• Edição 200
  • 03 de dezembro de 2009

Por uma boa causa

Câncer de mama: quando e como detectá-lo?

Cília Monteiro

O tipo de câncer mais comum entre as mulheres é o de mama: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, por ano, ocorram mais de 1 milhão e 50 mil novos casos da doença no mundo todo. Só no Brasil, são cerca de 50 mil, com 11 mil óbitos anuais por câncer de mama. O diagnóstico precoce é a medida mais eficaz para a redução desse número de mortes, pois, quando identificada no início, a doença pode ter cura. E a melhor maneira para detectar o tumor é através da mamografia ou do exame clínico das mamas. Este é o tema do Por uma boa causa, que neste mês aborda exames preventivos contra diferentes tipos de câncer.

A mamografia é a radiografia das mamas, realizada com baixa dose de raios x, com a tecnologia do mamógrafo. Pode ser utilizada tanto para prevenção quanto para diagnóstico do câncer de mama em caso de suspeita. É um procedimento simples, que não causa dor, apesar de algumas mulheres se queixarem de desconforto quando a mama é comprimida durante o exame. Já o exame clínico das mamas é realizado por médico ou enfermeiro treinado e pode detectar tumor de até um centímetro, se superficial. Deve ser feito uma vez ao ano em mulheres entre 40 e 49 anos, segundo recomendação do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Polêmica

A Força-Tarefa de Serviço Preventivo dos Estados Unidos recentemente anunciou que o rastreamento do câncer de mama deve começar após os 50 anos, e que a mamografia deve ser realizada a cada dois anos. A declaração causou polêmica no Brasil, visto que grande parte dos médicos e a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) discordam e defendem o rastreamento do câncer de mama por mamografia, anualmente, a partir dos 40 anos. E a lei brasileira concede direito ao exame a partir dessa idade. No entanto, na cartilha do INCA, a recomendação é igual à da Força-Tarefa americana. Em 2007, segundo dados do próprio INCA, a doença tirou a vida de 2.741 mulheres com idade entre 50 e 59 anos no Brasil, número não muito maior do que as mortes ocorridas na faixa dos 40 a 49 anos: 2.051.

“Na realidade, do ponto de vista individual, são inequívocas as vantagens do início do rastreamento do câncer de mama após os 40 anos de idade. Entretanto, devemos considerar que as mulheres precisam conhecer que o início do rastreamento nesta idade pode também trazer alguns danos, em função da ansiedade causada pelos falso-positivos”, aponta Afrânio Coelho de Oliveira, coordenador da Unidade de Diagnóstico Mamário do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ. Para o esclarecimento de diagnósticos, são realizados exames complementares e até mesmo biópsias mamárias.

Para Afrânio, as novas orientações americanas causaram confusão, divisão, indignação e discussões. “Mesmo nos Estados Unidos cabe uma reflexão acerca de exagero de propedêutica, baixa qualidade de exames, exames inconclusivos, incorporações tecnológicas acríticas e uma grande parcela de população excluída”, avalia. Ele acredita que a análise que levou à declaração do órgão americano utilizou dados da mamografia convencional, quando atualmente a maioria das clínicas de boa qualidade usa radiologia digital.

“Também devemos concordar que, em função da menor prevalência da doença na faixa etária dos 40, a mamografia convencional é menos eficiente na detecção precoce. Entretanto, seria impossível renunciar aos enormes benefícios do tratamento pela cirurgia mínima na mama e pela axilar, que proporcionamos às pacientes quando se detecta o câncer em sua fase subclínica. Mas hoje só conseguimos isso através da mamografia de qualidade”, argumenta Afrânio.

Autoexame

Ainda há uma discussão entre os órgãos de saúde quanto à indicação do autoexame das mamas. “Não há evidências médicas de que o autoexame da mama como política de saúde pública tenha algum impacto. Mas é claro que pode ser de grande valia do ponto de vista individual, diante da descoberta incidental de um nódulo de mama”, constata o mastologista.

“O que se discute é se devemos continuar estimulando mulheres a realizar o autoexame, transferindo a elas uma política de Estado e desconsiderando inúmeras situações na atenção à saúde feminina”, aponta. Diante de tantas polêmicas relacionadas ao câncer de mama, Afrânio acredita que a SBM não deva mudar ou rever suas diretrizes. “A SBM deve cada vez mais estimular e dar suporte a organizações governamentais e sociais para o desenho de políticas públicas destinadas às mulheres, com o foco na detecção precoce do câncer de mama”, conclui.