• Edição 161
  • 26 de fevereiro de 2009

Argumento

Universidade em defesa da cidadania

Luana Freitas

Problemas ambientais, ruas sem asfalto e um índice de 21% em infestação por Aedes Aegypti é a realidade dos moradores do bairro de Tubiacanga, localizado próximo ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, na Ilha do Governador. Para melhorar a qualidade de vida dessa comunidade, a UFRJ vai oferecer um reforço a mais a partir da parceria estabelecida com o Programa “Saúde e Educação para a Cidadania”, do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da UFRJ. O projeto desenvolverá ações educativas e sociais na região na tentativa de aproximar a universidade das comunidades em seu entorno.

De acordo com a pedagoga e mestre em Educação, Florence de Faria Brasil Vianna, coordenadora do programa e integrante da Coordenação de Extensão do CCS, a proposta de dialogar com as populações próximas à Cidade Universitária fortaleceu-se em 2008 a partir do Encontro de Direito Ambiental, promovido pela Associação de Moradores da Freguesia. “Por meio desse encontro, estabelecemos contato, principalmente, com a Associação de Moradores de Tubiacanga, um bairro ocupado que fica próximo ao Mangue e às comunidades de pescadores. Embora hoje esteja legalmente estabelecida, a região ainda passa por uma série de problemas de saúde e ambiente”, destaca Florence.

A professora realizou, no início de 2009, uma reunião com o Movimento Insulano Comunitário (MIC), que representa os 12 presidentes de associações de moradores da Ilha do Governador ― composta por 12 sub-bairros e 15 comunidades estabelecidas. “Durante a realização do MIC, os presidentes solicitaram esse estreitamento entre a universidade e as comunidades. Esclarecemos, contudo, que nosso trabalho não pode substituir o papel do Estado. O Estado tem a função primordial de trabalhar questões como direito social, saúde e educação”, ressalta.

Ações em saúde e educação

Além de Tubiacanga, o Programa “Saúde e Educação para a Cidadania” vai atuar ainda nos bairros de Parque Royal, Dendê, Servidores e Freguesia, todos na Ilha do Governador. De acordo com Florence, as principais ações a serem realizadas nessas comunidades envolvem oficinas de saúde e ambiente, orientações sobre o combate ao mosquito da dengue e projetos na Escola Municipal Comandante Guilherme Fischer, localizada em Tubiacanga.

Em uma parceria com o Instituto de Microbiologia, o programa promoverá na região o “Fuzuê do Dengue”, trabalho organizado pelos professores Maulori Cabral e Isabel Liberto que busca divulgar medidas contra o Aedes Aegypti. Na Escola Municipal de Tubiacanga, as atividades prevêem a elaboração da Agenda 21, isto é, um cronograma de ação com o objetivo de melhorar a qualidade ambiental no bairro, além da realização de oficinas de saúde vocal e de combate ao tabagismo, coordenadas, respectivamente, pela professora Ângela Garcia e pela doutora Márcia Trotta.

Já as oficinas de saúde e ambiente podem ganhar, ainda este ano, o apoio financeiro da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero). Conforme explica Florence, “em março, teremos uma reunião com a Infraero na qual vamos apresentar o projeto para que ela possa patrocinar as oficinas de saúde e ambiente nessas comunidades da Ilha do Governador. Isso é um avanço para o programa, pois não vamos ter mais somente o apoio da verba interna”.

Programa "Saúde e Educação para a Cidadania"

Criado em 2006 como desdobramento da revista homônima, o programa “Saúde e Educação para a Cidadania”, da Coordenação de Extensão do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da UFRJ, procura estimular o diálogo entre a universidade e as comunidades carentes da Baixada e do Leste Fluminense. “Durante a gestão do professor Antônio José Barbosa de Oliveira na Coordenação de Extensão do CCS, começamos a confeccionar uma revista que fosse um veículo de divulgação da universidade nas escolas públicas do estado do Rio de Janeiro. Em 2006, quando a professora Diana Maul assumiu a Coordenação de Extensão do CCS, tivemos a oportunidade de transformar essa revista num projeto de extensão e iniciamos um trabalho mais amplo”, observa Florence.

Hoje, a revista, em seu quinto número, tornou-se uma publicação eletrônica — a terceira revista de extensão eletrônica do Brasil, seguindo o exemplo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O programa, por sua vez, além das atividades que tem desenvolvido desde então, passou a contar com um encontro realizado anualmente em que acontecem debates, mesas-redondas e exposição de trabalhos dos estudantes bolsistas. Segundo a professora, em 2008, o evento, em seu terceiro ano, reuniu cerca de 250 participantes e recebeu 109 trabalhos na forma de pôsteres de alunos da UFRJ. “É gratificante ver as comunidades procurarem, mais uma vez, a universidade como parceira nos desafios sociais, ambientais e educacionais que enfrentam todos os dias. Nosso trabalho é colaborar com isso”, comemora Florence Brasil.