• Edição 251
  • 17 de março de 2011

Faces e Interfaces

Refrigerantes dietéticos X doenças cardiovasculares

Luana Severiano / Renata Lima

Comer chocolate causa espinha? E aspirina. Mata? Entre as inúmeras dúvidas e mitos existentes a respeito dos efeitos da ingestão de certos alimentos e substâncias, a bola da vez são os refrigerantes dietéticos. Será que consumi-los diariamente aumenta o risco de infarto e derrames?

Especialistas da Universidade de Columbia e da Faculdade de Medicina da Universidade de Miami realizaram um estudo, entrevistando 2.564 pessoas em Manhattan, cujos resultados mostraram que pessoas que consumiam refrigerantes dietéticos todos os dias tinham 31% mais chances de sofrer doenças cardiovasculares.

A pesquisa ainda está em andamento, mas caso os estudos se confirmem, isto sugeriria que uma dieta forte em refrigerantes dietéticos pode não ser um substituto ideal para bebidas adoçadas com açúcar. Para conhecer a opinião de especialistas brasileiros sobre o assunto, o Olhar Vital entrevistou profissionais da UFRJ para falar sobre o tema em questão.

Nelson Souza e Silva

Professor Titular da Faculdade de Medicina e Diretor do Instituto do Coração Edson Saad / UFRJ

“Precisamos pensar diferente, de uma forma não determinista. ‘Se comer isso, aquilo vai acontecer’. Não é bem assim. Nosso corpo é um sistema biológico complexo e cada indivíduo possui uma rede de características diferente. Somos milhares de genes interagindo, expostos a uma série de variáveis, como interações sociais e fatores ambientes.

A probabilidade de a exposição a um determinado fator causar efeitos iguais em indivíduos diferentes é muito baixa. É menor ainda a possibilidade de afirmar que um fator, uma única substância, é a responsável por aumentar ou diminuir as chances de algo acontecer em nosso corpo. É muito difícil isolar os culpados. As causas e os agentes da morte cardiovascular, por exemplo, são inúmeros.

Obviamente que esse tipo de pesquisa é válida. Estudos são sempre bem-vindos, mas há que se ter calma na hora de avalia-los. É necessário conferir a metodologia aplicada. Pesquisas desse tipo, de associação causal, precisam de amostras grandes, localizadas em diferentes ambientes, sujeitas a variáveis diversas: doses, tempo de exposição, hábitos alimentares dos pacientes em observação.

Vajamos o caso do cigarro. Para chegar-se a conclusão de que fumar causa câncer de pulmão foram 20 anos de estudos, em diversos países. E, mesmo assim, o que ficou provado, e foi esquecido pelo domínio social, é que o malefício dessa prática não se limita apenas ao câncer no pulmão. O tabaco também pode ser causador de um câncer de esôfago, alterações na retina e outros tantos danos.

Não há uma regra. Não dá para saber ao certo que tipo de alteração o seu organismo vai sofrer quando exposto a uma determinada substância artificial. As variáveis são muitas. É necessário muito tempo de estudo, levando-se em consideração sempre que agentes externos em indivíduos diferentes, normalmente, levam a resultados diferentes.

E o que fazer então? Não há outro jeito, é evitar as substâncias artificiais. Se não há motivo real para substituir o natural, não o faça. Esses estudos nunca nos dão a verdade, os resultados e conclusões são sempre meia verdade. Quando o assunto é um sistema biológico inserido em um determinado ambiente, em sociedade, a resposta nunca é única. Logo, o conselho que fica é nunca exagerar nas coisas que desconhecemos, ou seja, nos alimentos industrializados. Levar uma vida saudável, alimentando-se de coisas naturais e praticar exercícios é, sem dúvida, a melhor saída.”

 

Wânia Lúcia Araújo Monteiro

Nutricionista, pós-graduada em Nutrição Clínica pela UFRJ. Atualmente aluna de mestrado em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da UFRJ.


“Segundo a pesquisa, o hábito de consumir refrigerantes dietéticos em substituição a bebidas mais saudáveis, como sucos naturais, água de côco ou mesmo água, pode levar ou agravar doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial sistêmica. Isso ocorre por diversos motivos.

Primeiro, a ingestão de refrigerantes dietéticos (diet/light/zero), geralmente, é realizada por pessoas que não tem hábitos alimentares saudáveis, não praticam atividade física e, geralmente, são fumantes. As pessoas consomem este tipo de bebida na tentativa de compensar de alguma forma o excesso de calorias ingeridas durante o dia, mas não estão preocupadas com a saúde.

Segundo, este tipo de bebida contém três vezes mais sódio do que refrigerantes comuns, isto ocorre por que os refrigerantes light são adoçados com edulcorantes artificiais à base de sódio, como a sacarina sódica e o ciclamato de sódio. Se compararmos o refrigerante normal e light com o suco de laranja, no quesito quantidade de sódio, o suco sempre sai ganhando, pois não tem sódio em sua composição e o valor calórico é equivalente e além do mais é rico em vitamina C, sendo benéfico ao organismo.

Terceiro, geralmente, as pessoas consumidoras deste tipo de refrigerantes dietéticos não ingerem somente um copo por dia (200 ml), por acharem que o fato de ser isento de calorias não trará risco à saúde, aumentando o risco de doenças cardíacas.

Esta pesquisa nos mostra que os refrigerantes dietéticos prejudicam à saúde, pelo excesso de sódio ingerido, mas também, que estas pessoas não praticam atividade física regular, são fumantes e não tem hábitos alimentares saudáveis, elevando mais o risco para doenças cardíacas”.