• Edição 253
  • 31 de março de 2011

Ciência e Vida

Metabolismo energético no combate de células tumorais

*Cília Monteiro

 

Um estudo pioneiro no Brasil sobre metabolismo energético e sistema tumoral foi útil à compreensão dos pontos fracos de uma célula de um tumor e representou um passo a mais da ciência rumo ao desenvolvimento de novos fármacos e terapias. Trata-se de um trabalho do professor Antonio Galina Filho, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, que analisou a ação de uma droga antitumoral e mapeou as enzimas que reagiam à substância, o que serve de base para outros estudos relacionados ao controle de tumores. O trabalho foi publicado recentemente no periódico internacional Biochemical Journal(link).

De acordo com o professor, a célula tumoral possui um mecanismo de obtenção de energia diferenciado em relação às células do tecido normal. "O tecido tumoral passa a ser muito glicolítico e fermentativo, secreta quantidades altas de ácido lático. Isso tem sido usado como uma característica de diagnóstico da doença", explica Galina. Um agente antitumoral tem sido testado em diversos países: trata-se de um análogo de piruvato (produto da glicólise), o 3-bromopiruvato, que se mostrou um potente inibidor das vias de síntese de ATP da célula tumoral. O composto foi descoberto por um grupo dos Estados Unidos, liderado pelo professor Peter Pedersen, do National Institutes of Health (NIH). Esses pesquisadores afirmam que a droga inibe especificamente a enzima hexocinase da mitocôndria tumoral.

O grupo de Antonio Galina, que também trabalha com a hexocinase, decidiu testar a droga e, surpreendentemente, não conseguiu reproduzir o efeito descrito pelo professor Pedersen. "Em nossa investigação, verificamos aspectos semelhantes aos do outro estudo, mas não com relação à inibição do metabolismo glicolítico ao nível da hexocinase. O trabalho do professor também não demonstrou a que nível da mitocôndria estava ocorrendo essa inibição. Então, achamos interessante entender esse aspecto", conta Antonio.

O estudo de Galina mostrou de maneira inédita no país o processo de inibição do metabolismo energético nas condições de uma célula intacta. "Conseguimos “ver”, por meio da tecnologia de ressonância magnética nuclear de carbono 13, os intermediários metabólicos da síntese de ATP e como eles se modificavam em função da presença da droga analisada. Além disso, usando técnicas de respirometria de alta resolução, mostramos que essa droga tem potencial para reagir com várias enzimas. Mapeamos em doses relativamente baixas, portanto, de interesse terapêutico, quais são os alvos preferenciais no caso de uma célula tumoral. Isso abre uma possibilidade para o desenvolvimento de outras drogas, inibidoras dessas enzimas. Podemos visualizar o uso de uma terapia coadjuvante para combater a viabilidade de células tumorais", conclui o pesquisador.

* Jornalista do Instituro de Bioquímica Médica da UFRJ