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Edição 206
25 de fevereiro de 2010
Foto: Divulgação |
Desde meados da década de 1980 o Programa Jovens Talentosos, criado pelo professor Emérito da UFRJ Leopoldo de Meis, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), ajuda jovens de escolas públicas do Rio de Janeiro a trilhar caminhos de sucesso na área da ciência, através de curso de férias abordando temas e métodos científicos. Em janeiro de 2010 o programa recebeu o prêmio “Faz Diferença” do jornal O Globo na categoria Megazine (relacionada à educação). O coordenador do projeto, professor Wagner Seixas, do IBqM, diz que esse tipo de reconhecimento ajuda a mudar a forma como a sociedade vê os cientistas.
Atualmente, o professor Leopoldo de Meis é responsável pela captação de recursos e pela elaboração do material didático distribuído para os alunos que participam do curso de férias. Wagner Seixas, que está à frente não só do Programa Jovens Talentosos como também do curso de férias, explica que o objetivo desse material didático é mostrar a ciência de uma forma lúdica, que interesse mais ao estudante.
Wagner Seixas conta que há cerca de 20 anos o professor Leopoldo de Meis pediu para alunos de diversas idades desenharem um cientista. Muitas vezes o desenho retratava um indivíduo isolado em seu laboratório, cuja expressão demonstrava ora tristeza, ora loucura. De Meis quis mudar essa imagem do cientista. Na opinião de Seixas, a melhor forma de conscientizar a população de que o cientista não é vilão é mostrar o impacto do trabalho dele na vida dessas pessoas.
“Quando você começa a trabalhar essa mentalidade em um leigo que está chegando na universidade, através dos cursos de extensão e de férias, você ajuda a mudar a cabeça dessas pessoas” afirma o professor que também participou do Programa Jovens Talentosos. Ele completa lembrando que o interlocutor, nesse caso, é o jornalista, que pega a linguagem da ciência e a usa de uma forma que a população entenda. O prêmio “Faz Diferença” cumpre esse papel.
Programa Jovens Talentosos
Os estudantes que mais se destacam no curso de férias são pré-selecionados pelos monitores, levando-se em consideração aspectos como senso crítico, paixão e envolvimento. Esses alunos passam por uma entrevista algumas semanas após o curso. A inserção deles no laboratório de Bioquímica Médica é o primeiro passo após a seleção. Os “novos cientistas” recebem uma bolsa e muitas vezes têm curso pré-vestibular pago pelo programa com o intuito de torná-los capazes de passar no processo seletivo das universidades públicas.
Gislaine Curty Ferreira, por exemplo, é uma jovem talentosa. Ela, que hoje tem 20 anos e espera otimista pelo resultado do vestibular, participou do curso de férias há dois anos e meio. Ex-aluna da unidade Juscelino Kubitschek da Faetec, no Jardim América, Gislaine diz que o curso de férias transformou seu modo de pensar, tornando-a mais crítica. Ela já sabe que foi aprovada para a Uerj e espera o resultado da UFRJ.
Estímulo ao pensamento independente
O curso de férias em si pode ser considerado uma inovação, porque oferece aos alunos a oportunidade de criar experimentos que respondam às indagações que surgem no primeiro dia de aula. Isso acontece sob os olhares atentos dos monitores que são treinados para não dar respostas, mas, sim, estimular o pensamento independente.
Além dos estudantes dessas escolas públicas, os professores do ensino médio também têm a oportunidade de participar de um curso de férias só para eles. Seixas frisa que o Programa Jovens Talentosostambém seleciona alguns professores para esses estágios, dando a eles a oportunidade de fazer mestrado e/ou doutorado e até ingressar no corpo docente da universidade. O Instituto de Bioquímica Médica possui, atualmente, três professores que saíram do curso de férias para mestres.
Graduandos, pós-graduandos e docentes envolvidos no curso de férias também se beneficiam. Leopoldo de Meis, quando iniciou o programa, partiu da premissa de que os alunos só são bem formados se contribuírem de algum modo para a sociedade, estando em contato com a vida fora do laboratório. Ao incluir os bolsistas de iniciação científica do seu laboratório de Bioquímica Médica nesses cursos de extensão, ele propunha justamente esse contato. Já os docentes envolvidos têm a chance de se reciclar fazendo uso de uma metodologia nova.
Essas ideias do professor Leopoldo de Meis já foram exportadas para outras 17 universidades em todo o Brasil, segundo Wagner Seixas. No entanto, cada aplicação do curso tem as suas especificidades, levando em consideração a localidade. Seixas explica que na Universidade Federal do Pará, por exemplo, os temas do curso se relacionam muito com a Amazônia.
Para Seixas, o desafio do programa no Rio de Janeiro, onde apenas um em cada cinco inscritos consegue a vaga, é abarcar mais estudantes e escolas. Na seleção, o coordenador do curso conta que o objetivo é sempre pegar alunos do maior número de instituições de ensino possíveis, ainda que sejam poucos de cada. A prioridade é para estudantes da terceira série do ensino médio, porque essa é, em tese, a última chance que eles têm de fazer o curso de férias.
A ideia de Wagner Seixas é, no futuro, levar o curso para ser ministrado nas próprias escolas, principalmente nas de outros municípios do estado do Rio de Janeiro. O professor reconhece que é importante levar o aluno à universidade, mas lembra que conduzir o curso dentro da escola pode mudar a forma de se ensinar ciências nas instituições.