A UFRJ está desenvolvendo um projeto pioneiro na produção de etanol a partir de macroalgas marinhas. O ProAlga visa aperfeiçoar o processo de obtenção de álcool através da hidrólise e fermentação da biomassa de macroalgas marinhas. Iniciada no Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG), agora a idéia é compartilhada por professores de outros institutos da UFRJ, como o Instituto de Química (IQ), o Núcleo de Pesquisas em Produtos Naturais (NPPN), a Escola de Química (EQ) e SAGE-COPPE.
O estudo inédito foi motivo de pedido de patente nacional em novembro de 2007 e também do depósito internacional no PCT (Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes, na sigla em inglês), por meio da Agência UFRJ de Inovação. Essa medida vai permitir que a nova tecnologia seja também protegida em outros países, com royalties para a UFRJ.
A idéia do processo para obtenção do bioetanol começa com a coleta e secagem das macroalgas. Em seguida, a massa algácea é triturada e sofre hidrólise (quebra da cadeia de carboidratos) e, por fim, ocorre a fermentação do hidrolisado e a destilação. “O professor Allen Norton, do Instituto de Microbiologia, superou um dos grandes obstáculos do projeto que era encontrar um tipo de levedura que fermentasse o extrato de alga com a eficiência necessária. Falta agora conseguir o financiamento para a adaptação do processo do estágio de bancada para o estágio de produção piloto”, diz o professor Maulori Cabral, que lidera o grupo ProAlga.
A tecnologia faz parte da terceira geração de bioálcool. “A primeira geração é aquela que usa a cana-de-açúcar ou o milho. A segunda usa celulose das plantas e a terceira, as algas”, explica o professor a classificação adotada pelo professor Nei Pereira Jr., integrante do ProAlga.
De acordo com Maulori, no plantio da alga Kappaphycus alvarezii obtêm-se de 100 a 300 toneladas de massa seca por hectare/ano. Isso possibilita a produção de álcool sem se necessitar de terra, adubo ou irrigação. Para se ter uma idéia, no Estado de São Paulo a colheita de cana-de-açúcar por hectare/ano fornece 12 toneladas de sacarose, o que permite a geração de 6,08 toneladas de álcool. O Brasil tem um extenso litoral e as águas mornas do Nordeste representam grande potencial para a cultura de algas. O Ceará, por exemplo, exportou 200 toneladas nos últimos cinco anos. As algas utilizadas no projeto são do gênero Gracilária, Kappaphycus e Hypnea.
O professor Maulori destaca que o aperfeiçoamento do processo de hidrólise está em curso para aproveitar plenamente o potencial do extrato de algas.
Efeito Estufa
O aquecimento global é uma realidade que está se intensificando a cada ano e suas conseqüências devastadoras já são perceptíveis em diversas paisagens. De acordo com o professor Maulori, o mar absorve três gigatoneladas de CO2 por ano, enquanto a queima de combustíveis fósseis, aliada à queimada de florestas, libera sete gigatoneladas. Isso significa que a cada ano quatro gigatoneladas de CO2 são lançadas na atmosfera.
Na luta contra esse grande problema ambiental, o ProAlga surge como ótima fonte de energia renovável. “Ao contrário do que muitos pensam, a floresta amazônica não é o ‘pulmão do mundo’, já que grande parte do oxigênio que ela produz na fotossíntese é depois consumida na respiração, efetuada pela própria cobertura vegetal. As algas marinhas, por sua vez, produzem muito mais oxigênio do que utilizam na respiração, sendo responsáveis por 90% da produção de O2 do planeta”, afirma Maulori.
Essa é uma grande vantagem do projeto, já que pode se converter em benefício não só ecológico, mas também econômico. No intuito de conter o avanço do efeito estufa, acordos internacionais estabelecem limites para a emissão de gases poluentes na atmosfera. Dessa forma, empresas e países que excedem sua cota de poluição têm que comprar o “direito de poluir a mais” de empresas e países que mantiveram suas emissões abaixo do limite. Uma tonelada de CO2 equivale a um crédito de carbono que pode ser negociado, no mercado internacional, ao preço de 10 a 20 euros.
Outros Benefícios
O ProAlga apresenta ainda outras vantagens além do aumento da produção nacional de álcool sem competir com a agricultura alimentar. As algas não necessitam de irrigação, atraem mais peixes e despoluem gradativamente águas poluídas. Quando associadas à produção de camarão, a produtividade do cultivo é elevada em três vezes. Têm também aplicação na agricultura como fertilizante e são fonte de alimento rica em muitos tipos de vitaminas, sais minerais e proteínas. Elas fazem parte da alimentação diária em muitos países, principalmente na Ásia.
Um dos objetivos do ProAlga, segundo o professor Maulori, é alcançar a auto-suficiência nacional em produtos agrícolas de origem marinha, já que o Brasil importa muitos desses artigos, que são de alto valor. Ele classifica as algas como “o gigante adormecido do agrobussiness nacional”, devido as suas múltiplas aplicações. Além de gerar energia, elas também são a matéria-prima para espessantes e gelificantes utilizados nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética. A carragenana e o agar-agar são dois exemplos. A primeira é muito utilizada na fabricação de alimentos como espessante e o segundo é um gelificante de grande importância para a microbiologia, pois é usado como meio de cultura, e para a biotecnologia.
Para o futuro, a expectativa é de que haja maior incentivo ao cultivo de algas e um aprimoramento do processo de secagem, que é ainda muito artesanal. “O melhor de tudo é que a idéia do ProAlga surgiu a partir de uma clássica situação de serendipity (descoberta científica feita por acaso)”, conclui o professor Maulori.
Empresas que se interessem em desenvolver mais a tecnologia já podem entrar em contato com a Agência UFRJ de Inovação, pelo telefone: 2598-1748.