• Edição 252
  • 24 de março de 2011

Faces e Interfaces

Academias ao ar livre promovem saúde?

Luana Severiano / Renata Lima

O Rio de Janeiro é hoje a cidade brasileira com a maior proporção de idosos, equivalendo a 14% da população do município. Em respeito a esses números, nada mais inteligível que promover projetos que melhorem o bem–estar físico e social dos idosos. Foi com este intuito que a Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SEQV), da Prefeitura do Rio, está implantando as Academias da Terceira Idade (ATIs).

A proposta da SESQV é oferecer, de forma gratuita, aparelhos que exijam força e flexibilidade. Mas a falta de orientadores disponíveis ao longo do dia inviabiliza o projeto. Os aparelhos ficam expostos para quem quiser usar, no entanto, só há profissionais de Educação Física para supervisionar os idosos nos intervalos de 7h às 9h e das 16h às 19h, o que significa uma quantidade irrisória frente ao número de pessoas que usam os aparelhos.

Será que a boa intenção do projeto é realmente eficaz para a saúde? Será que as pessoas da Terceira Idade não correm altos riscos de se lesionar, uma vez que não há orientadores e não é exigido nenhum tipo de exame físico? Será que o atestado médico, às vezes de fácil alcance, é o suficiente para a prática de exercícios? Em meio a tantas dúvidas, o Olhar Vital procurou especialistas da área de saúde para responder estas questões.

Roberto Fares Simão Júnior

Professor Adjunto da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ (EEFD/UFRJ)

“Os exercícios físicos, dentre eles a musculação, são benéficos em todos os aspectos. Trazem benesses para o sistema cardiovascular, ósseo e muscular. Além de prevenir contra doenças degenerativas, como diabetes, osteoporose e doenças coronarianas.

Quanto às Academias da Terceira Idade (ATIs), devemos primeiramente ficar felizes pela iniciativa da Prefeitura de tentar tirar boa parte da população do sedentarismo, através de aparelhos de ginástica populares. Hoje, a assiduidade brasileira às academias de musculação chega somente a 3% da população do país. Ou seja, é um percentual ínfimo se comparado a outros países e à extensão de nossa nação.

Quanto à prática de exercícios físicos, não há contra-indicações. O que há são cuidados e recomendações a serem feitos por profissionais da área. É necessário que haja avaliação médica, seguida de avaliação física e orientação de professores de educação física na hora da atividade.

Uma pessoa que pratica musculação e ginástica sem a orientação de um profissional pode ter lesões ortopédicas em joelhos, quadris e ombros. Se essa pessoa for idosa, a chance de ocorrer complicações aumenta, principalmente porque indivíduos da terceira idade geralmente já têm algum tipo de enfermidade ou debilidade, necessitando maiores precauções.

Exercícios que trabalhem a flexibilidade e a força, como propostos pelas ATIs, podem, sim, melhorar a saúde e o bem-estar da população. Porém, muitas vezes, o nível de aptidão dessas pessoas para a atividade física é tão baixa que o mínimo esforço que ela faça, já fortalece a musculatura”.

 

Patrícia Garcia Oliveira

Médica Fisioterapeuta do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho


“Em relação às academias ao ar livre, acho que é uma iniciativa interessante para as pessoas que não têm condições de pagar um lugar para se exercitar. Esse serviço das prefeituras municipais tem estimulado muito as pessoas a fazerem atividades físicas. Contudo, os espaços cedidos gratuitamente nem sempre possuem um profissional qualificado para orientar os usuários dos aparelhos.

Não conheço nenhum desses aparelhos, mas, como profissional da reabilitação, sei que um exercício mal feito pode trazer sérias consequências para o corpo, como lesões em partes moles, como ligamentos, tendões e músculos.

Acho que essa iniciativa deveria ser acompanhada pelo professor de educação física, uma vez que o objetivo é fazer com que a população se exercite.  Se orientadas, a qualidade de vida dessas pessoas, com certeza, seria melhor. Ajudaria na autoestima, na vaidade, no bem estar e, assim, na produtividade do seu dia a dia, seja no trabalho, como no lar.

A população brasileira acolhe muito bem novas oportunidades gratuitas, mas ainda não aprendeu a avaliar a qualidade do que é oferecido. Seria de se esperar que o poder público fosse capaz de fazer essa avaliação antes da população e nos garantir a segurança de que estamos usufruindo de um serviço de qualidade. Mas parece que  ainda não podemos confiar  nessa avaliação prévia.

No entanto, ainda não temos como avaliar a qualidade das academias ao ar livre, e até que se faça uma estatística das lesões associadas a elas, não será possível afirmar sobre seus malefícios e benefícios, mas sabemos que o incentivo foi relevante.


Podemos então deixar a solicitação junto às autoridades, pelo interesse de colaborar ativamente com profissionais qualificados para a orientação e realização de cada exercício.”