Acidentes domésticos podem acontecer com todos, independe da idade de cada um. Crianças e idosos, por passarem mais tempo no ambiente domético e por serem mais frágeis, apresentam uma maior suscetibilidade a este tipo de problema. Quando falamos dos mais novinhos, sempre surge a questão: que cuidados os pais devem ter para evitar acidentes domésticos em geral? Muitas vezes, descuidos aparentemente bobos podem gerar problemas graves.
- Os tipos de acidentes variam de acordo com a faixa etária da criança. De zero até um ano, na maioria das vezes, os problemas são causados por terceiros, especialmente os próprios pais. É muito comum uma criança ser queimada por cigarros, esbarrar em uma panela quente na cozinha ou, mesmo, sufocar-se com sacos plásticos. Em bebês, pode acontecer até mesmo um sufocamento na cama, caso ele durma no meio dos pais; o pai ou a mãe podem se mexer, rolar por cima da criança e impedir sua respiração”, explica Ana Lúcia Ferreira, professora adjunta do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFRJ.
Quando o bebê é um pouco maior e já começa a engatinhar, outros tipos de acidentes se tornam comuns, por exemplo, a introdução do dedo na tomada, ingestão de materiais tóxicos que estejam ao alcance das mãos, entre outros. “É muito freqüente, também, a criança puxar fios de aparelhos eletrônicos, em especial a televisão. Se ele já senta ou fica em pé, existe o risco de cair do berço ou passar pela grade”, enumera a professora.
O lugar mais propício para uma criança se envolver em acidentes domésticos é a cozinha. Ela pode puxar uma panela, mexer no gás ou em materiais de limpeza, encostar as mãos no forno quente, entre inúmeros outros perigos. “Em janeiro, tivemos aqui duas crianças internadas no CTI do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG-UFRJ), com pouco mais de um ano de idade, que beberam querosene e ácido clorídrico em casa. O primeiro, amarelo, estava em uma garrafa de guaraná, e o segundo, incolor, em uma embalagem de água. Para evitar estes problemas, recomendamos que os pais sempre guardem os materiais de limpeza nas embalagens originais, e longe do alcance das crianças”, alerta Ana Lúcia.
Os acidentes com venenos já não são muito freqüentes hoje em dia, pois a população está cada vez mais esclarecida. O que pode acontecer são envenenamentos por remédios, que as pessoas têm o hábito de guardar na mesinha de cabeceira, bem ao alcance das crianças. “Alguns medicamentos, hoje em dia, têm a aparência de bala. O Neosaldina é um deles. Aquela cápsula marrom e achatada lembra muito um confeito de chocolate. Se ingeridos em excesso, estas substâncias podem gerar sérios danos à saúde da criança”, afirma a professora. Outros medicamentos comuns são os vasoconstritores, para desobstruir as vias respiratórias. O uso indevido pode provocar baixa na pressão sanguínea, que, se não tratado rapidamente e de modo correto, pode até mesmo levar à morte.
Prevenção
De uma forma bem genérica, a orientação deve ser feita de acordo com a idade e, acima de tudo, o desenvolvimento da criança. Às vezes, um bebê de um ano já consegue andar, enquanto outro da mesma idade ainda não. O nível sócio-econômico da família e o ambiente em que a criança vive também contam muito. “Caso more no décimo andar, é importante colocar uma tela de proteção na janela. Para aquelas que vivem em áreas carentes e a família não tem condições de adquirir um bercinho, às vezes dormir no chão mesmo, em um colchonete cercado por travesseiros, é a maneira mais segura”, explica a professora.
- Para a criança que já consegue andar, somos enfáticos: cozinha, não! O maior número de acidentes domésticos acontece nesta parte do lar. As mães não devem, de forma alguma, colocar seus filhos pequenos para cozinhar. Às vezes sobem em cadeiras para alcançar o fogão e mexerem nas panelas. Um pequeno desequilíbrio pode gerar um acidente gravíssimo. Pode ser também que uma criança tente acender o fogão de qualquer forma, já que não possui conhecimento sobre os riscos. Caso elas risquem um fósforo dentro do forno, se o gás estiver aberto há muito tempo, vai provocar uma explosão -, continua.
Em relação ao restante da casa, todos os armários precisam ser trancados, sem a chave no local (para que a criança não manipule). Medicamentos e produtos de limpeza devem ser armazenados em um local fora do alcance das crianças, e não é bom colocar cadeiras ou sofás perto de janelas.
O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho possui um centro de informações toxicológicas, as pessoas podem telefonar para tirar dúvidas em caso de acidentes. O telefone é 2573-3244 ou pelo e-mail intox_rj@hucff.ufrj.br.