Em 2008, foi divulgada pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde Ambiental e de Segurança (Department of Environmental Health and Safety) na Universidade de Minnesota, EUA, segundo a qual a respiração obstruída e a postura da cabeça podem gerar alterações ortopédicas faciais. O estudo foi feito em pacientes com respiração normal e em seguida com os narizes obstruídos, forçando-os a respirar pela boca. A partir da comparação de radiografias tiradas em ambos os casos foram observadas alterações no posicionamento da mandíbula provocadas pela respiração bucal.
A professora Mônica Tirre de Souza Araújo, chefe do Departamento de Odontopediatria e Ortodontia da Faculdade de Odontologia da UFRJ, explica que “a execução errada do processo respiratório leva o indivíduo a posicionar a boca e a língua de maneira errônea, o que desequilibra todo o complexo facial e leva às alterações, assim como o posicionamento da cabeça mais para frente ou para trás influencia na abertura da boca e pode levar ao hábito da respiração bucal”.
Em situações normais, a língua ocupa uma determinada posição em relação ao palato (céu da boca), alterada quando o indivíduo não respira pelo nariz. Com o desequilíbrio da língua, a musculatura facial pressiona a arcada dentária e inicia uma cadeia de reações. De acordo com a professora, o estreitamento da arcada reduz o espaço da língua, o que altera sua posição e leva a um novo pressionamento. “A má respiração, no entanto, não é único fator que pode levar a essas conseqüências. Pacientes com amigdalite de repetição têm dificuldades para engolir e durante o processo de deglutição acabam projetando a língua e a posicionam de maneira errada. A sucção digital (dedo na boca) também pode gerar as modificações ao pressionar o palato.”
A respiração bucal pode ser provocada por processos como rinite alérgica, desvio de septo (estrutura responsável por dividir o nariz em duas narinas), problemas de adenóide (formação que cerca as cavidades nasais e bucais para a garganta) ou má postura da coluna. Além das alterações faciais, pode levar à redução do rendimento físico e escolar dos indivíduos (por dormirem mal), impaciência, ansiedade, irritabilidade, depressão, cansaço, alteração da fala, entre outras conseqüências.
As alterações ortopédicas ocorrem nos âmbitos estético e funcional. Embora o primeiro possa ser resolvido com o uso de aparelho ortodôntico ou cirurgia, o tratamento para esses casos envolve a busca pela causa. De acordo com Mônica Araújo, o maior desvio funcional é a má respiração. Além dos aspectos ortodônticos, aquele que não respira corretamente não passa pelo processo de aquecimento e filtragem do ar realizado nas vias nasais e pode desenvolver gengivite provocada pelo ressecamento oriundo da abertura constante da boca.
– Uma conseqüência comum do desequilíbrio da arcada é o que chamamos de mordida cruzada. O normal é que a arcada superior venha por fora da arcada inferior. Quando você tem mordida cruzada, a arcada superior fica por dentro. Durante o tratamento, descruzamos a arcada e buscamos a causa para trabalhar associado. Quando há necessidade encaminhamos para outros especialistas – informou a professora.
O respirador bucal pode apresentar olhar cansado; cabeça mal posicionada em relação ao pescoço, trazendo alterações para a coluna; ombros caídos para a frente, comprimindo o tórax; mastigação ineficiente, levando a problemas digestivos; engasgos pela não-coordenação da respiração com a mastigação, entre outras características.
Em crianças o problema pode ser ainda mais grave, principalmente durante o sono, que dura cerca de 10 a 12 horas, período em que a não-execução de outras atividades além de respirar e engolir pode, quando executadas de maneira errada, tornar mais intenso o problema. O desequilíbrio facial provocado pela respiração errada pode prejudicar todo o desenvolvimento da criança.
Segundo informou a professora, a melhor medida preventiva é a observação. Se forem detectados distúrbios respiratórios, o indivíduo deve procurar um médico antes que as alterações faciais possam ocorrer. Não há um período fixo de má respiração que leve aos problemas ortopédicos. As conseqüências dependem da freqüência do hábito, da duração e da intensidade, além do tipo facial de cada um. “O importante é que seja tratado no início. Sempre, quando se busca logo a cura, mais fácil é para obtê-la e menos distúrbios sofre o indivíduo”, declarou Mônica Araújo.