dentro de suas dependências. A direção da escola deve, portanto, acionar pais, Conselhos Tutelares, órgãos de proteção à criança e ao adolescente e, em situações que envolvam atos infracionais ou ilícitos, fazer a ocorrência policial. Em caso de omissão, a escola poderá ser penalizada.  

“As instituições escolares devem atuar de forma intensa no controle à prática do bullying e adotar medidas rígidas e punitivas com relação aos agressores. A família deve ter como último recurso a retirada da criança da escola”, afirma a psicóloga. 

De acordo com a Cartilha, é de suma importância que pais e escolas estejam sempre atentos ao comportamento das crianças e propiciem o diálogo, para que situações de bullying sejam identificadas. Os pais não devem hesitar em procurar o auxílio de profissionais da saúde mental e devem, sempre, valorizar o talento inato dos jovens, estimulando-os e resgatando, assim, sua auto-estima e ajudando-os a construir sua identidade social.