• Edição 271
  • 6 de outubro de 2011

Por uma boa causa

Diabetes e saúde bucal

Louise Rodrigues

A saúde bucal e a higiene dentária são assuntos já muito conhecidos e discutidos. Porém, muitas pessoas ainda negligenciam as regras estipuladas pelos dentistas para o cuidado e a proteção completa da boca. O Olhar Vital trará na editoria Por uma boa causa deste mês informações básicas e adicionais acerca da saúde bucal. Cada semana um tema diferente será abordado e um especialista diferente será consultado.

Começamos com o tema “A diabetes afeta a saúde bucal?”. A doutora Senda Charone (especialista em Odontologia Social e Preventiva, especialista e mestre em Odontopediatria da UFRJ e doutoranda em Odontologia pela USP) explica detalhadamente várias abordagens dentro desse tema.

“A diabetes é considerada uma das principais doenças crônicas que afetam o homem atual e sua importância nas últimas décadas vem crescendo principalmente em decorrência do sedentarismo e da obesidade. Existem duas formas de diabetes: tipo 1 e tipo 2. Dos pacientes com diabetes, 90% têm a do tipo 2, que normalmente se apresenta a partir dos 40 anos. A diabetes tipo 1 ocorre em 10% dos diabéticos, que desenvolvem a doença antes de alcançar 25 anos de idade”, explica a doutora.

De acordo com ela, essa doença abrange distúrbios metabólicos, tais como a redução na secreção de insulina, diminuição da utilização da glicose e aumento da produção de glicose. “O paciente diabético apresenta muitas alterações fisiológicas que diminuem a capacidade imunológica e a resposta inflamatória, aumentando a suscetibilidade às infecções. Dentre as afecções sistêmicas que podem estar presentes nestes pacientes, estão inúmeras alterações bucais.”

Segundo Senda, aproximadamente 3 a 4% dos pacientes adultos que se submetem a tratamento odontológico são diabéticos. “Dentre as principais manifestações bucais dos pacientes com diabetes estão a xerostomia, ardor na língua, eritema, distúrbios de gustação, aumento da acidez do meio bucal, aumento da viscosidade e diminuição do fluxo salivar, os quais são fatores de risco para o desenvolvimento da cárie dentária”, esclarece.

Apesar de terem restrições quanto ao uso de açúcar e da secreção deficiente de imunoglobulinas na saliva, estes pacientes têm a mesma suscetibilidade à cárie e a doenças relacionadas ao biofilme dentário do que os indivíduos saudáveis. Porém, a doença periodontal, processo infeccioso que resulta em uma potente resposta inflamatória, é considerada a manifestação bucal mais comum em pacientes diabéticos mal controlados. “Aproximadamente 75% destes pacientes possuem doença periodontal”, afirma a especialista.

A doutora ainda alerta que “o cirurgião-dentista deve estar atento para suspeitar previamente de um paciente diabético não diagnosticado, devendo a história dental incluir perguntas relativas à doença. Pacientes que apresentarem história positiva para a doença devem ser encaminhados a um laboratório de análise clínica ou ao médico para uma avaliação adicional, antes de ser iniciado o tratamento dentário”.

A maioria dos estudos conclui que pacientes diabéticos bem controlados podem ser tratados de maneira similar ao paciente não diabético na maioria dos procedimentos dentários de rotina, porém alguns cuidados devem ser tomados previamente. Devem ser realizadas consultas odontológicas curtas, de preferência no início da manhã. Sobre a dieta do paciente, aconselha-se que continue a se alimentar normalmente antes do tratamento odontológico. Em caso de consultas longas, interromper o procedimento para uma refeição ligeira. “Àqueles pacientes aos quais se prevê dificuldades na ingestão de alimentos sólidos depois do tratamento odontológico, deve-se prescrever dieta de alimentos pastosos e líquidos. Para diminuir os riscos de infecção, devem ser realizados exames laboratoriais, e o uso de antibióticos”, esclarece a especialista.

Doutora Senda finaliza dizendo que “é importante que o cirurgião-dentista identifique as alterações bucais e sistêmicas dos pacientes diabéticos. No caso de suspeita de diabetes, o cirurgião-dentista deve solicitar exames laboratoriais para avaliar a glicemia dos pacientes, encaminhando-os para o serviço médico caso estes se apresentem alterados. No caso de pacientes já diagnosticados diabéticos, estes necessitam de cuidados especiais, sendo importante o contato com o médico que os acompanha”.