Um estudo inédito, realizado pela UFRJ, avalia os resultados de um tratamento fisioterápico chamado Reeducação Postural Global (RPG) em casos de fibrose epidural, uma conseqüência da cirurgia de hérnia de disco lombar que atinge 10% dos pacientes operados. A pesquisa foi desenvolvida por Érica Pacheco, fisioterapeuta e aluna da pós-graduação em Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina da UFRJ, e Flávio Freinkel, neurocirurgião e professor adjunto da universidade.
O que é a fibrose epidural
Freinkel define a fibrose epidural como uma cicatriz interna, que se forma em conseqüência da cirurgia de retirada da hérnia de disco lombar. “Em volta do nervo existem ligamentos e músculos, estruturas que são manipuladas, cortadas, afastadas para a retirada da hérnia. Após o ato cirúrgico, pode haver uma cicatrização exuberante nesta região. Quando essa cicatrização é anormal, causando incômodo, muita dor e limitando a mobilidade, temos um caso de fibrose”, explica o médico, lembrando que o problema pode ser diagnosticado através do exame de ressonância magnética.
Os sintomas da fibrose se manifestam da mesma maneira que uma hérnia de disco, porém são mais acentuados: contraturas musculares, dores, cãibras, enrijecimento muscular, dormência e formigamento. “Todos os sintomas estão relacionados aos nervos da região afetada”, disse o especialista.
Ainda não é possível prevenir o surgimento da fibrose, pois, segundo Flávio Freinkel, os pesquisadores ainda não sabem o porquê de, entre dois pacientes operados da mesma maneira e com a mesma técnica, um desenvolver fibrose epidural e o outro não. “Acredita-se que é uma tendência do organismo, do mesmo modo que, com qualquer ferimento na pele, algumas pessoas desenvolvem quelóides e em outras fica apenas uma linha”, afirma o professor, lembrando que essa tese não tem confirmação científica. Além disso, o aparecimento da fibrose independe de biotipo, cor, sexo ou doenças associadas.
O maior desafio de médicos e pesquisadores é que não existe ainda no mercado nenhum medicamento ou tratamento que cure a fibrose epidural. “Atualmente, como forma de tratamento, existe a fisioterapia comum, a fisioterapia clássica, acupuntura e uma série de medicamentos. Mas os resultados são muito limitados”, lamenta Freinkel. Essa dificuldade, inclusive, é o que motivou o desenvolvimento da pesquisa orientada pelo neurocirurgião. “Como pouca coisa se pode fazer a respeito da dor, nós tentamos uma alternativa, a Reeducação Postural Global, que é um método de fisioterapia”, esclarece.
RPG
A pesquisa empregando o tratamento da fibrose epidural através da Reeducação Postural Global (RPG) foi feita a partir de uma amostra com 18 pacientes submetidos à cirurgia de retirada da hérnia de disco, que apresentaram depois um quadro de fibrose. Os voluntários foram tratados com vários tipos de medicamentos e terapias, obtendo poucos resultados. Outros casos de fibrose epidural e a revisão de material de apoio também contribuíram para a composição do estudo.
Flávio Freinkel conta que a resposta dos pacientes ao tratamento foi diferente. “Dentre os voluntários, 56,25% obtiveram melhora da dor – não a cura”, destaca o pesquisador. Outros 37,5% apresentaram resultados regulares, enquanto 6,25% dos casos obtiveram mau resultado. “Os pacientes com bons resultados são aqueles que puderam retomar suas atividades diárias, sua vida normal, o trabalho etc. Já os pacientes com médio desempenho continuaram o tratamento, enquanto os que obtiveram um pior resultado continuaram com medicamento e outros tratamentos alternativos”, lista Freinkel.
No entanto, a RPG atua no sintoma e não na causa: o método não diminui a fibrose. “Através das técnicas de reeducação postural, o tratamento auxilia, baseado em técnicas de alongamento e específicas, no relaxamento da musculatura, melhorando a postura, o andar e diminuindo a dor”, explica o especialista.
A fibrose epidural, portanto, ainda é um campo de pesquisa aberto. “Não existe um tratamento específico, mas múltiplos tratamentos cujos resultados não são maravilhosos. O ideal seria encontrar alguma substância ou medicamento que, durante a cirurgia de hérnia de disco, pudesse inibir a tendência à fibrose”, acredita Freinkel.
– É importante salientar que sobre esse assunto não há nada de conclusivo na literatura nacional nem internacional que diga “toma este remédio que você vai ficar curado, que você vai ficar bom”. Então, acredito que este estudo vai abrir campo para outras pesquisas, nessa mesma linha – conclui o professor.