A disseminação do vírus H1N1, também conhecido como Influenza A, tem gerado muita preocupação diante do fato de que há o difícil acesso aos medicamentos e poucas opções de tratamento. Por isso, o tratamento desse vírus tem sido um dos assuntos cada vez mais citados em estudos e pesquisas no mundo inteiro. A Faculdade de Farmácia e o Instituto de Virologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a participação da professora Carla Holandino, em parceria com o Instituto Roberto Costa, produziram um medicamento homeopático produzido a partir do vírus Influenza A.
O medicamento faz parte de um estudo iniciado pelo Instituto Roberto Costa, em 2005, em Paris, por ocasião da “WORLD MEDICAL CONFERENCE – Homeopathy and Avian Influenza”, um desafio lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido à preocupação com uma futura epidemia da Gripe Aviária, que também é um vírus Influenza A, mas do tipo H5N1. O trabalho teve sequência no ano seguinte, em Londres, na Conferência do Royal London Homoeopathic Hospital – University College London Hospitals, onde foram iniciadas a parceria com a Faculdade de Farmácia da UFRJ e a proposta de se desenvolver um medicamento homeopático, antiviral, visando à Gripe Aviária.
Roberto Costa, médico da cidade de Petrópolis que trabalhou durante 40 anos com homeopatia, desenvolveu uma técnica inovadora para o preparo dos medicamentos. A técnica baseia-se no uso de micro-organismos vivos, que é o grande diferencial de seu estudo. Com a impossibilidade de acesso ao vírus da Gripe Aviária, considerado uma arma biológica, especialistas em Influenza da UFRJ foram convocados para começar o estudo do medicamento a partir de um vírus da gripe tradicional e outros, entre eles o H1N1.
No final de 2006, o Comitê Internacional de Ciência para Homeopatia em Influenza (ISCHI) lançou um edital oferecendo apoio financeiro a grupos de pesquisa que quisessem produzir medicamentos homeopáticos para Influenza. O projeto da UFRJ e do Instituto Roberto Costa foi então aprovado.
Em 2008, o projeto passou pelo Comitê de Ética da UFRJ para ser testado em crianças, visando medir sua eficácia. O medicamento, que foi distribuído, durante abril deste ano, para 600 crianças de Petrópolis, região do Estado do Rio onde muitas têm gripe, teve bom resultado: as crianças que receberam as gotas do remédio não adoeceram. Segundo Carla Holandino, não existe nenhum medicamento profilático, assim como há para os idosos, para o tratamento da gripe em crianças.
Diante dos resultados e da preocupação com a nova gripe, a Secretaria de Saúde de Petrópolis entrou em contato com a UFRJ para nova distribuição de 1.600 doses do medicamento, agora fazendo uso do vírus H1N1, numa versão parecida com a da gripe em vigor. Desta vez, as grávidas foram escolhidas como público-alvo, devido aos maiores riscos e à impossibilidade e insegurança de se fazer uso do Tamiflu, medicamento indicado para o tratamento da Gripe H1N1.
Segundo Carla, a parceria com a Secretaria de Petrópolis foi muito importante, pois possibilitou a ampliação dos dados, de 600 para 1.600 pacientes usando especificamente o medicamento produzido pelo Instituto Roberto Costa e pela UFRJ. “Caso o medicamento tenha uma atividade antiviral significativa, poderá se tornar uma opção no tratamento da gripe. Porém, é sempre importante ressaltar que este medicamento não substitui, de forma alguma, o Tamiflu. A homeopatia vai apenas fazer o papel de agente complementar no tratamento da nova gripe”, ressalta Carla Holandino.