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Edição 193
15 de outubro de 2009
“Comer carne e peixe na mesma refeição encurta a vida” ou “chupar manga e tomar leite logo em seguida causa indigestão” são alguns mitos sobre alimentação que, mesmo sem provas, acabaram se tornando verdades absolutas para a população. Mas a chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Regina Lago, esclareceu essas e outras dúvidas no I Encontro Regional de Ciência e Tecnologia de Alimento, realizado nessa quarta-feira (14/10), no Salão Nobre do Centro de Tecnologia da UFRJ.
“Muitos desses mitos são criados a partir da pequena frase ‘Isso faz mal’. A crendice se espalha para outras pessoas e acaba se tornando uma verdade absoluta, sem que exista qualquer comprovação científica sobre o assunto”, explicou Regina. “Tais teorias são baseadas na falta de informação; por isso, a veracidade precisa ser questionada, já que nem sempre o que serve para um serve para todos”, completou.
Esses tabus alimentícios geralmente restringem dietas e podem surgir por diversas motivações culturais. “A religião é um exemplo. Na Índia, o boi é um animal sagrado e, por esse motivo, a população não usa a sua carne. Já os judeus não comem carne de porco, pois o consideram impuro e não querem se contaminar. Nas sextas-feiras santas, os católicos abrem mão da carne em respeito ao sangue de Cristo. Em todos esses casos, dietas são restringidas por motivações religiosas”, destacou.
Fatores econômicos também podem influenciar a criação dos mitos. “A história da manga e do leite surgiu no Brasil colonial. Os senhores das fazendas não tinham como controlar o consumo de frutas dos escravos nas propriedades. Para reprimir o excesso, eles difundiram essa teoria, que acabou virando uma grande crença popular”, contou Regina. Assim, alguns dos mitos surgem como forma de evitar a escassez de alimentos.
Mito do Popeye
Por volta de 1870, o espinafre passou a ser considerado uma fonte rica em ferro. O mito cresceu e se consolidou em 1929, com a criação do desenho animado Popeye. Nele, toda vez que o marinheiro comia a verdura se tornava mais forte. “O espinafre se tornou muito popular, principalmente entre as crianças. Porém, com estudos mais aprofundados, viram que na realidade a verdura possuía ácidos oxálicos que inibiam a absorção do ferro pelo organismo. Por isso, o mito chegou ao fim”, contou Regina.
O I Encontro Regional de Ciência e Tecnologia de Alimento comemora o Dia Mundial da Alimentação (15/10) e tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a difícil situação de populações carentes que passam fome e desnutrição. “A tecnologia pode ser uma grande aliada no combate à fome. No Brasil, é preciso que a universidade discuta essas questões. Devemos formar não só profissionais, mas também cidadãos conscientes e dispostos a mudar a realidade social do país”, frisou o decano do Centro de Tecnologia da UFRJ, Walter Suemitsu, durante a abertura do evento.
Mitos e verdades:
Tomar água em jejum emagrece?
Não, a água ajuda no funcionamento do intestino.
Banana reduz câimbras?
Em alguns casos, por ser rica em potássio. Mas isso não acontece em todos os casos.
Diabéticos podem ingerir mel?
Não, o mel tem as mesmas calorias que o açúcar.
Carnes malpassadas são ricas em ferro?
Não, a quantidade de ferro não se altera nesse caso, e ainda existe o risco de intoxicação alimentar.
Azeite em excesso faz bem?
Nada em excesso faz bem. O azeite possui componentes extravirgens, benéficos ao organismo, mas ao mesmo tempo possui gordura, o que pode ser prejudicial.
Produtos diets ajudam a emagrecer?
Não, esses produtos são destinados a dietas com restrição de nutrientes (proteínas, carboidratos, gorduras), mas não servem para emagrecer.
É aconselhável o consumo de açaí?
Sim, é um produto que possui antioxidantes, além de ser uma fonte de energia importante para atletas.
Alimentos transgênicos são melhores?
Até hoje não existem contraindicações aos transgênicos. Eles levam a um menor consumo de herbicidas e melhoram a qualidade nutritiva do alimento.