• Edição 169
  • 30 de abril de 2009

Ciência e Vida

Prissma: Projeto Interdisciplinar em Sexualidade, Saúde Mental e AIDS



Projeto entre Estados Unidos e Brasil discute a prevenção de doenças sexuais em portadores de transtornos mentais

Larissa Rangel - AgN/PV

Estudos nacionais e internacionais evidenciam a forte incidência de doenças sexuais, em especial a AIDS, em portadores de transtorno mental grave.  Pensando nas questões acerca desse problema, surge o Projeto Interdisciplinar em Sexualidade, Saúde Mental e AIDS (PRISSMA). Basicamente, o projeto consiste em um estudo colaborativo entre Brasil e Estados Unidos, financiado pelo National Institute of Mental Health (NIMH), e numa aliança entre o Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS), a Secretaria Municipal de Saúde – RJ, o HIV Center-NY e a Universidade de Columbia.

Claudio Gruber Mann, coordenador do projeto no Brasil e enfermeiro com mestrado em Saúde Mental e AIDS do Instituto de Psiquiatria explica que já existe, na unidade, iniciativa similar, como a Oficina de Saúde e Sexualidade, criada por ele e e que já funciona há cerca de 15 anos. Mas, a partir da análise das pesquisas de intervenção norte-americanas, voltadas para a prevenção de AIDS em portadores de transtornos mentais, nasce a ideia de trazer para a realidade brasileira uma proposta semelhante. “O trabalho da Oficina não é tão estruturado, apesar de termos obtido três prêmios nacionais. Através do PRISSMA, queremos provar que é possível um trabalho de prevenção com usuários de saúde mental no país”, esclarece.

Informação em larga escala

O objetivo do trabalho é, inicialmente, desenvolver uma pesquisa capaz de instruir não só os “pacientes”, mas, sobretudo, os profissionais de saúde quanto à necessidade de se trabalhar com a prevenção às DST/AIDS em usuários de saúde mental. “Além disso, é preciso acabar com o tabu de que propostas como essa possam fomentar a prática sexual e aumentar os riscos de infecção por esses usuários”, salienta o coordenador.

O método de pesquisa baseia-se em cursos de discussão oferecidos – “HIV, to de olho em você” e “Vida Saudável” -, com exercícios e técnicas específicas e com toda uma equipe profissional qualificada e comprometida.  São realizados, ao todo, oito encontros semanais que se estendem para além do Instituto, sendo aplicados também nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em Inhoaíba, em Santa Cruz e Campo Grande, no Instituto Nise da Silveira, Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro e no Instituto Philippe Pinel.

— Para entrar no curso, faz-se uma pré-seleção. Os recrutadores avaliam os usuários em geral para ver se eles atendem aos critérios da pesquisa do Prissma. Depois, eles são entrevistados por psicólogos e questionados sobre sua vida sexual e vida geral. Então, são sorteados para um dos cursos oferecidos.  Ao terminar, são chamados a fazerem aulas de reforços e entrevistas após três, seis e 12 meses — esclarece Claudio Gruber Mann. Segundo as suas considerações, as entrevistas são de grande importância, pois através delas podem-se analisar os impactos.

Resultados satisfatórios

O projeto é vitorioso no que diz respeito à opinião dos envolvidos. O curso não procura e nem trata os usuários como pacientes, mas como alunos. Os usuários até recebem certificado de participação e a reação deles ao projeto é positiva. Segundo pesquisas prévias, cerca de 95% relataram estar satisfeitos com a intervenção.

Outro aspecto do projeto é envolver a família do usuário de saúde mental.  Profissionais dos serviços envolvidos conversam com os familiares para mudar a visão quanto à vida sexual dos usuários. Sobretudo, foi possível expandir o conhecimento sobre as taxas de comportamentos de risco dessa população no Brasil e criar um complexo banco de dados também nos Estados Unidos.

Objetivo de expansão nacional

A pesquisa está mudando a abordagem. Antes incluía apenas usuários de saúde mental em estado grave, mas agora participam usuários de saúde mental de forma geral, comprovando a eficácia do estudo. A proposta é fazer uma avaliação geral do projeto em 2011, mostrando que os pacientes psiquiátricos têm risco de infecção sexual maior que a população em geral, estando, contudo, dispostos a conversar sobre seus comportamentos sexuais e iniciar uma atividade preventiva.

O custo muito alto pode ser apresentado como uma das causas para a baixa decorrência de projetos similares. No entanto, partindo de órgãos governamentais e de apoios internacionais, o projeto torna-se altamente viável. “Uma vez comprovada a sua eficácia, a nossa proposta é que a intervenção seja disseminada e incorporada aos serviços de saúde mental de todo o país. É preciso ter em mente que a sexualidade faz parte de qualquer ser humano”, conclui Gruber Mann.