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Edição 193
15 de outubro de 2009

Microscópio

Brincadeiras que formam cidadãos

Cília Monteiro

“Psicomotricidade é uma prática que visa à maturação psicológica da criança pela via motora. A psicanálise é a base de sua teorização, pois permite compreender a criança através de seu inconsciente. É complementada por estudos da psicologia genética e abordagens sociopsicanalíticas”, explica Márcia Fajardo de Faria, professora-adjunta da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ. Segundo ela, trata-se de uma definição do psicomotricista francês Bernard Aucouturier. É bastante utilizada, por ser simples e objetiva.

“De acordo com a a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP), trata-se da ‘ciência que tem como objeto de estudo o homem, através de seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto’”, informa Márcia. Sendo assim, psicomotricidade é um termo para a concepção de movimento organizado e integrado. Ocorre em função das experiências vividas pelo sujeito, que age de acordo com sua individualidade, linguagem e socialização.

A psicomotricidade trabalha em dois campos de atuação: educação e terapia psicomotoras. “A tônica central se funda no respeito à criança, na importância de ela poder ‘se dizer’ e ter a possibilidade ‘de ser’ na relação com o adulto”, observa a professora.

Márcia explicou que a prática psicomotora educativa é vista como um itinerário de maturação psicológica, que permite à criança viver um percurso que vai do prazer de agir ao de pensar. Está dirigida ao público de creche e pré-escola. “Tem como objetivo ajudar na constituição de um ser autônomo, criativo e cidadão. Para isso, visa favorecer a comunicação entre as crianças, sua expressão, criação e descentralização, o que possibilita a abertura ao pensamento operatório”, relata.

Já a prática psicomotora terapêutica está inserida no campo da saúde e tem como foco a compreensão das patologias psicomotoras e suas consequências relacionais, afetivas e cognitivas. Neste caso, a referência é sempre o desenvolvimento psicodinâmico da motricidade da criança. Baseia-se na avaliação, diagnóstico e tratamento dos distúrbios psicomotores, tendo como principal objetivo a integração somatopsíquica.

De acordo com Márcia, uma das grandes contribuições do psicomotricista Bernard Aucouturier foi estruturar uma prática psicomotora coerente com sua visão de psicomotricidade. Isso foi feito a partir de uma síntese teórica construída ao longo de mais de 30 anos de vivência e estudos na área. “Em sua proposta metodológica, tudo tem um porquê, ficando claramente definido o que cabe ou não. Esta coerência interna se traduz em efetiva ajuda à criança, o que tem sido constatado pelos psicomotricistas que atuam com a Prática Psicomotora Aucouturier (PPA), seja no campo da educação ou da terapia”, constata.

Segundo Ruth Helena Pinto Cohen, também professora da EEFD, a psicomotricidade, conforme é concebida por Aucouturier, utiliza-se da brincadeira espontânea da criança. “Para a maioria dos autores, o brincar é uma forma de comportamento característica da infância e pertence a um conjunto de atividades. Estas incluem jogar, correr, pular, mexer com areia ou água, fantasiar situações que transcendem as necessidades imediatas da vida e conferem um sentido à ação”, aponta.

Conforme explicou Ruth, acredita-se que o processo de imaginação influencia os sentimentos. “Por outro lado, segundo o autor Vygotsky, o brincar ‘contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande força de desenvolvimento’”, acrescenta.

Ruth e Márcia coordenam o Projeto Brincante, que, através dos recursos orientados pela psicomotricidade, contribui para aliviar tensões nas salas de espera do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ. O Brincante também procura atenuar a dor psíquica de crianças em tratamento com quimioterapia, na recém-inaugurada sala Aquário Carioca.

Encontro de Psicomotricidade

Para discutir a psicomotricidade e o brincar em seus campos de atuação, no dia 23 de outubro acontece o “II Encontro de Psicomotricidade da EEFD – UFRJ: olhares sobre o brincar”. “Esse evento tem por objetivo promover, para alunos e professores da UFRJ, uma troca de experiências com representantes de instituições públicas e privadas. Serão abordadas diferentes práticas psicomotoras e as ações que vêm sendo realizadas dentro do âmbito da pesquisa e da intervenção. Podem-se avaliar, assim, as consequências sociais dessas ações”, relata Ruth Cohen.

O encontro, promovido pelo Departamento de Corridas da EEFD, ocorre das 7h30 às 17h, no auditório Rodolpho Paulo Rocco, localizado no bloco K do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ. O endereço é avenida Carlos Chagas Filho, 373, Cidade Universitária. Mais informações pelo e-mail encontropsmteefd@yahoo.com.br.

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