A mestranda Camila Marra de Almeida, do curso de pós-graduação em Ciências Biológicas do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, apresenta sua dissertação “Citocinas e a sobrevida de células ganglionares da retina de rato in vitro e in vivo”, dia 23 de março, às 14h, na sala G1-009 do Centro de Ciências da Saúde (CCS).
Orientado por Alfred Sholl Franco, o trabalho descreve o papel neurotrófico das moléculas Interleucina-2 (IL-2) e Interleucina-4 (IL-4) em células ganglionares da retina (RGC) de ratos após dois e cinco dias in vitro (DIV). Essas moléculas são citocinas, que, apesar de conhecidas pelas suas funções no sistema imune, apresentam ações pleiotróficas no sistema nervoso. A experiência mostrou que a IL-4 (5 U/mL) bloqueou a morte das RGC axotomizadas (2 DIV, 90,03 ± 6,43; 5 DIV, 80,83 ± 8,32) e seu efeito foi totalmente dependente da ativação de tirosinas cinase e da janus cinase (JAK), da liberação de fatores tróficos, da presença do fator de crescimento derivado do cérebro (BDNF) endógeno e da ativação de receptores Trk.
Também se verificou que as vias de sinalização mediadas por proteínas tirosina cinases reguladas por estímulos externos (ERK) 1/2, fosfatidilinositol 3 cinase (PI3K) e proteína cinase dependente de cAMP (PKA) também estão parcialmente envolvidas neste efeito. Camila percebeu ainda que a IL-4 aumentou a expressão de BDNF em células de Müller in vitro e que a neuroproteção mediada pela IL-2 (50 U/mL; 2 DIV, 85,43 ± 5,43; 5 DIV, 50,23 ± 5,32)envolveu a ativação de tirosinas cinase, JAK e ERK1/2. Já o tratamento com a IL-2 aumentou a expressão de heparan sulfato em todas as camadas da retina, sendo o efeito neuroprotetor da IL-2 completamente dependente da presença inicial desse glicosaminoglicano.
Utilizando o método de esmagamento do nervo óptico (ONC), a aluna demonstrou que a administração intravítrea de IL-2 (2.500 U/µL) também aumentou, em 50%, o número de células na camada de células ganglionares da retina após cinco dias de lesão. Deste modo, Camila concluiu que a IL-4 in vitro aumenta a sobrevida de RGC de forma indireta, através da liberação de fatores tróficos, enquanto a IL-2 provavelmente exerce sua ação de maneira direta.
Nesta sexta-feira, dia 20 de março, a doutoranda Sheila Albert dos Reis, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), defende sua tese “Mecanismos relacionados ao disparo de apoptose durante a infecção pelos vírus Cantagalo e Vaccinia-IOC e estudo dos genes virais envolvidos no processo”. A defesa acontece às 13h, na sala G1-022, bloco G, do Centro de Ciências da Saúde (CCS), na Cidade Universitária. A professora Clarissa Rosa de Almeida Damaso foi responsável pela orientação da tese.
De acordo com Sheila, o trabalho teve como objetivo analisar o processo de apoptose (tipo de morte celular) induzido durante a infecção pelos vírus Cantagalo (CTGV) e Vaccinia cepa IOC (VACV-IOC). Ela observou que esses vírus induzem o disparo de apoptose durante a infecção em diversos tipos celulares. Também detectou a clivagem de caspase-3, PARP e lamina-A e fragmentação de DNA, assim como o envolvimento da via mitocondrial, monitorada pela liberação de citocromo-c, clivagem de caspase-9, indução da perda de potencial mitocondrial e ativação de Bax.
Ainda notou-se que VACV-IOC induz apoptose mais precocemente que CTGV, porém ambos têm efeito equivalente com 24 horas pós-infecção. A tese da doutoranda demonstra que os genes virais relacionados à inibição do processo apoptótico A46R, A52R, C7L, E3L, K3L e N1L não apresentavam alterações de seqüência ou de expressão de mRNA, tanto em CTGV quanto em VACV-IOC. Em contrapartida, Sheila observou alteração dos genes F1L e M2L, somados ao gene B13R, analisado anteriormente.
Segundo a aluna de doutorado, a análise de CTGV e VACV-IOC recombinantes expressando crmA, ortólogo de B13R, demonstrou que esses vírus expressam CrmA funcional. Entretanto, pouca ou nenhuma alteração da indução de apoptose pela infecção por tais recombinantes foi observada em relação aos vírus selvagens. Em VACV-IOC, o gene F1L, relacionado à inibição da via mitocondrial, apresenta uma deleção que altera o quadro de leitura e leva à geração de uma proteína truncada e não funcional.
Embora em CTGV modificações de resíduos em F1L tenham sido observadas, o acúmulo de F1L reduz precocemente durante a infecção em relação à VACV-WR. CTGV e VACV-IOC recombinantes, expressando F1L, apresentaram diferentes fenótipos, ainda que a proteína expressa por ambos tenha se mostrado capaz de inibir a via mitocondrial.
Sheila explicou que em VACV-IOC a expressão de F1L levou à alteração da cinética de indução de apoptose, porém não foi capaz de inibir completamente esse processo. Em CTGV, a expressão de F1L mostrou-se tóxica, induzindo apoptose em tempos mais iniciais que o observado para o vírus selvagem. O gene M2L, relacionado ao bloqueio da ativação de NFkB, não é expresso por VACV-IOC.
Neste caso, a doutoranda observou ativação e translocação de NFkB para o núcleo, como demonstrado por EMSA e western blot, sendo o mesmo observado para a infecção por CTGV. “Nossos resultados sugerem que novos genes virais ainda não caracterizados, relacionados à inibição de apoptose, devem existir, e provavelmente estão relacionados ao fenótipo observado para a infecção VACV-IOC e CTGV em células BSC-40”, conclui Sheila dos Reis.