• Edição 252
  • 24 de março de 2011

Ciência e Vida

Pioneirismo na UFRJ acha solução para problema do petróleo

André Ribeiro

 

Considerado um dos maiores problemas nos últimos anos, a contaminação das águas marinhas por petróleo tornou-se alvo de estudos de cientistas de todo o mundo. A Baía de Guanabara no Rio de Janeiro é um exemplo desta poluição, que afeta profundamente áreas ecologicamente importantes, como os manguezais.

Reconhecidamente pioneira, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é referência no que diz respeito à pesquisa aplicada. A professora Raquel Peixoto, do Laboratório de Ecologia Microbacteriana Molecular (Lemm/UFRJ), Instituto de Microbiologia, juntamente com o professor Alexandre Rosado, diretor do instituto, desenvolve desde 2004 pesquisas relacionadas à biorrecuperação, ou seja, recuperação de ambientes poluídos, como os mangues, com o uso de elementos biológicos.

A pesquisa, chefiada pela professora Raquel, começou com uma proposta feita pela Petrobras, para que houvesse um estudo sobre a possibilidade de recuperação de manguezais contaminados com petróleo. Desde então, o estudo já foi aplicado com sucesso na Bahia e também em áreas da restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro.

A biorrecuperação funciona por duas linhas de ação. A primeira é a detecção da presença de petróleo, e a segunda é sua degradação. “Na primeira etapa, as bactérias usadas como indicadores da presença do óleo são selecionadas a partir de uma avançada técnica de sequenciamento de DNA inédita no Brasil, o Pirosequenciamento, que permite a captura e identificação mais rápida e precisa de milhares de sequência de DNA, ou Unidades Taxonômicas Operacionais (OTUs)”, relata a pesquisadora.

Já a segunda etapa da pesquisa consiste em selecionar bactérias em laboratório que atendam a uma série de características necessárias, para que tenham eficiência garantida, como velocidade de crescimento, de degradação do petróleo, adaptabilidade, estimulação de crescimento vegetal e perfil de degradação do óleo. “O petróleo tem várias frações diferentes, e nenhum organismo consegue degradar todas, por isso se usa um consórcio que consegue degradar a maioria dessas frações”, explica a professora.

Resultados promissores

Com uma pesquisa de resultados tão promissores e relacionada a um problema tão grave, é inevitável que surja a pergunta: poderá ela ser usada em larga escala? Raquel Peixoto diz que o é possível otimizar um kit multiparâmetros, para avaliar e monitorar os manguezais da Baía de Guanabara. “Estamos desenvolvendo tecnologias majoritariamente biológicas para  chegar ao ambiente e dizer se ele está muito ou pouco contaminado. Isso é a primeira coisa que precisa para detectar os pontos da Baía de Guanabara onde há necessidade da intervenção por biorremediação”, afirma Raquel.

Segundo ela, o consórcio de bactérias tem que ser adaptado para atuar não somente na superfície, mas no fundo das águas, pois é lá que se encontra grande parte do petróleo contaminador.

Esta pioneira estratégia já deu resultados, quando aplicada em pilotos, ou seja, áreas de manguezais que serviram como teste. Outra preocupação é com o tempo necessário para haver resultado da aplicação das bactérias no ambiente. De acordo com a pesquisadora, o tempo necessário para a efetividade da biorrecuperação é curto. “Lá na Bahia, observamos uma recuperação boa em um ano. Claro que se ficar por mais tempo a recuperação é maior ainda. Eu imagino que em dois ou três anos já exista um ambiente bem saudável. Eu acho que nosso trabalho tem muita utilidade, para aplicação nas lagoas cariocas, na recuperação da Baía de Guanabara, até mesmo para as Olimpíadas” destaca. Raquel prevê que as autoridades farão uso da pesquisa desenvolvida para melhorar a situação da Baía de Guanabara e das lagoas e mangues.

Na ecologia, se sabe que uma espécie introduzida em um ambiente diferente do seu original pode causar sério desequilíbrio ecológico. De acordo com a pesquisadora, as bactérias utilizadas no estudo não têm esse problema, já que se nutrem do carbono contido em alta quantidade no petróleo e, quando ele for totalmente, ou majoritariamente degrado, essas bactérias desaparecerão naturalmente do ambiente.


Com esse estudo, pode-se perceber que até mesmo os problemas mais difíceis têm solução. A universidade se mostra mais uma vez útil à sociedade, com pesquisas de aplicação prática e efetiva, que visam melhorar a qualidade de vida não só das pessoas, mas da própria cidade e até mesmo do país.