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Edição 195
29 de outubro de 2009
Atualmente a ciência é um assunto que desperta interesse, principalmente quando envolve descobertas na área da saúde. A sociedade, preocupada com o corpo e o bem-estar, tem sede de saber o que cientistas estudam e desenvolvem para proporcionar vidas mais saudáveis e longas. No entanto, a divulgação científica não é uma tarefa fácil, visto que envolve, de um lado, cientistas que zelam pela fidelidade ao seu discurso em publicações midiáticas; do outro, jornalistas que querem passar informações em linguagem compreensível ao público leigo. Porém, levar a ciência à população é fundamental.
"A divulgação científica, também chamada de popularização da ciência, é um instrumento de inclusão social e formação de cidadãos. É uma maneira de divulgar avanços na área científica", aponta Wagner Seixas, coordenador de extensão do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ. Ele defende a ação de tornar do domínio público achados que podem trazer melhoria à vida das pessoas e ao desenvolvimento de uma nação. "Trata-se de uma atividade bastante antiga, mas que tem ganhado nova forma nos últimos anos, através dos avanços tecnológicos", relata.
Segundo Wagner, divulgar a ciência é uma ação interdisciplinar: o produtor do conhecimento precisa da ajuda de quem o divulga, normalmente um jornalista, para tornar a linguagem atraente e de fácil compreensão ao leitor. "Ao longo dos anos, observa-se uma necessidade de constante amadurecimento das partes envolvidas: cientistas e jornalistas. Mas diria que, hoje, a atividade de divulgação é muito melhor que cinco anos atrás e, no futuro, melhorará ainda mais", constata o professor.
De acordo com Wagner, cientistas têm visto na divulgação de seus trabalhos uma maneira de prestar contas à população sobre suas ações e achados. Desta forma, se tornam mais bem interpretados e podem acabar com o estigma do "cientista maluco". Já em relação ao jornalista, ele acredita ser o profissional que enfrenta o desafio de servir como um tradutor e adaptador da linguagem. Esse trabalho deve ser feito com atenção para que não ocorram erros de conceitos ou perda da veracidade. "Portanto, o desafio para os dois grupos me parece constante", observa.
É preciso adotar critérios
"A adoção de critérios para a divulgação da ciência é importante, já que nem sempre a imprensa ou o público tem conhecimento sobre o conteúdo publicado. Leitores e espectadores não podem confirmar os resultados dos estudos e acreditam na matéria tal como foi divulgada", justifica Wagner. Para ele, o que acontece é que, em alguns casos, jornalistas adotam uma linguagem conclusiva, ao passo que cientistas utilizam uma linguagem que expressa necessidade de mais pesquisa.
Wagner considera necessária a percepção de que a ciência é uma atividade dinâmica, em constante evolução. Novos achados podem complementar um anterior ou dar outra interpretação a ele. "Desta forma, o jornalista e o cientista não podem atribuir uma verdade incondicional nos relatos dos estudos. É preciso cuidado, pois, mesmo sem querer, podem ser feitas promessas incabíveis ou inatingíveis no momento", adverte.
"Produtores de conhecimento e divulgadores possuem igual responsabilidade na publicação científica e precisam sempre ler e rever cada matéria, antes da publicação. Assim, evita-se que conclusões errôneas sejam deduzidas pelo leitor", argumenta o professor. Ele acredita que tanto cientistas quanto gestores midiáticos se mobilizam constantemente no sentido de melhorar sua relação, em busca de um "casamento perfeito".
O pesquisador avalia que cientistas têm buscado adaptar sua linguagem para serem mais bem compreendidos. Em contrapartida, jornalistas têm se especializado para entender mais sobre a prática científica e, assim, ajudar no processo de popularização da ciência. "Cada um tenta se aprimorar. Considero este trabalho mútuo o fator responsável pela melhoria das matérias científicas divulgadas", constata. Wagner Seixas, no papel de coordenador de extensão, se esforça junto a docentes do IBqM para promover a divulgação científica e aproximar a universidade da sociedade.