• Edição 263
  • 09 de junho de 2011

Faces e Interfaces

Novas perspectivas para a obesidade: o paradoxo de perder peso

Renata Lima

São muitas as pessoas que almejam emagrecer e ter o estereótipo de corpo ideal. Há quem esteja interessado em vender estes ideais, enquanto há os  dispostos a pagar o preço que for para obter o que desejam. Mas perder peso drasticamente pode não ser bom para o organismo, pelo menos é o que diz uma pesquisa publicada no periódico  Nutrition Journal.

O estudo traz uma nova perspectiva para a obesidade e os quilos extras. Além do fato de a perda de peso rápida ser geralmente irregular e danosa à saúde, manter o sobrepeso pode ser benéfico em algumas situações.

Para esclarecer os riscos de dietas instantâneas e esse novo olhar sobre o sobrepeso e a obesidade, o Olhar Vital consultou profissionais da área dietética.

José Egídio

Chefe do serviço de nutrologia do Hospital Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ)


Restringir de forma absurda a ingestão de alimentos pode acarretar alterações metabólicas sérias. O organismo debilitado pela dieta incoerente, se defende desta submissão agressiva lançando mão de reservas de energia (do tecido gorduroso e muscular), ocasionando danos a determinados órgãos, como fígado, rins e coração.

É necessário o acompanhamento de um profissional para não causar danos à saúde. A maneira correta é perder os quilos extras gradativamente, para que o organismo possa se ambientar aos novos hábitos nutricionais, entenda-se uma dieta balanceada.

Na ‘dieta da fome’, o corpo não se reeduca, já que é difícil e prejudicial manter a ingestão de uma quantidade irrisória de alimento por dia.

Comparar adultos magros e obesos depende da gravidade da doença que norteia o paciente. Por exemplo, obesos com diabetes tipo 2 têm tratamento mais fácil que pessoas magras. Isso porque elas secretam mais insulina e não necessitam injetar o hormônio, se tratam com a ingestão de comprimidos e com dieta alimentar.

É importante que a pessoa entenda como ela é, e não ter comportamentos irracionais, se expondo a tratamentos absurdos. Existem três biotipos de pessoas: as brevilíneas, aquelas mais baixas e com ombros e ossaduras largos; as normolíneas, como diz o nome, com um biotipo regular; e as longilíneas, que são pessoas mais magras e altas. Geralmente as pessoas do primeiro grupo, as mais gordinhas, não se conformam com sua situação e tendem a fazer de tudo para obter um biotipo desejado. A ansiedade e a recorrência a medidas para perder peso rápido podem levar a sérios problemas de saúde, como aumento da pressão e outros agraves”.

 

 

 

Eliane Rosado

Professora do setor de nutrição clínica do Departamento de nutrição e dietética do Instituto de Nutrição Josué Castro (INCJ/UFRJ)

Essas dietas da moda, chamadas de hipocalóricas, por estabelecer um parâmetro de calorias muito abaixo do mínimo que as pessoas precisam, favorecem a perda de massa magra ao invés de gordura, isso porque o organismo recorre às proteínas como fonte de energia para se manter ativo. Quanto mais rápida for a perda de peso, mais rápido se repõe o tecido adiposo, pois a perda de massa magra implica um menor metabolismo e, consequentemente,  mais fácil se torna armazenar gordura. Além desta reposição, as dietas hipocalóricas podem submeter o corpo a um nível de desnutrição.

Em geral, as pessoas obesas ou acima do peso são mais dispostas a desenvolver problemas de saúde, como, por exemplo, doenças cardiovasculares. Entretanto, em alguns quadros clínicos, quando a pessoa já está submetida a certas complicações, perder peso de maneira rápida pode prejudicar o paciente. Por isso é necessário que se mantenha aquele sobrepeso ou que o perca de maneira lenta e com monitoramento constante para não piorar a situação.

A perda de peso rápida acentua o risco cardiovascular nesses pacientes. Quando se opta por perder os quilos extras rapidamente, a quebra da gordura em ácidos graxos é liberada no sangue, tornando-o mais viscoso. Esses fragmentos de gordura, por não serem absorvidos de maneira absoluta e eficaz, continuam circulando no sangue, podendo migrar para vasos sanguíneos estreitos e entupindo-os, de forma a bloquear a circulação do sangue e a oxigenação de alguns órgãos vitais. Dependendo do lugar em que essa obstrução ocorra, pode levar a um infarto, se for no coração, ou então, a um AVC, se for no cérebro, comprometendo diversas áreas ou atividades do corpo.

No caso de insuficiência renal, em que o paciente é submetido a hemodiálises diárias, ou de insuficiência cardíaca congestiva (ICC), a perda de peso é uma das consequências geradas por essas doenças. Sendo assim, um paciente magro está mais vulnerável a se desnutrir em comparação àquele indivíduo com reservas extras de gordura. Nestes casos, paciente acima do peso levam vantagem.


Estas situações geram um paradoxo: ao mesmo tempo em que a obesidade é um fator de risco potencial para desencadear uma série de doenças graves, manter o peso quando se está doente torna-se necessário para evitar pioras no quadro.”