• Edição 234
  • 23 de setembro de 2010

Faces e Interfaces

Mais amor, menos amigos

Pesquisa da Universidade de Oxford mostrou que paixões implicam na perda de amizades

Luiza Ramos e João Marcelo Minhava

Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Oxford (Reino Unido) e divulgada pelo site G1, iniciar um relacionamento amoroso compromete a manutenção das amizades. O tempo e a atenção, antes voltados exclusivamente aos amigos e familiares próximos, passariam a ser dedicados a nova paixão. A mudança levaria à perda de um parente e um amigo no ciclo social, segundo o estudo publicado na revista científica Personal Relationships. Participaram do estudo 540 pessoas maiores de 18 anos, que responderam pela internet um questionário sobre relacionamentos e os efeitos de um novo namoro.

Enquanto a maioria dos entrevistados teria antes um círculo de cinco pessoas íntimas, este número cairia para quatro depois do início de um namoro. No dia a dia acontecem casos semelhantes, achamos comum e até inevitável que este tipo de afastamento ocorra, mas será que é saudável ou tão normal assim? Em vista da questão, o Olhar Vital conversou com a psiquiatra Maria Tavares Cavalcanti, diretora do Instituto de Psiquiatria (Ipub), e com a psicóloga Ana Cristina Figueiredo, diretora de ensino do Ipub.

Maria Tavares Cavalcanti

Psiquiatra e diretora do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ

Não tenho opinião formada sobre o assunto, pois não é o meu campo de estudo. Mas me parece evidente que um novo relacionamento, até mesmo pelo tempo que demanda a sua construção, bem como a paixão envolvida, que torna o novo parceiro o foco quase exclusivo das atenções durante um período inicial do relacionamento, diminui o tempo e o desejo de encontros com os amigos e familiares. Isso não significa, a meu ver, a perda da amizade, mas apenas um rearranjo, que pode ser temporário ou não. 

Ana Cristina Figueiredo

Psicóloga e diretora de ensino do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ

A pesquisa foi feita no Reino Unido e não se sabe se tem aplicação na situação brasileira ou não. E ao longo do padrão de relacionamento moderno, qual a utilidade disso? No âmbito geral, perde-se um amigo, mas juntando os amigos do casal, aumenta-se para oito. Isso é para identificar um padrão de relacionamento? É muito pouco, é uma estatística. Nada disso é cientifico, não é um estudo antropológico relevante. Não conheço a pesquisa por completo de Oxford, mas pelo apresentado no G1, é muito pouco.

A pesquisa precisa ser mais fundamentada. Talvez possa se dizer que na cidade grande os casais andem em torno de si com oito, dez pessoas, como amigos, talvez. Mas nada significa em termos antropológicos, sociológicos e psicológicos. Acho que não quer dizer que indique um padrão. Pode indicar uma média, mas pessoas podem perder todos os amigos ou somarem muito mais. Não sei o que a pesquisa quer demonstrar em termos de padrão de relacionamentos.