• Edição 175
  • 10 de junho de 2009

Notícias da Semana

Encontro Nacional de Farmácias Universitárias discute homeopatia



Beatriz da Cruz

De 8 a 10 de junho o Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ abrigou o II Encontro Nacional de Farmácias Universitárias, que teve como tema central “Farmácias-Escola: discutindo o hoje para a construção do amanhã”. O segundo dia do evento (09), que aconteceu no auditório Hélio Fraga, trouxe uma discussão sobre a farmácia homeopática intitulada "Matrizes Homeopáticas, Recursos em extinção".

Estiveram presentes no encontro o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Leandro Machado Rocha, representando a farmacopeia brasileira, a farmacêutica homeopata Maria Cristina Ferreira da Silva, da Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas, Carlos Ribeiro Rosestolato, da Câmera Técnica de Homeopatia, a farmacêutica Amarilys Toledo e a professora Teresa Cristina Leitão, da Universidade Estácio de Sá.

O primeiro palestrante, Leandro Rocha, iniciou o seu discurso falando um pouco sobre a criação da homeopatia pelo médico alemão Christian Hahnemann, já que este é um tipo de medicina não tradicional e por isso menos conhecido. Mas, segundo ele, o interesse na área vem crescendo na medicina e se expandindo para outras áreas, como, por exemplo, a veterinária e a agronomia. As vantagens da alternativa vão desde a ecológica e a econômica até a menor toxicidade para o corpo.

— É uma área de crescimento e a chance de abertura de concursos públicos para homeopatas é grande. Agora, essa coisa de dizer que não funciona, que é só água, está acabando — diz Leandro.

Os medicamentos homeopáticos contam com insumos ativos de origem animal, vegetal ou mineral. "São 70% de origem vegetal, talvez por isso exista certa confusão com a fitoterapia. Entretanto, existem diferenças, pois as duas possuem manuais de preparo distintos", esclarece o palestrante.

Ele conta que a farmacotécnica (manipulação dos princípios ativos) homeopática foi criada também por Hahnemann e aponta que o desafio hoje é em relação ao controle de qualidade que ainda precisa ser melhorado. No Brasil, a primeira farmacotécnica foi a de 1976.

Segundo Leandro, as etapas para obtenção de matrizes vegetais são: o cultivo, a colheita, a secagem, o armazenamento, a moagem e a extração. O professor listou também os fatores que influenciam a qualidade do medicamento, que depende de material; métodos; maquinaria e instalações; mão de obra e meio ambiente. O evento contou ainda com outras palestras no próprio dia e se encerrou na quarta-feira (dia 10).




Quando se deve divulgar uma descoberta científica?

Cília Monteiro

O Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ promoveu a discussão do tema “Quando é legítimo uma descoberta científica ser divulgada publicamente?”, na última sexta-feira (5/6). A mesa-redonda reuniu cientistas e jornalistas para debater a polêmica.

Segundo Herton Escobar, jornalista de O Estado de São Paulo, a concorrência é um fator de extrema relevância. “Às vezes, há uma pressão para divulgar logo devido à disputa da mídia, para que não se perca o furo jornalístico. Se o concorrente publicar primeiro, o material deixa de ser inédito e se perde a notícia”, constata.

Ideu Moreira, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), acredita que a princípio sempre é legítimo divulgar uma descoberta científica. No entanto, a publicação envolve aspectos como quem decide se deve ser divulgada e como isso será feito. “Existem questões éticas importantes na decisão, que afetam diretamente o cientista”, aponta.

— Também é preciso considerar como a população enxerga a divulgação, saber o que pensa do cientista — acrescenta Ideu. Ele expôs dados de uma pesquisa realizada há cerca de dois anos, que revelaram grande interesse dos brasileiros por ciência e tecnologia. Em contrapartida, foi apontado que a mídia oferece pouco espaço para a informação científica.

— É relevante também de onde vem a informação. A população acredita muito nos médicos e nos jornalistas. O Brasil é um dos países onde o jornalista tem mais credibilidade. Portanto, tomem cuidado para mantê-la — brincou Ideu, provocando os jornalistas da plateia.

Motivos para publicar

Segundo Ideu, a maior repercussão da ciência entre a população está na melhoria da saúde e da qualidade de vida. “A maioria das pessoas é capaz de entender o conhecimento científico se ele for divulgado de maneira razoável. Esse é um fator importante, que valoriza o trabalho da divulgação no Brasil”, destaca. Ele acrescentou que 88% dos brasileiros consideram necessário expor os riscos e resultados do desenvolvimento científico.

Na opinião de Ideu, os cientistas brasileiros não são suficientemente conhecidos. Ele enxerga nisso mais um motivo para a necessidade de divulgar a ciência. Por fim, citou Albert Einstein, que defendia a divulgação, desde que o encarregado tenha qualificação, seja ele cientista ou jornalista.

Ideu Moreira concluiu lembrando uma frase de Einstein, dita em 1924: “Somente quando a ciência cumpre a importante missão de divulgar os grandes problemas científicos também no conjunto da sociedade é que ela adquire, do ponto de vista social, o direito de existir.”

Utilidade ou interesse

De acordo com Ana Lucia Azevedo, jornalista de O Globo, a divulgação científica pode ter impacto sobre a sociedade ao tratar de temas úteis às pessoas. Ou então simplesmente desperta a curiosidade do leitor quando aborda assuntos interessantes. “Se for de utilidade, normalmente engloba matérias de saúde, clima e Engenharia. Na categoria ‘interessante’, entraria Astronomia e Arqueologia, por exemplo”, aponta.

Segundo Ana Lucia, saúde é o assunto que gera maior interesse entre os leitores. “Determinados temas como alguns da área da Física, por exemplo, se tornam impublicáveis, por serem muito distantes do dia a dia da vida das pessoas”, revela. A jornalista ressaltou que, entre os jovens, a editoria de ciência só perde para a de esporte. “As pessoas têm uma sede de saber imensa. Não damos mais espaço para a ciência porque realmente não o temos no jornal”, conclui Ana Lucia Azevedo.

Parceria importante

Suzana Herculano-Houzel, neurocientista e professora do ICB, discutiu sobre como escolher um assunto na área da ciência para ser divulgado. “O cientista também pode ajudar no fazer jornalístico, dando sua opinião.

Só que, ao contrário do jornalista, não temos a pressão da notícia”, aponta.

Em pesquisa realizada há dez anos, ela descobriu que o público tinha maior interesse em assuntos da ciência ligados ao cotidiano. “Não são necessariamente importantes, mas interessantes. Temas como a potência do cérebro ou por que não é possível fazer cócegas em si mesmo. É gratificante para nós, cientistas, sabermos que o público tem esse interesse, mesmo quando nossa pesquisa não possui aplicação prática direta”, relata.

— A interação entre jornalista e cientista é muito gratificante. É legal, como cientistas, termos a oportunidade de evitar erros comuns. É um aprendizado para os dois lados — observa a neurocientista. Ela ainda destacou a importância de o cientista saber falar sobre seu assunto de maneira útil e compreensível ao jornalista. “Considero um investimento conversar com jornalistas. Eles deveriam ser vistos como parceiros da ciência”, conclui Suzana Herculano-Houzel.