A falta de material radioativo para a realização de exames está prejudicando atividades da medicina nuclear em todo o país. Um problema no reator da empresa canadense Nordion, que fornece a substância ao Brasil, reduziu a quantidade do material a praticamente um terço do normal. O material em falta chama-se molibdênio e é utilizado em procedimentos de diagnóstico chamados cintilografias.
Segundo o doutor Marcos Pellini, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ e chefe do serviço de Medicina Nuclear do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), a perspectiva é de que essa situação perdure ainda por alguns meses. “Eles tiveram um problema sério no reator deles, que foi um vazamento, e para consertá-lo têm que parar, o que leva tempo e consome dinheiro”, aponta o médico.
A crise começou em maio e desde então o fornecimento foi aos poucos diminuindo. Para tentar contornar o problema o Brasil está importando molibdênio da Argentina, mas a quantidade não é suficiente para atender a demanda nacional. Para Pellini a solução mais adequada seria a autossuficiência nacional na produção do material. “A Argentina já está vendendo para nós o máximo que pode, pois tem que suprir seu mercado doméstico também. A melhor solução seria o governo liberar verba para construirmos o nosso reator. Um reator multiuso que possa fabricar material radioativo não só para a medicina, mas também para a indústria. Assim, pararíamos de ser dependentes e não precisaríamos importar mais. Essa é a solução”, acredita.
Ele ressalta ainda que a compra de outros países é uma solução paliativa e que está restrita às possibilidades deles de venderem excedentes.
Consequências
O exame denominado cintilografia detecta várias doenças, podendo ser do miocárdio, óssea, renal, entre outras. Do molibdênio, é extraída uma substância chamada tecnécio, que ao ser misturada a um fármaco (que varia de acordo com a área) se fixa no órgão a ser estudado.
“Os pacientes mais afetados com isso, na minha opinião, são os que precisam de diagnóstico de câncer de mama ou próstata, os dois tipos mais comuns. Eles precisam fazer cintilografia óssea e isso requer tecnécio”, avalia o médico. A maioria desses pacientes é tratada com uma substância chamada iodo 131, fabricado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, e no Instituto de Engenharia Nuclear da UFRJ. Esse material não está em falta; portanto, o tratamento está normal. O que está sendo prejudicado é o diagnóstico.
De acordo com o especialista, o exame não está impossibilitado, mas há uma limitação. “O que estamos fazendo é o seguinte: a quantidade de material que chegou a nós é um terço da normal, então estamos trabalhando com doses menores”, justifica Marcos.
Essa menor dose é compensada no tempo de realização da imagem, que é mais longo, e com isso o hospital consegue atender toda a demanda de pacientes. “É claro que não estamos trabalhando como gostaríamos, mas os pacientes estão sendo atendidos, principalmente os pacientes de câncer, que não podem ter nenhuma limitação”, conclui o professor.