• Edição 266
  • 4 de agosto de 2011

Microscópio


A gagueira em pauta

Rafael Gonzaga

 

O III Fórum Científico Instituto Brasileiro de Fluência, da Universidade Federal do Rio de Janeiro que ocorre no mês de agosto coloca em pauta a questão da gagueira na atualidade. O evento aborda a temática fazendo inclusive paralelos com um dos últimos enfoques dados ao distúrbio, que teve grande destaque na sociedade: o filme “O Discurso do Rei”, ganhador do Oscar de Melhor Filme de 2011, que conta a história do rei Jorge IV e suas tentativas de superar sua dificuldade para se comunicar devido à sua gagueira.

Mas o que exatamente é e o que ocasiona o surgimento e desenvolvimento da gagueira? A fonoaudióloga e professora do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ Leila Nagib explica que se trata de um problema de linguagem iniciado na infância, considerado um distúrbio universal e é referido em todas as partes do mundo, indiferente às etnias ou classes socioeconômicas. “A gagueira ocorre quando há uma ruptura na fluência verbal, na continuidade da sílaba, palavra ou frase e os sintomas são os de repetições, bloqueios ou prolongamentos. Independente de quais sejam os sintomas, vale ressaltar que nenhum deles ocorre de forma controlável pela pessoa que gagueja, uma vez que sua causa tem raízes neurofisiológicas, por uma pré-disposição genética”, argumenta Leila.

A qualidade de vida de uma pessoa que sofre desse distúrbio pode ser prejudicada, interferindo diretamente na plena vida profissional desse indivíduo, quando a fala é fundamental para o exercício da profissão. Vale ressaltar, porém, que qualquer ação profissional onde o intelecto seja a prioridade para a concretização dos resultados, o indivíduo que gagueja pode e deve assumir tal cargo, trabalhando nas mesmas condições de qualquer outra pessoa. Então, a terapia fonoaudiológica para gagueira é aconselhada e deve ser realizada com um profissional fonoaudiólogo especialista na área.

A situação do tratamento da gagueira no país tem sua principal defasagem em grau comparativo com outras nações no que diz respeito à dificuldade de atendimento público. O enorme déficit de locais que prestem atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) impede que toda a população tenha a possibilidade de conseguir um tratamento de qualidade. “No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, somos o único ambulatório especializado em fluência que atende pelo SUS, o que faz com que a demanda seja sempre maior que a oferta em todo o estado”, esclarece a professora Leila Nagib, que é também coordenadora do Ambulatório de Fluência do Instituto de Neurologia Deolindo Couto, localizado no campus da Praia Vermelha.

Os resultados visualizados no campo tecnológico das neuroimagens dimensionaram a complexidade da gagueira com a descoberta do que ocorre neurofisicamente com o cérebro das pessoas que sofrem do distúrbio. “Parece haver uma localização cerebral onde a fala tem dificuldade de ser emitida como uma sequência motora em que os movimentos precisam de sincronização exata, de sinais precisos de temporalização e disparo para o surgimento dos elementos da fala. Mais especificamente, o problema ocorre na área dos Núcleos da Base que têm um papel chave na automatização de sequências motoras rápidas e nos movimentos involuntários”, explica a professora.

Outras tecnologias também auxiliam no tratamento da gagueira, o que é o caso dos aparelhos  utilizados como ferramentas para o Retorno Auditivo Alterado (Altered Auditory Feedback – AAF) e trazem melhoras para a fala de algumas pessoas que gaguejam, apesar de ainda não serem aconselháveis para todas. Citada pelos próprios pesquisadores como complementar à terapia fonoaudiológica, outra atividade que merece destaque é o conjunto de pesquisas relacionadas ao aspecto medicamentoso, com a utilização de medicamentos que ativam um receptor no cérebro denominado GABA, associado ao efeito calmante. “Acredito também que o fato da criação de Organizações não governamentais tais como o Instituto Brasileiro de Fluência seja uma grande opção de esclarecimento e disseminação a respeito do assunto para todas as pessoas”, aponta a professora Nagib.

Existe uma diversidade muito extensa de mitos construídos a respeito da gagueira e é necessário ampliar e promover a divulgação dos dados reais para que as pessoas que gaguejam possam apresentar vida pessoal e profissional plenas e uma maior qualidade de vida.

O evento

Promovendo a temática desse distúrbio e como forma de integrar especialistas da área, ocorre no dia 19 de agosto de 2011 o III Fórum Científico IBF/UFRJ, cujo tema é “A gagueira e a fonoaudiologia” e é voltado para fonoaudiólogos e estudantes.


O evento acontece no auditório localizado no 3° andar do Instituto de Neurologia Deolindo Couto, no campus Praia Vermelha da UFRJ (Av. Venceslau Brás, 95, Botafogo). O Fórum se inicia no horário de 13h30 e se estende até às 17h45, com a presença de vários profissionais conceituados de diversos estados do país. As formas de inscrições e as informações da programação mais detalhada podem ser encontradas no site