• Edição 232
  • 09 de setembro de 2010

Microscópio

O futuro da biodiversidade


Stephanie Tondo

Discussões acerca do meio ambiente e da necessidade da adoção de políticas sustentáveis têm se mostrado cada vez mais decisivas para o futuro. Em meio a essas questões, a biodiversidade tem sido um dos principais alvos de discussão, uma vez que se relaciona não apenas com a questão ecológica, mas também com questões de interesse político, econômico e social. Segundo Mariana Vale, pesquisadora do Departamento de Ecologia e professora do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ, “estudar a biodiversidade é importante por diversas razões. Antes de mais nada, a biodiversidade é uma grande riqueza, possivelmente única ao nosso planeta e, como tal, merece ser estudada. Além disso, a biodiversidade tem um importante valor econômico e cultural. Para preservá-la é preciso conhecê-la”.  

De acordo com a pesquisadora, a biodiversidade se relaciona com a Economia de diversas formas. Entre elas, no fornecimento de matéria-prima para a produção de bens de consumo, como vestuário, ferramentas, remédios e, mesmo, alimentos. “Relações mais indiretas aparecem nos custos associados aos chamados serviços ambientais”, explica a docente. Estes serviços consistem em ações naturais, que auxiliam na obtenção dos recursos da natureza. Um exemplo de agentes de serviços naturais são os polinizadores, fatores bióticos responsáveis pela transferência de pólen de uma flor para outra, como o vento e alguns animais, como abelhas e borboletas. “O serviço prestado por polinizadores em sistemas agrícolas, por exemplo, é importantíssimo. Se os produtores tivessem que pagar por esse serviço, que é prestado pela natureza, os custos dos produtos agrícolas seria muito maior. O mesmo acontece para outros serviços que garantem a qualidade do solo, da água e do ar. Quando esses serviços são comprometidos, os custos econômicos podem ser altíssimos, sem falar nos custos sociais”, observa Mariana Vale. 

Políticas de desenvolvimento sustentável têm sido alvo de grande parte dos discursos políticos em campanhas eleitorais. O que se propõe é a combinação entre crescimento econômico e conservação ambiental. “De fato, é impossível manter o desenvolvimento econômico ao longo prazo sem essas políticas, uma vez que diversos recursos essenciais para o homem são limitados. As gerações futuras só poderão desfrutar desses recursos se eles forem usados de maneira inteligente”, afirma a professora. 

Mariana Vale revela ainda que muitas atividades econômicas prejudiciais ao meio ambiente só são viáveis por contarem com subsídios do governo. “Esse tipo de atividade prejudica o meio ambiente e ainda custa caro para o país”, afirma. Torna-se, portanto, cada vez mais necessário o cuidado com a biodiversidade e a utilização de técnicas que viabilizem a sua preservação. Há muitos indícios de que a biosiversidade esteja ameaçada e poucas medidas que contornem a situação. “As taxas de extinção que temos hoje são sem precedentes. Estima-se que um número enorme de espécies esteja se extinguindo em um espaço de tempo curto demais para possibilitar a recuperação da biodiversidade perdida”, informa a pesquisadora.  

No Brasil, sabe-se que o número que espécies ameaçadas é muito grande, mas é  difícil dizer quais são os grupos mais ameaçados, por conta de divergências entre as informações. “A maioria das espécies se extingue sem sequer serem descritas, muito menos entram numa lista de espécies ameaçadas”, observa Mariana Vale. 

BioSemana

Para debater essas e outras questões, o IB-UFRJ promove a BioSemana, que aborda diversas áreas da Biologia, com ênfase na biodiversidade. O evento conta com palestras, mini-cursos e uma série de outras atividades e ocorre entre os dias 20 e 24 de setembro, no Centro de Ciências da Saúde (CCS-UFRJ), Avenida Carlos Chagas Filho, 373, Cidade Universitária – Rio de Janeiro.