A busca de informação na internet se tornou um hábito para a maioria das pessoas, que não se restringem a procurar notícias sobre famosos ou realizar pesquisas escolares. Nos últimos anos, os consultórios se viram invadidos por pacientes que se informam previamente, a partir de sintomas, sobre as possíveis doenças e até os tratamentos.
Para saber o que os médicos acham do assunto, o Olhar Vital entrevistou os doutores José Rodolfo Rocco, professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, e Maurício Tostes, professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRJ.
José Rocco
Professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina
“Eu acho que existem duas coisas. Primeiro é o paciente que procura informação sobre o médico antes de marcar consulta. No consultório, normalmente, nós somos referenciados por alguém, algum cliente. Enfim, tem sempre alguém que indica. Ninguém vai ao consultório assim, aleatoriamente.
Entretanto, ultimamente, a gente tem recebido alguns pacientes que procuram o currículo Lattes do profissional, e vão investigar a vida do profissional antes da consulta. Através do currículo Lattes, você fica sabendo o que o médico pesquisa, onde ele trabalha, a área de especialização etc.
Há também o paciente que, graças ao acesso à internet, pode ter acesso à doença que tem, quando já foi dado o diagnóstico. Porque, quando o paciente não tem um diagnóstico, está, por exemplo, apenas com um sintoma — dor de cabeça, dor na barriga —, não adianta ele procurar isso na internet, que não vai chegar a lugar nenhum. Mas quando se tem o diagnóstico de alguma doença, aí sim, você vai ao Google (um dos mais procurados buscadores da internet), digita o nome da doença e aparece um monte de referências.
Como a internet é livre, você tem informações que são excelentes e informações que são até errôneas. Eu acho que os sítios com o respaldo da sociedade médica responsável da especialidade, de universidades — geralmente, as universidades americanas têm sítios muito interessantes para você buscar — ou então de grupos de auto-ajuda, como os de pacientes com Parkinson, pacientes com diabetes, dão informações confiáveis e éticas. Sendo éticas, essas informações normalmente não levam à automedicação. Mesmo porque existe um aconselhamento nesses sítios orientando a procurar um médico.
A maior fonte de automedicação ainda é o balconista da farmácia. Às vezes, um ou outro pode dar até um conselho — “Olha, você pode tomar esse remédio, mas procure seu médico.” Muitas vezes a pessoa melhora do sintoma, não procura um médico e posterga o diagnóstico definitivo. Várias doenças podem ser mascaradas pela automedicação.
Entretanto, alguns sintomas banais eventualmente nós temos, tomamos os remédios e ficamos bons. E isso não é doença. Todos nós temos uma “minifarmacinha” em casa para as coisas triviais, e isso aí não representa maior problema. Apenas os sintomas que são repetidos. Você ter uma dor de cabeça de vez em quando, trivial, é uma coisa, mas ter uma dor de cabeça diária é sinal de que algo está errado. Aí você deve procurar um profissional.”
Maurício Tostes
Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRJ
“Há uma mudança na postura dos pacientes nos tratamentos em geral. As pessoas atualmente tendem a ter postura mais ativa nos tratamentos e uma das formas com que essa postura se manifesta é na busca de informações. Muitos pacientes querem participar das decisões referentes ao tratamento, querem ser mais bem informados pelos médicos e pelos profissionais de saúde.
Em função disso, muitas pessoas vão às consultas já levando algumas informações que recolheram nas mais diversas fontes, sejam jornais, livros ou sites da internet. Há uma infinidade de maneiras de se consegui-las. Muitas vezes, as informações que os pacientes trazem não são corretas. Isso é uma desvantagem.
Por exemplo, muitas vezes as pessoas lêem a parte técnica de uma bula de remédio e interpretam de maneira errônea aquelas informações. Ao ler na bula um efeito colateral raro associado, deixam de tomar o medicamento.
Mas a postura ativa no tratamento é, em geral, benéfica. O paciente quando entende melhor o tratamento, quando tira suas dúvidas com o médico, tende a colaborar mais. Cabe ao médico e aos outros profissionais de saúde corrigir algumas distorções, algumas informações trocadas.
A internet é uma fonte de informações em geral, não só sobre a saúde. Muitas dessas informações são boas, mas outras são de péssima qualidade. E nem sempre uma pessoa consegue distinguir a qualidade das informações obtidas. Existem algumas organizações não-governamentais, associações de pacientes, associações ligadas a serviços de saúde, ou mesmo alguns laboratórios farmacêuticos, que dispõem de sites dirigidos para o público leigo. Por exemplo, a Associação Brasileira de Psiquiatria dispõe de um serviço para o público leigo no seu site. Grupos como o Pela Vidda, para pessoas com HIV, e o Grupo Otimismo, para pessoas com hepatite, são boas fontes de informações sobre os tratamentos e sobre a convivência com a doença.”