Um recente estudo feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) trouxe preocupação aos consumidores de produtos agrícolas. Após analisar 17 culturas, dentre elas frutas, verduras e legumes, verificou-se que 15,29%, de um total de 1.173 amostras, apresentavam irregularidades quanto aos resíduos de agrotóxicos. Entre os alimentos com maiores taxas de resíduos estão o pimentão, com 64% das amostras contaminadas, e o morango, com irregularidades superiores a 30%.
De acordo com Irene Garay, professora do Laboratório Gestão da Biodiversidade e vice-diretora do Instituto de Biologia, os problemas causados pelos agentes químicos nesses alimentos vão desde alergias cutâneas e respiratórias até a produção de certos tipos de câncer. “Mesmo os agrotóxicos autorizados podem às vezes ser utilizados em excesso ou não ser controlados, de maneira tal que apesar de estar autorizada uma quantidade X, na realidade utiliza-se o dobro ou o triplo da quantidade”, alerta Irene. E ainda que a utilização seja feita dentro da regulamentação, há sempre a possibilidade de que descobertas futuras indiquem algum malefício causado mesmo com pequenas quantidades da química. Por isso a especialista recomenda evitar o consumo de resíduos mesmo dentro do limite legal.
— As medidas a serem tomadas no sentido de amenizar os efeitos são lavar muito bem todos os legumes e frutas, para pelo menos eliminar o que é superficial. Isso é uma coisa imediata, mas que muitas vezes as pessoas não fazem e que ainda assim nem sempre é suficiente para eliminar a química completamente. Quando se prepara, por exemplo, mamão para exportação, ele é banhado em fungicidas que entram pelos poros da fruta contaminando o seu interior — diz Garay.
A professora lembra também que o consumidor das frutas e legumes não é o único afetado. “Em um país como o Brasil, o dano direto local talvez seja tão importante quanto o dano ocasionado ao consumidor das cidades. O agrotóxico afeta também o trabalhador que está no campo, já que muitas vezes as condições de segurança não são totalmente respeitadas ou são insuficientes”, alerta.
Segundo ela, a química utilizada para evitar que frutas e legumes sofram com pragas e ervas daninhas contamina os lençóis freáticos e, consequentemente, toda a rede hídrica subterrânea. Por muitos deles não serem biodegradáveis, os agrotóxicos permanecem no solo durante um período prolongado.
No caso das frutas é recomendável também não ingerir a casca, local onde se acumulam muitos agrotóxicos. No entanto, isso provoca um desperdício já que muitas das vitaminas das frutas estão contidas ali. Se ela está impregnada de agrotóxicos, uma parte importante do poder nutritivo desse alimento acaba sendo eliminada, segundo a especialista.
De acordo com Irene, uma das alternativas aos agrotóxicos pode ser a manipulação genética para a criação de transgênicos, mas com a ressalva de que essa técnica seja utilizada com cuidado porque as consequências ainda não são bem estudadas. O cultivo orgânico aliado a uma estrutura social diferente é outra opção, já que frutas de época e alimentos cultivados em regiões próximas ao local do consumo levam menos química, pois não necessitam de conservantes e fungicidas. Dessa maneira se come de forma mais saudável. Uma barreira, entretanto, para a implementação do sistema orgânico é o fator econômico. “Como implantar uma mudança que seja rentável do ponto de vista econômico, para que as pessoas possam adquirir esses produtos, é um problema essencial”, conclui a vice-diretora.