Frutos de uma árvore de carambola nasciam pequenos e defeituosos na área externa ao Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ. Motivo: ela estava em frente ao exaustor de um laboratório do prédio, o que constata que as substâncias lançadas pelo equipamento no ar são agressivas ao meio ambiente.
Nos corredores do CCS, as condições também não eram muito boas. Foram encontradas três mil unidades formadoras de colônias por metro cúbico, quando o aceitável são 750 unidades. Essas são algumas situações de riscos encontradas na universidade. No entanto, a existência de outras é comum dentro dos laboratórios de pesquisa, podendo levar a acidentes de biossegurança e comprometer a saúde dos que trabalham neles.
Tomaz Langenbach, coordenador do Programa de Pesquisa e Governança de Risco, propôs a criação de um selo de biossegurança atestado pelas agências de fomento à pesquisa. Os órgãos somente liberariam financiamentos aos laboratórios que comprovassem ter medidas de segurança compatíveis com o risco de sua pesquisa científica.
Graus de periculosidade
Segundo Langenbach, também chefe do Laboratório de Toxicologia da UFRJ, os riscos que podem ser oferecidos variam de acordo com o grau de periculosidade dos laboratórios. Eles são classificados como de alto, médio ou baixo risco.
A diferenciação da periculosidade é feita através dos materiais utilizados nas pesquisas. “A nossa preocupação são os laboratórios de médio e alto riscos. Aqueles em que são trabalhados materiais radioativos, patogênicos, teratogênicos e produtos químicos agressivos são os de maior risco e mais propícios a causarem acidentes”, informa o professor.
O selo de biossegurança seria desenvolvido para suprir o déficit de vigilância desses laboratórios. “A ideia do selo é atestar a qualidade desses locais”, constata. De acordo com ele, quando os devidos cuidados são tomados, o risco não é zerado, mas a possibilidade de ocorrer diminui.
Segurança como prioridade
— Queremos implementar melhores condições de biossegurança nos laboratórios de pesquisa. Há instituições que tratam dessa questão de forma razoavelmente competente, enquanto outras não o fazem. Porém, não por falta de competência, e sim por não entenderem essa questão como prioridade — observa Tomaz. Ele considera mais responsáveis as instituições que, em determinados casos, fecham laboratórios por não seguirem os padrões de segurança.
Langenbach acredita que o indivíduo deve ter consciência do nível de risco do laboratório em que trabalha. Para isso, precisa de um número mínimo de equipamentos (fluxo laminar, capela, autocalve, entre outros) e instrução sobre biossegurança. “Acidentes acontecem, mas duas coisas podem ser feitas: a primeira é diminuir a possibilidade de eles acontecerem; a segunda é ter meios para combater os que acontecem”, indica o pesquisador.
Ele informou que não há registros de acidentes nos laboratórios do CCS da UFRJ, embora eles aconteçam. Em sua opinião, se os profissionais dos laboratórios de maior risco fossem submetidos à avaliação médica do trabalho, seriam diagnosticados vários casos de acidentes de biossegurança.
— O objetivo não é só criar o selo de biossegurança, mas levantar a discussão sobre esta questão, que é muito importante — expõe Langenbach.