• Edição 249
  • 18 de fevereiro de 2011

Argumento

Erros nas enfermarias: falta preparação ou péssimas condições de trabalho?

Michelly Rosa

Nos últimos tempos, muito se debate sobre o papel dos enfermeiros visto o grande número de erros relatados. Mas quais serão as condições de trabalho deste profissional? Seria ele o único responsável pelos erros? Ou haveria falta de preparo destes profissionais para atuar em benefício da vida?

Diante da questão, o Olhar Vital convidou a professora Doutora Neide Aparecida Titonelli Alvim, diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ- foto), para expor sua opinião sobre o assunto:

“Há que se ressaltar que todo ser humano é passível de erro, independente da profissão por ele exercida. Ocorre que o enfermeiro cuida de seres humanos, o que aumenta seu grau de responsabilidade, mas, nem sempre, de visibilidade e reconhecimento social”, argumenta.

Segundo a professora, os fatos que geralmente ganham destaque são aspectos negativos e, geralmente, se esquece dos desafios que os enfermeiros encontram no período de assistência.

“Há várias linhas de pensamento e de ações quando se fala em preparo. Se o situarmos no âmbito da motivação, veremos que há componente tanto pessoal como também institucional, de gestão de pessoas. Não estou aqui afirmando ou justificando que tais erros ocorram por falta de motivação, mas, com certeza, um ambiente de cuidado harmonioso interfere positivamente no emocional da equipe de saúde, por conseguinte, na promoção do bem-estar, conforto e segurança do cliente”, explica a enfermeira.

A doutora fala ainda da importância da carga horária dos cursos de enfermagem estar de acordo com as diretrizes curriculares aprovadas para a área da Enfermagem: “Nos últimos anos, houve um quantitativo expressivo de abertura de cursos novos em nível graduação em enfermagem, o mesmo ocorrendo com a formação de técnicos de enfermagem. Sendo a enfermagem uma profissão pragmática, não se pode admitir que seus profissionais sejam formados com reduzida carga horária prática”.

Longas Jornadas e péssimas condições de trabalho

Com cerca de 1 milhão e 400 mil trabalhadores, a classe de enfermeiros é a maior força de trabalho do Brasil. Porém, ainda assim, o enfermeiro é um dos profissionais menos valorizados socialmente.

Segundo a diretora, apesar de ser o enfermeiro aquele que cuida do paciente 24 horas por dia, a luta pela redução da jornada de trabalho é antiga: ”hoje as entidades representativas da profissão estão reivindicando com veemência a jornada de 30 horas semanais. O principal argumento reivindicatório é a valorização desses trabalhadores (com salários dignos e reconhecimento social), associada à preocupação, sempre presente de, efetivamente, oferecer um cuidado livre de riscos às pessoas cuidadas em qualquer cenário e situação que se apresente”.

Além das longas jornadas, o profissional enfermeiro encara em muitos casos condições de trabalho que prejudicam o rendimento. Para Neide, a recorrência desses erros está relacionada também à estrutura da instituição:

“A promoção de condições dignas de trabalho e de vida desses trabalhadores está diretamente relacionada à melhoria nas ações e nos serviços de saúde. É preciso abordar a necessária melhoria das relações interpessoais entre os profissionais e destes com os gestores e os usuários dos serviços de saúde, uns dos princípios que norteiam a política de humanização em saúde.”

Mais qualificação, menos erros

De acordo com a professora, cabe ao profissional buscar o aperfeiçoamento de seus conhecimentos, a fim de estabelecer uma educação permanente: “Nenhum conhecimento tem caráter conclusivo e acabado; ele está em constante transformação. O profissional precisa atualizar-se, revisitar suas condutas, suas ações interventivas, as técnicas e tecnologias por ele aplicadas”.

Contudo, ainda segundo a diretora, é necessário apoio das instituições de saúde através de investimentos político-institucionais para a melhor qualificação de seu profissional e, portanto para um melhor resultado no trabalho: “Favorecer e estimular a participação dos enfermeiros em cursos, seminários e outros eventos, contribui para que o profissional entre em contato com novas tecnologias a serem aplicadas/aprimoradas na assistência ao ser humano com vistas à melhoria no desenvolvimento do cuidado prestado”.

Dessa forma, o enfermeiro deve buscar sempre atualização profissional e melhor qualificação, isso se reflete na rotina de trabalho diária e, portanto, na qualidade de atendimento do paciente.

“O aprimoramento em prol do exercício da profissão é dever do profissional de saúde de modo a promover um ambiente de cuidado seguro e favorável à pessoa cuidada”, conclui Neide.