Diagnosticado como conhecemos hoje a partir de estudos do médico austríaco Hans Selye na década de 1930, o estresse é uma reação natural do organismo. Porém, com o atual estilo de vida, no qual o homem é submetido a inúmeras demandas – como a extrema competitividade e o excesso de informações –, o estresse se tornou um problema crônico da sociedade contemporânea. A série Por uma boa causa de maio busca esclarecer alguns aspectos deste que é considerado o mal do século XXI.
Inerente à natureza humana, o estresse é uma reação do organismo quando este se depara com alguma situação de tensão, provocando sintomas físicos e psicológicos. Desta forma, ocorrem reações psicofisiológicas que alteram o seu estado de modo a prepará-lo para enfrentar os estressores, seus desafios cotidianos.
Essas mudanças sofridas pelo corpo humano no processo de estresse são divididas em quatro fases: alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão. Segundo Lucia Novaes, professora-adjunta do Instituto de Psicologia da UFRJ e presidente da Associação Brasileira de Stress, “dependendo da fase os sintomas vão mudando ou se acentuando”.
– A fase do alerta, a primeira, é uma fase produtiva, chamada “eustress”. É uma fase na qual a pessoa se depara com o estímulo, interpretado por ela como estressor, e o organismo se prepara para enfrentá-lo. Nesse momento, pode ocorrer taquicardia, diarreia passageira, picos de hipertensão, hiperatividade, hiperventilação, dentre outros. Com essas alterações a pessoa fica mais preparada para lutar ou fugir do estressor. Após essa fase, a pessoa pode voltar ao seu equilíbrio – declarou Novaes.
Durante o processo, caso a pessoa não se reequilibre, o estresse se acentua, transitando do alerta até a exaustão. Ao ultrapassar a primeira fase, já se constata um quadro de desgaste que pode vir acompanhado de demais complicações.
– Na fase de resistência a pessoa experimenta cansaço, dificuldade com a memória, diminuição da libido e irritabilidade. Na terceira fase, chamada de quase-exaustão, o organismo fica mais debilitado, os sintomas da segunda fase se acentuam e a pessoa pode começar a apresentar doenças para as quais seja predisposta. Na quarta fase, exaustão, o desgaste é muito grande. A pessoa pode ficar deprimida, ter doenças físicas como hipertensão, gastrite e úlcera. Tem grande mau humor, irritabilidade, angústia e ansiedade diariamente, dentre outros – esclareceu a professora.
O estresse infantil
Hoje, é comum observar que o estresse também atinge as crianças e, possivelmente, cada vez mais cedo. No entanto, há dificuldade para tal constatação, pois o estresse infantil só foi valorizado recentemente. Segundo Lucia Novaes, “a criança estressada era vista como ‘birrenta’, preguiçosa, recebendo rótulos extremamente prejudiciais e que só agravavam o problema. Acredita-se que desde a infância a pessoa já esteja sobrecarregada com excesso de demandas que podem contribuir para o estresse excessivo”.
Causas e prevenção
Fontes externas e internas influenciam no processo de estresse. A personalidade pode contribuir para o seu fomento. Fatores como o excesso de demandas, perdas afetivas e materiais, ambiente familiar conturbado são, geralmente, os principais motivos que dão início ao quadro avançado de estresse.
– Muitas vezes a pessoa sozinha consegue se recuperar do estresse excessivo, pois pode possuir estratégias para lidar com ele. No entanto, algumas pessoas não têm estratégias positivas para o combate ao estresse. Utilizam estratégias negativas, tais como o cigarro, a bebida alcoólica e outras drogas. Hábitos que só pioram o quadro. Quando a pessoa não consegue sozinha sair de um quadro de estresse excessivo, precisa buscar ajuda psicológica especializada e, às vezes, médica (quando já há doenças estabelecidas) – alertou Lucia Novaes.
Portanto, para controlar o nível de estresse deve-se atentar para o estilo de vida, alimentação balanceada e horas de sono. A prática regular de atividade física é indicada como ótimo fator de prevenção. A professora Lucia Novaes ainda indica outros métodos:
– Utilizar técnicas de relaxamento e respiração profunda de forma regular e, principalmente, observar suas características de personalidade e de que modo elas estão contribuindo na produção do estresse. Buscar olhar o lado positivo dos eventos e prestar atenção se está “catastrofizando” frente a eventos futuros. Separar a vida profissional da pessoal, reconhecendo seus limites. Não deixar de lado áreas importantes da sua vida, como a social, cultural, afetiva e a saúde.