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Edição 189
17 de setembro de 2009
Equipe de pesquisadores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCFF) da UFRJ, coordenada pelo médico e pesquisador Marcelo Morales, é pioneira no desenvolvimento do tratamento da silicose através de injeções de células-tronco provenientes da medula óssea dos próprios pacientes. O procedimento está sendo testado em dez pacientes, previamente selecionados, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e promete impedir a evolução da doença, que não tem cura.
Sobre a escolha pelo tratamento da silicose entre outras doenças pulmonares, Morales afirma que “além de não dispor de tratamento, a silicose atinge muitos indivíduos no país, em particular no Rio de Janeiro, que, no passado, tinha uma indústria naval forte e por isso mesmo tem ainda hoje um grande número de doentes. Esse é o motivo por que está sendo nosso primeiro alvo para teste em humanos”. A mesma técnica pode ser aplicada à asma grave, à doença pulmonar obstrutiva crônica e à síndrome do desconforto respiratório agudo.
A silicose é causada pela inalação da poeira de sílica — principal componente da areia e matéria prima do vidro, muito utilizada na fabricação de cimento – provocando inflamações nos pulmões que podem levar a dificuldades respiratórias, cianose, febre e que pode ser fatal a longo prazo. Não há como retirar as partículas de sílica dos pulmões. Atualmente, a doença atinge cerca de 6 milhões de pessoas no Brasil.
A presença de partículas de sílica nas vias respiratórias ativa a atuação dos macrófagos, células sentinela de defesa do organismo. Ao tentar fagocitar a sílica, os macrófagos liberam enzimas, que agravam a inflamação pulmonar, e terminam destruídos no processo. "É uma reação em cadeia, irreversível, que termina fazendo com que se forme nos pulmões um tecido cicatricial, sem função de troca gasosa. Formam-se os granulomas. É a chamada fibrose pulmonar", esclarece Marcelo Morales.
O tratamento já foi bem sucedido quando testado em animais há quatro anos pelo mesmo grupo de pesquisa. Ele é realizado a partir de uma broncoscopia na qual as células-tronco são injetadas diretamente no pulmão. No final de agosto, o tratamento foi iniciado no primeiro paciente e a cada semana será aplicado aos demais. Os resultados só serão conhecidos daqui a um ano.
— O procedimento é feito apenas uma vez. Cada paciente recebe uma única injeção de células-tronco adultas derivadas de medula óssea. Trata-se da fase de teste de segurança do procedimento em seres humanos, a chamada fase 1. Mas podemos dizer que o experimento foi um grande sucesso e o paciente recebeu alta no dia seguinte à aplicação – constata o pesquisador.
Resultados e ampliação dos testes
De acordo com Marcelo, nos testes em laboratório, “as células-tronco conseguiram diminuir a atividade dos macrófagos, fazendo com que a fibrose diminuísse. Além disso, todos os parâmetros da função dos pulmões melhoraram nos animais tratados com elas". Com a evolução dos testes, o grupo de pesquisa espera atingir novas descobertas, identificar quais as células-tronco da medula são mais efetivas no tratamento pulmonar.
Para tal, é necessário ampliar os estudos. Deste modo, o grupo de pesquisa do Instituto de Biofísica da UFRJ busca candidatos ao tratamento da silicose através de células-tronco da própria medula óssea. Os interessados devem entrar em contato com o professor Marcelo Morales pelo telefone (21) 2562-6722 ou 2562-6572. A previsão é de que a nova técnica esteja disponível para a população em cinco anos.