A dengue é um dos principais problemas de saúde pública atualmente, correspondendo a uma realidade em mais de 100 países ao redor do mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 50 a 100 milhões de pessoas se infectem anualmente. Desses casos, cerca de 20 mil levam à morte.
No Brasil, as condições socioambientais favoráveis à expansão do Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus, possibilitaram a dispersão do vetor, desde sua reintrodução em 1976, e o avanço da doença. Só no Rio de Janeiro foram 127 mil casos de dengue registrados no ano de 2008, que resultaram em 106 mortes na capital.
Em busca de uma solução ao problema, foi desenvolvido o Projeto Genoprot Dengue, que consiste numa rede de pesquisa multidisciplinar, focada no estudo da doença causada pelo vírus da dengue, utilizando técnicas avançadas de proteômica. O projeto envolve as instituições UFRJ, UERJ e Fiocruz.
A finalidade do Genoprot Dengue é o estudo das várias etapas do desenvolvimento da doença, para que se torne possível chegar a resultados como a elaboração de medicamentos. “No momento fazemos análises proteômicas das células humanas infectadas com a dengue. Determinamos a estrutura das proteínas envolvidas na doença”, explica Paulo Mascarello Bisch, coordenador do projeto e professor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da UFRJ.
O restante da equipe envolvida no trabalho estuda os processos fisiológicos, que correspondem a transformações fisiológicas induzidas pelo vírus da dengue.
Mecanismo
Segundo Paulo, na fase atual da pesquisa o grupo procura entender o mecanismo da doença, principalmente o fator que leva diversos pacientes à morte. “Estamos estudando os processos fundamentais que acontecem. Já conseguimos identificar proteínas que, por exemplo, são expressas e sintetizadas diferentemente se a célula está infectada com o vírus, comparando a uma célula não infectada”, relata Bisch.
A partir do avanço alcançado na identificação das proteínas, os pesquisadores procuram imaginar qual é o processo celular a que está associada a doença. “Dessa forma podemos propor um mecanismo de ação da resposta da célula”, observa o coordenador.
A metodologia utilizada consiste em técnicas proteômicas. “Pode ser através da eletroforese, método que envolve a separação das proteínas em géis bidimensionais”, especifica Paulo. Também é utilizada a cromatografia, técnica de separação de misturas, e a espectrometria de massas, que permite a identificação das proteínas.
De acordo com Bisch, há ainda outra série de metodologias relacionadas à Biologia Molecular. “Elas envolvem desde a clonagem de alguns genes até o estudo geral da expressão dos genes numa célula, através de uma técnica chamada microarranjos de DNA”, indica o pesquisador.
O conhecimento adquirido pelo grupo na atual fase do estudo permitirá a realização de uma próxima etapa. “Por enquanto limitamos nosso foco nos processos fundamentais que ocorrem nos níveis fisiológico, celular e molecular nessa doença. Mas futuramente poderemos estudar possíveis fármacos e vacinas”, conclui Paulo Bisch.